terça-feira, 7 de dezembro de 2010

As marafonas

Tradicionalmente produzidas em terras beirãs, as marafonas constituem uma parte do imaginário cultural popular português raiano, sendo hoje um objecto bastante apreciado pelos muitos turistas que nos visitam. Contudo, na sua origem, a sua finalidade residia em algo mais do que um mero objecto decorativo.
Construídas sobre um corpo de madeira cru em forma de cruz, estas bonecas são, ainda hoje, feitas à base de pedaços de pano e tecidos coloridos, contrastando com os trajes, predominantemente negros, usados tradicionalmente naquela zona de Portugal.
Inicialmente, as marafonas eram usadas como uma espécie de amuleto, um totem destinado a proteger os jovens casais do mau olhado, acreditando-se de igual modo nas particularidades mágicas destas curiosas bonecas, associadas à fertilidade e fecundidade. Colocadas no leito dos casais na noite de núpcias, as marafonas não possuem nem olhos para ver, nem boca para falar, deste modo, os segredos amorosos de quem protegem ficam para sempre a salvo. Neste ponto, podemos ainda remeter as marafonas para uma analogia com a tradição das Maias e dos Maios.
A sua origem perde-se na infinita profundidade da espiral dos tempos, sendo apontadas várias origens etimológicas para o seu nome. A mais famosa recai sobre a origem árabe do nome, derivado da palavra mara haina, ou seja, mulher enganadora. Não obstante, há também quem associe este nome à palavra mãe, partindo do latim matre ou do celtibero matrubos. A segunda parte do vocábulo, fona, sinónimo de faúlha, é apontado como sendo um vocábulo com origem no germânico fon, fogo. Ligando estas três perspectivas sobre a possível génese da palavra marafona, encontramos sem grande dificuldade, uma clara alusão a uma reminiscência ancestral pré-cristã, patente no carácter protector de uma suposta deusa Mãe, representada pela figura da boneca, aliada à metáfora do fogo como sinónimo de amor e paixão.
Apesar da tradição das marafonas ser essencialmente beirã, muito ligada à histórica aldeia de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, podemos encontrar variações deste traço folclórico português um pouco mais a Norte, ligado às Festas de Inverno de Trás-os-Montes, bem como a Sul, no Alentejo, onde são igualmente conhecidas por matrafonas. 

Como a lealdade, sem olhos para ver, nem boca para contar.

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