sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Portugal Universal de Orlando Ribeiro

«Os Descobrimentos históricos e marítimos, o desvendamento do mundo visível e o descentramento português para o Oriente e o mundo têm sido assumidos por autores fundamentais da cultura portuguesa não tanto pelo que neles positiva e mais imediatamente se cumpre, seja a expansão da Fé e do Império, seja o encontro de culturas e o conhecimento empírico do planeta, mas antes como figura simbólica ou antecipação profética de uma outra e mais decisiva Descoberta a fazer, na qual superiormente se consumaria, já na transição da história para a meta-história, a potencialidade, a vocação ou o destino maior da nação, transcendente do "drama da globalização" a que deu início na inauguração do mundo moderno.»
Paulo Borges em Uma Visão Armilar do Mundo.

Falar de Orlando Ribeiro, é muito mais do que falar de um simples geógrafo ou homem das ciências. Falar de Orlando Ribeiro, é falar daquele que provavelmente foi o maior geógrafo português de todos os tempos, um homem com uma história de vida fascinante, completamente voltada para as ciências e progresso científico. Um homem que criou, não apenas no âmbito das ciências, mas também no meio artístico, dada a sua extrema sensibilidade para as artes, em particular a música que tanto apreciava, e a fotografia, essa paixão que toda a vida o acompanhou de forma quase indissociável de tudo o resto.
Nas suas viagens pelo mundo Português, após calcorrear todo o Portugal continental,  do mais conhecido ao mais profundo, chegando a locais praticamente inacessíveis, tantas vezes sozinho, na companhia de um burro, da sua máquina e dos seus preciosos cadernos, passando pelos nossos arquipélagos atlânticos, territórios africanos e asiáticos, Orlando Ribeiro, traçou um retrato vivo de uma importante parte da presença lusíada no mundo. Para além de Portugal, incluindo Açores e Madeira, as suas viagens pelo Mundo Português  levaram-no até outros territórios como Cabo-Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Goa, Damão e Diu, desenvolvendo um aprofundamento do conhecimento sobre esse Portugal Universal, materializado em distintas terras, gentes e culturas.
Nascido em Lisboa a 16 de Fevereiro de 1911, Orlando Ribeiro licenciou-se e doutorou-se em Lisboa, na área de História e Geografia, tendo recebido uma forte influência de grandes mestres como David de Melo Lopes e de José Leite de Vasconcelos, a quem de resto dedicou a sua obra maior, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico em 1945. Tendo passado por Coimbra e Paris, onde trabalhou com o historiador Marc Bloch na Sorbonne, foi em Lisboa que Orlando Ribeiro se radicou e desenvolveu grande parte do seu trabalho e criou o Centro de Estudos Geográficos.
Intelectual completo, interessado em áreas tão distintas como Geografia, Geologia, História, Etnografia, Antropologia, Fotografia, entre outras, Orlando Ribeiro foi um renovador e modernizador da Cultura e Academia Portuguesa, podendo-se encontrar mais informações quanto à sua vida e obra num interessante artigo de João Carlos Garcia, intitulado Orlando Ribeiro (1911-1997): o Mundo à sua procura, publicado em 1998 na revista do departamento de Geografia da FLUP.

Orlando Ribeiro num auto-retrato tirado com uma máquina Leica (1940).

Casa de Pedra em Monsanto, a aldeia mais Portuguesa de Portugal (1958).

Erupção dos Capelinhos, na Ilha do Faial,  vista do Costado da Nau
no dia 7 de Janeiro de 1958.

Cena rural captada em Santana, na Ilha da Madeira (1948).


Carregamento de amendoim no porto de Bissau (1947) .

Marco indicador da passagem do Equador no Ilhéu das Rolas,
em São Tomé e Príncipe (1952).

Nova Caipemba, em Angola (1960).

Palhota quadrada, de andar, em Zambeze, Moçambique (1961).

Crianças mouras nas ruas de Damão (1956).

Vendedeiras de Suró, em Brancavará, Diu (1956).

Praia de pesca de Siridão, em Goa (1956).

7 comentários:

  1. Belíssimo.
    Grande texto, magníficas fotos.

    Um sentido Obrigado,

    NBJ

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  2. Ora essa. Cumprimos apenas a nossa fraterna obrigatoriedade de partilhar.

    Um braço forte ao Oriente.

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  3. Não conhecia o trabalho de Orlando Ribeiro, mas as fotografias estão fantásticas. Retratos do Império.

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  4. Existem dois livros fundamentais para se compreender o nascimento de Portugal. Um é o "Como nasceu Portugal" do Damião Peres, outro é "Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico" de Orlando Ribeiro. Recomendo.

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  5. Eu também não conhecia esta figura e fiquei muito satisfeito com o artigo.

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  6. Deve-se o despertar para esta figura e a sua obra, no seio desta Nova Casa Portuguesa, ao Professor Humberto Baquero Moreno que, há uns anos atrás, nos falou dela numa das suas saudosas aulas de História Medieval de Portugal.
    Não querendo cometer uma gafe, creio que foi Orlando Ribeiro o primeiro a classificar Portugal como um país atlântico, contrariando as antigas teses que o englobavam no grupo de territórios mediterrâneos. Este novo conceito evoluiu e é hoje unanimemente aceite em praticamente todas as áreas. Até na própria culinária. Se repararmos, já não se utiliza tanto a expressão cozinha mediterrânea para classificar a gastronomia Portuguesa, porque, de facto, são diferentes. O mesmo se aplica ao clima, cultura, agricultura, entre outros.

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