quinta-feira, 24 de novembro de 2016

I Jornadas de Cultura Portuguesa

Criada em 2006, por iniciativa de Arnaldo de Pinho e Sophia de Mello Breyner Andresen, a Cátedra Poesia e Transcendência tem organizado inúmeros encontros, colóquios e conferências, dinamizando o meio académico e cultural português. Afecta ao Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, a Cátedra de Sophia - como também é conhecida -, possui um carácter multidisciplinar, procurando estudar as relações entre a Poesia e o fenómeno da Transcendência, tanto em autores nacionais como estrangeiros.
No próximo Sábado, pelas 10:30, no campus da Foz da Universidade Católica Portuguesa, a Cátedra de Sophia organizará as suas I Jornadas de Cultura Portuguesa. Um evento que se espera poder vir a tomar uma periodicidade anual. Esta primeira edição, dedicada à memória de António Pedro, escritor, encenador e artista plástico falecido em 1966, contará com as participações de Henrique Manuel Pereira, José Rui Teixeira, José Pedro Angélico, Pedro Pereira, Teresa André, Fernando de Castro Branco, Jorge Teixeira da Cunha, entre outros. 
A entrada é livre e aberta a toda a comunidade. 

(Clicar na imagem para consultar o programa.)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Viajar com Ramalho Ortigão

«Pioneiro das travessias de Portugal, amador enternecido da Alma, das Terras e das Gentes Portuguesas, melhor que ninguém soube trespassar-nos numa volta que nos envolve a todos, caminhantes desta terra, mas sobretudo, caminhantes dentro de nós próprios, num tempo em que é por dentro de cada um que a viagem por Portugal tem de principiar.»
José Valle de Figueiredo em Viajar com Ramalho Ortigão

Crítico e visionário, Ramalho Ortigão foi um autor de génio que soube colocar-se ao lado dos que, no seu tempo, amavam e se preocupavam com a actualidade e futuro de Portugal. A sua obra reflecte o modo como viveu, a sua forma de pensar, as suas paixões e os seus ódios. Podemos por isso afirmar que Ramalho Ortigão, à semelhança de outras personalidades coevas como Eça de Queirós, Sampaio Bruno, ou Guerra Junqueiro, encarnou o espírito de uma época inquieta e inquietante, na qual se jogava a própria existência histórica de Portugal. 
Na próxima Quinta-Feira, dia 24 de Novembro, pelas 18:30, no Forte de S. João Baptista, na Foz do Douro, será apresentada a mais recente obra de José Valle de Figueiredo, intitulada Viajar com Ramalho Ortigão. Esta sessão servirá também de mote a uma justa evocação de Ramalho Ortigão, cujas ligações à cidade do Porto são também bastante fortes.
A entrada é livre e aberta a toda a comunidade. 

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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Olhares Luso-Brasileiros

Tendo recentemente voltado ao nosso país, onde participou em mais um Colóquio Internacional Tobias Barreto, Constança Marcondes César apresentou, em Lisboa e no Porto, o seu livro intitulado Olhares Luso-Brasileiros. Publicado numa parceria editorial entre o MIL e a DG Edições, este volume reúne perto de 50 artigos escritos ao longo das últimas décadas, prestando um valiosíssimo contributo para a sistematização do estudo e hermenêutica do pensamento e da cultura luso-brasileira. 
Partilhamos aqui a recensão de José Almeida a esta obra, publicada na edição de ontem do semanário O Diabo.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Aurélia de Sousa: Memórias de uma Exposição

Terminou ontem a exposição Aurélia, Mulher Artista. Uma mostra retrospectiva da obra de Aurélia de Sousa, organizada nos 150 anos do seu nascimento. Distribuída por dois pólos diferentes, Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio e o Museu da Quinta de Santiago, esta foi a maior exposição da genial pintora portuguesa jamais realizada após a sua morte.
Ao longo dos últimos 5 meses foi possível admirar um vasto conjunto de obras desta artista, muitas delas provenientes de colecções privadas, fomentando-se, uma vez mais, a discussão em torno do presente ocultamento da arte portuguesa. Com efeito, poder-se-á dizer que esta exposição, em conjunto com a de Amadeo de Souza-Cardoso - recentemente realizada em Paris -, prestou um importante contributo para a revalorização da arte portuguesa a nível nacional e internacional. Numa altura em que o Porto é alvo da preferência de turistas de todo o mundo impõem-se, enquanto cidade-berço para várias escolas e gerações de artistas, a promoção deste tipo de iniciativas, tão enriquecedoras como fundamentais para a promoção da cultura portuguesa.
As fotografias que aqui apresentamos remetem-nos para a parte da exposição patente na Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, procurando contribuir para a divulgação da obra de Aurélia de Sousa e a perpetuação da memória do excelente serviço público prestado por esta iniciativa.

Painel de divulgação da exposição de Aurélia de Sousa, colocado à entrada
da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio.

Sala principal da exposição.

Panorâmica da exposição.

Outra panorâmica da exposição.

Menina num estúdio de pintura (s.d.).

À Sombra (s.d.).

Alguns desenhos de Aurélia de Sousa realizados na sua juventude.

Esboços e estudos de Aurélia de Sousa.

Filósofo (Diógenes) (s.d.).

Auto-Retrato (1889).

Auto-Retrato (s.d.).

Retrato de Natália Rocha (s.d.).

Retrato de Luciana Dias Gaspar (s.d.). Uma obra que revela alguns
traços precursores do nosso primeiro modernismo.

História de Coelhos (Biombo em Tríptico) (s.d.).

domingo, 23 de outubro de 2016

O Triunfo do Amor Português: A Família Monteiro

No passado dia 21 de Outubro, os atletas João Monteiro e Daniela Monteiro inscreveram os seus nomes em mais uma página de ouro do desporto português. Ao sagrarem-se campeões europeus de ténis de mesa na categoria de pares mistos, os dois atletas fizeram história, tornando-se no primeiro casal a conseguir alcançar um título europeu em conjunto. 
Evocando-se o título de uma das obras do escritor portuense Mário Cláudio, podemos afirmar que este foi, sem sombra de dúvida, mais um triunfo do Amor Português. A comovente beleza plasmada nas imagens desta vitória ficarão para sempre gravadas nas nossas memórias, mostrando o poder do amor, paixão e sacrifício, bem como da alegria, graça e glória alcançadas em momentos de perfeita comunhão, como aquele que trouxe o ouro à família Monteiro.
O Amor tudo conquista! 

Momentos finais da prova que conduziu a família Monteiro à conquista da medalha de 
ouro no Campeonato Europeu de Ténis de Mesa, disputado em Budapeste.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

6.º Aniversário da Nova Casa Portuguesa

Ano após ano, o sonho prevalece perante as trevas e a Nova Casa Portuguesa prossegue a sua caminhada missionária de Amor incondicional a Portugal. Agradecemos a todos quantos de variadas formas nos apoiam e incentivam à manutenção desta plataforma de reunião em torno da nossa História, Cultura, pensamento e tradição. As vossas opiniões e comentários são muito importantes para a edificação deste trabalho, pois temos como objectivo aproximar as pessoas e (res)estabelecer laços que nos permitam celebrar Portugal em comunhão com os princípios que nos regem e definem.
Aos amigos que já acompanham a Nova Casa Portuguesa através deste blogue e da nossa página de Facebook, convidamos agora a juntarem-se a nós também no Instagram.
Temos tudo quando temos Portugal!   

(Clicar na imagem para aceder à conta da
Nova Casa Portuguesa no Instagram.)

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Ideia e Ritmo na Poesia de Junqueiro

«Poeta fortemente emocionado pelo momento que vive, a sua obra não podia deixar de ter uma larga expressão social e revolucionária e a expressão filosófica que se continha no pensamento social e revolucionário do seu tempo, simultaneamente romântico e realista. Quando toma bem consciência de tudo isso, é que Junqueiro surge e domina todas as possíveis influências, elaborando-as com o poder admirável do seu génio; e acaba por ser ele mesmo o poeta, entre todos os seus contemporâneos, que maiores influências exerceu na poesia portuguesa.»
Amorim de Carvalho em Guerra Junqueiro e a sua obra poética

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Júlio Amorim de Carvalho, administrador da Casa Amorim de Carvalho irá apresentar na próxima Terça-Feira, dia 18 de Outubro, no Porto, uma conferência subordinada ao tema Ideia de Ritmo na Poesia de Junqueiro.
Nesta avaliação estética da obra de um dos principais poetas da História da Literatura Portuguesa, serão abordados temas como: o “século poético português”, a contextualização mental da crítica modernista, a transmutação do pensamento discursivo para o poético, a simbolização e o simbolismo junqueirianos, a métrica na poesia de Junqueiro, entre outros. No final desta sessão, haverá ainda espaço para se discutir sobre o que fazer no centenário da morte do poeta.
A apresentação terá lugar no auditório da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e Luís Pinto Mesquita Carvalho, situado na Rua de Dom Hugo 15, junto à Sé do Porto, às 18h. A entrada é livre e aberta a toda a comunidade.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Entre Portugal e Macau: Congresso Internacional de Filosofia e Literatura

«Os nossos homens ganharam tantas batalhas, souberam vencer com tanta valentia, que o Imperador da China os considerou Senhores daquela terra como justa recompensa.»
Hermengarda Marques Pinto em Macau Terra de Lendas

Ruínas de S. Paulo, em Macau, numa gravura da autoria de Wilhelm Heine (1854).

Classificado como um dos mais belos e pitorescos territórios do antigo Império Português, Macau foi o último bastião de Portugal no continente asiático. Entregue às autoridades chinesas em 1999, aquele pequeníssimo pedaço de terra constituiu um importante ponto de encontro entre o Extremo-Ocidente e o Extremo-Oriente. Por ali passaram missionários, escritores, poetas, pensadores, soldados, diplomatas, políticos e aventureiros, bem como homens simples que também deixaram o seu contributo para a perenidade da nossa memória e presença cultural naquela longínqua zona do globo.
No seguimento de outros congressos realizados no passado, fazendo uma ponte entre Portugal, Cabo Verde e Brasil, o Grupo de Investigação Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal da Universidade do Porto, em parceria com Universidade de Macau, Universidade de S. José, Instituto Politécnico de Macau e Instituto Internacional de Macau, promove agora um encontro ao qual se propõe levar o debate sobre as relações histórico-culturais entre Portugal e Macau.
O Congresso Internacional de Filosofia e Literatura: Entre Portugal e Macau terá lugar em Portugal e Macau, durante o mês de Maio do próximo ano. Até Dezembro encontra-se aberto o período de apresentação de propostas de comunicação para este encontro. Para mais informações, visite-se a página oficial da organização deste encontro em: http://portugalmacau2017.blogspot.pt.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Nova Águia n.º 18

Há poucos dias atrás foi divulgada a capa do 18.º número da revista Nova Águia, correspondente ao 2.º semestre de 2016. 
Este número inclui uma série de textos dedicados a Ariano Suassuana, resultantes das apresentações levadas a cabo num colóquio promovido em sua homenagem pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, em Abril de 2015. Para além das habituais rubricas, destacam-se também dois blocos evocativos. Um dedicado a Vergílio Ferreira, assinalando o centenário do seu nascimento; outro consagrado a Delfim Santos, no cinquentenário da sua morte.
A capa desta edição conta, uma vez mais, com a colaboração da artista brasileira Haylane Rodrigues, autora do desenho de Ariano Suassuna que figura na capa do 18.º número desta publicação.
A apresentação da Nova Águia está agendada para o próximo dia 21 de Outubro, às 18:00, na BNP (Biblioteca Nacional de Portugal), em Lisboa.

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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Ainda a homenagem a Fernando Guedes

Pela sua dimensão e impacto causado junto da vida cultural portuguesa, certas figuras jamais são recordadas e evocadas demasiadas vezes. Apesar de já aqui termos publicado uma brevíssima nota sobre o recente falecimento de Fernando Guedes, não poderíamos deixar de partilhar um texto publicado na edição desta semana do semanário O Diabo, sobre este nosso ilustre editor, poeta e intelectual. 
Trata-se de um excelente artigo de Vasco Silva, acompanhado por um testemunho de Miguel Castelo-Branco e uma ilustração de Haylane Rodrigues. Uma bela homenagem a juntar a um outro interessante texto, da autoria de Carlos Maria Bobone, intitulado Fernando Guedes, o homem da cultura vencida, publicado no Observador.

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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Fernando Guedes, o Editor (1929-2016)

Custa ver partir os velhos mestres. Faleceu ontem, em Lisboa, Fernando Guedes, um dos principais editores portugueses do século XX. 
Nascido na cidade do Porto, em 1929, foi fundador da Editorial Verbo e esteve ligado ao aparecimento de importantes revistas culturais como a Távola Redonda, com António Manuel Couto Viana, David Mourão-Ferreira, Alberto Lacerda e Fernanda Botelho, ou a Tempo Presente, com António José de Brito, Goulart Nogueira, Caetano de Melo Beirão e, uma vez mais, Couto Viana. Entre outras obras e colecções que marcaram a história da edição em Portugal, Fernando Guedes foi o grande responsável pela criação da Enciclopédia de Cultura Luso-Brasileira, assim como pela famosa colecção económica Biblioteca Básica Verbo - Livros RTP que dotou muitos lares portugueses com algumas obras fundamentais da literatura e da poesia mundiais. 
Homem vertical e integral, foi também poeta, crítico de arte, ensaísta e historiador de destaque. O prestígio alcançado ao longo do seu percurso cultural e profissional levou a sua fama além-fronteiras. Participou em inúmeros encontros internacionais, recebendo vários prémios, galardões, distinções e condecorações. Pensador e intelectual "não-conforme", ocupou internacionalmente os cargos de presidente da Federação de Editores Europeus e de presidente honorário da União Internacional de Editores. Patriota alheio aos "ventos da História", jamais se deixou sujeitar ao suposto monopólio cultural da esquerda, mantendo-se fiel aos seus princípios e ideais, mesmo nos piores momentos. 
A Cultura Portuguesa sentirá a sua falta com saudade e pesar! 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Memórias da Idade de Ouro do Boxe em Portugal

1929, Lisboa, Portugal. A Praça de Touros do Campo Pequeno enche-se para assistir ao combate entre José Santa "Camarão" e Barrick. O boxe era então um desporto com mística e bastantes entusiastas entre nós. Espaços como o Campo Pequeno e o Parque Mayer, em Lisboa, ou, anos mais tarde, o futuro Pavilhão Rosa Mota, no Porto, enchiam-se de multidões que aí afluíam para assistir aos combates. 
Com o passar dos anos foi-se esmorecendo a grande euforia em torno desta "nobre arte", perdendo-se aos poucos a chama e o entusiasmo. A modalidade acabou por entrar, inevitavelmente, numa situação de marginalidade e esquecimento junto do cidadão comum. 
Recuperar a memória desses tempos idos é prestar uma justa homenagem a vários atletas portugueses que, tal como José Santa "Camarão", elevaram desportivamente Portugal, dignificando as cores nacionais. Por esse motivo, há que restituir ao boxe português a glória de outros tempos. 
Aguardemos pelo futuro! 

Casa cheia na Praça de Touros do Campo Pequeno por ocasião do
combate de boxe entre Santa "Camarão" e Barrick, a 14 de Abril de 1929.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Assinaturas da revista Nova Águia

Fundada em 2008, a revista Nova Águia tem vindo a revitalizar o espírito da histórica revista A Águia que, em inícios do século XX, marcou de forma indelével o panorama cultural e filosófico português.
Assinar a Nova Águia é estar a participar activamente na publicação da «única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português.» Por esse motivo, a Nova Casa Portuguesa apoia este projecto desde a sua primeira hora, sugerindo aos nossos amigos e habituais visitantes a assinatura desta revista, bem como o apoio incondicional a este importante projecto!
Para mais informações visitem http://novaaguia.blogspot.pt, ou www.zefiro.pt/novaaguia.htm.



(Clicar na imagem para aceder à página de assinaturas da editora Zéfiro.)

sábado, 16 de julho de 2016

Quadro de Honra

«As bandas que encerram este livro são herdeiras desse tempo. Noutra época, com vantagens e desvantagens, mostram que os problemas e os desafios não terminaram, nunca terminaram.»

A arte marginal e os círculos artísticos underground constituem uma parte importante do imaginário cultural das sociedades urbanas contemporâneas. Nestes meios, tanto se edificam pontes entre subculturas distintas, como se afirma a própria identidade de determinados grupos. De resto, esta é uma realidade bastante presente no mundo da música onde, tantas vezes, perdemos o rumo da História em virtude da natureza efémera dos fenómenos que a compõem. Quadro de Honra representa uma compilação de relatos recolhidos na primeira pessoa, visando preservar uma parte significativa dessas memórias.
Importa, antes de tudo, identificarmos o que classificamos aqui de underground e “música alternativa”. Quadro de Honra, obra colectiva assinada pela revista Loud!, publicada pela Saída de Emergência, compila cerca de 30 entrevistas com alguns dos nomes mais emblemáticos da música pesada nacional. Estamos perante um repositório de memórias que nos remete para mais de três décadas de sonoridades extremas que vão do punk ao hardcore e do rock ao metal, aqui entendido nos seus variadíssimos subgéneros. Os colectivos musicais cujas entrevistas compõe esta obra são os protagonistas de uma aventura fantástica e revolucionária, desafiadora do gosto e mercados dominantes.
Ao longo de dezenas de edições, a revista Loud! - referência em Portugal em matéria de jornalismo musical votado às sonoridades mais extremas -, foi efectuando um trabalho de arqueologia musical sob a forma de entrevistas. Levando a cabo um processo de revitalização da memória que passava pela evocação de alguns dos discos mais marcantes da música pesada nacional, esta publicação periódica foi reunindo nas suas páginas os relatos obtidos juntos dos músicos intervenientes neste capítulo menos conhecido da História da Música em Portugal. De clássicos como Mão Morta, Mata Ratos, Peste & Sida, Censurados, ou Tarantula, passando por bandas como Moonspell, Heavenwood, Bizarra Locomotiva, Sacred Sin ou Ramp, não deixam de aparecer entre os testemunhos recolhidos outros nomes menos conhecidos do grande público como, por exemplo, Decayed, Thormentor, Sirius, Corpus Christii, Desire, Morbid Death, In Tha Umbra, Inhuman, Genocide, Grog, Holocausto Canibal, entre outros.
Conforme tão bem descreve o escritor José Luís Peixoto no prefácio a esta obra: «Chegará um dia em que tudo o que constitui este instante será passado.» Assim, podemos afirmar que Quadro de Honra representa o testemunho de um certo passado ainda bastante presente. Um repositório de ecos de glórias passadas que insistem em permanecer vivas, por via de um diálogo perene entre um passado que se afirma e um presente que se esfuma.
Escrito em bom português pré-AO90 - escolha que muito louvámos -, este livro encontra-se enriquecido pela parafernália iconográfica que o documenta, da qual não poderíamos deixar de destacar as ilustrações de Pedro Silva. Trata-se de uma obra imprescindível para a biblioteca de qualquer melómano interessado numa visão etnomusicológica daquilo a que Jorge Lima Barreto chamou, genericamente, de “mmp" – música moderna portuguesa.

Editado em Maio deste ano, Quadro de Honra documenta
três décadas de underground português.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

André Fialho em entrevista com Rui Unas

André Fialho é um nome ainda desconhecido para muitos portugueses, no entanto, este jovem atleta de apenas 22 anos tem elevado o nome de Portugal além fronteiras. Tendo começado a sua carreira desportiva como jogador de futebol, praticou boxe e artes marciais desde tenra idade. 
A sua paixão pelos desportos de combate levaram-no a abandonar os campos de futebol e a abraçar uma carreira internacional como lutador de MMA (Mixed Martial Arts). Depois de ter ganho alguns títulos nacionais e regionais de boxe, André Fialho estreou-se no MMA em Portugal, antes de se mudar para os Estados Unidos da América, onde começou a combater pela Bellator, a segunda maior organização de MMA do mundo. 
O seu percurso internacional, apesar de curto, não deixa de ser surpreendente. Com 8 vitórias em 8 combates, André Fialho tem esmagado todos os seus oponentes sem grandes dificuldades, não tendo tido ainda a necessidade de explorar todas as suas capacidades em combate - técnicas, ou físicas. 
Com um fulgor marcadamente patriótico, André Fialho sublinhou e afirmou várias vezes o seu amor a Portugal, assim como a vontade de canalizar para os ringues e arenas a mesma força, têmpera e bravura que caracterizou os portugueses ao longo da História. Este é um atleta que merece ser apoiado e acompanhado, pois as suas conquistas são, indubitavelmente, conquistas de todos dos portugueses. 
Recentemente, André Fialho foi entrevistado por Rui Unas. Aproveitamos esta curta homenagem ao jovem campeão português para partilhar o vídeo desse encontro.

Entrevista de André Fialho com Rui Unas num dos podcasts de Maluco Beleza.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa

Recentemente publicado pela Temas e Debates e o Círculo de Leitores, o Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa é já uma das obras mais relevantes no âmbito da Filosofia e da Cultura em Portugal, publicada nos últimos anos. Uma obra de referência que, não obstante algumas gralhas e ausências entre as figuras destacadas, importa saudar e divulgar. Trata-se de um importante contributo para o estudo e divulgação de um dos aspectos a que, habitualmente, menos se atende nas análises à cultura portuguesa. 
A Filosofia Portuguesa, latente no ethos e no espírito do nosso Povo, é algo que nos subjaz de forma implícita, mais do que explícita. Ela constitui um elemento inesgotável do nosso património imaterial, sendo absolutamente definidora do perfil e ser do Homem Português. Consagrando a existência de uma forma de pensamento própria dos portugueses, a existência da Filosofia Portuguesa é recusada por todos aqueles que, contaminados pelo materialismo e as correntes internacionalistas, repudiam a portugalidade, bem como a essência da alma lusíada. 
Deste modo, partilhamos hoje uma recensão da autoria de José Almeida ao Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa, publicada na edição da passada Terça-Feira do semanário O Diabo. Trata-se de uma recensão breve, mas bastante distinta daquela de Paulo Tunhas - universitário detractor da cultura portuguesa -, publicada no Observador.

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Cinquentenário da morte de Delfim Santos (1966-2016)

«Delfim Santos foi de facto um pensador que deu atenção à tradição filosófica portuguesa, promoveu-a e reconheceu o seu valor intrínseco... Pensador profundo, dialogou com a filosofia do seu tempo dando atenção, simultaneamente, aos autores portugueses e estrangeiros.»
Maria de Lourdes Sirgado Ganho em Dicionário 
Crítico de Filosofia Portuguesa.

Delfim Santos em Berlim (1938).

Passa este ano meio século desde a morte de Delfim Santos. Filósofo, Professor, crítico, homem de cultura integral, deixou-nos um importante legado materializado nas suas obras, artigos e importantes trocas epistolares. Conhecido e aclamado aquém e além-fronteiras, foi um importante vulto da intelectualidade portuguesa do século XX, devendo ser hoje lembrado e celebrado.
Nesse sentido, estão já agendadas algumas iniciativas para o corrente ano, incluindo colóquios, conferências, exposições e várias publicações. Entre estas, destaque para o quarto número da revista Delfim Santos Studies. A programação de todos estes eventos e acontecimentos encontra-se disponível na página Ler Delfim Santos
Nascido no Porto, a 6 de Novembro de 1907, Delfim Santos faleceu em Lisboa, a 25 de Setembro de 1966. Tinha apenas 58 anos. Não obstante a monumentalidade da sua obra, assim como o alcance das suas acções, esperava-se ainda muito daquele que foi um dos mais carismáticos interlocutores e divulgadores do pensamento português junto das elites estrangeiras da sua época. 

terça-feira, 21 de junho de 2016

Aurélia de Sousa, 150 anos

«A pintora Aurélia de Sousa logrou alcançar reconhecimento pela qualidade técnica do seu trabalho, um factor aliado à sua condição de "mulher-artista". Efectivamente, o nome de Aurélia ainda constitui uma excepção dentro da galeria dos grandes pintores portugueses, a par do de Josefa de Óbidos, a pintora do barroco português.»
Adelaide Duarte em Aurélia de Sousa

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A cidade do Porto foi, na viragem do século XIX para o século XX, um importante farol para a arte e cultura europeias. Da pintura à escultura, passando pela poesia, literatura e filosofia, a Invicta revelou-se berço de génios e ponto congregador de artistas e intelectuais. Em 2016 comemoram-se os 150 anos do nascimento de Aurélia de Sousa, uma das figuras mais relevantes da pintura portuguesa dos últimos 200 anos que, a partir da cidade do Porto, alcançou uma surpreendente notoriedade internacional.
Tendo estudado na Academia de Belas-Artes do Porto, com Marques de Oliveira, e na Académie Julian de Paris, com Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant, Aurélia de Sousa destacou-se pelo seu génio e singularidade criativa no meio artístico da sua época. Conhecida como interlocutora da estética naturalista, foi antes de mais uma artista livre de amarras estéticas, sabendo conferir a si mesma uma liberdade definidora dos seus fulgores criativos. Das paisagens aos seus auto-retratos, absorve-se da sua obra pictórica o registo intimista das vivências quotidianas da sociedade do seu tempo. Artista de transição, inspirada e atenta – tanto à tradição como às revoluções artísticas da sua época –, Aurélia de Sousa anunciou a convulsão emergente da modernidade.
Contrariamente ao que se tem vindo a afirmar junto de certos círculos, esta artista portuguesa nascida a 13 de Junho de 1866, em Valparaíso, no Chile, não representa, tal como o conjunto da sua obra, qualquer forma percursora do feminismo em Portugal. Pelo contrário, o que Aurélia de Sousa tão bem conseguiu imortalizar nas suas obras foi a beleza e delicadeza da essência feminina em todo o seu esplendor. Não obstante a existência das possíveis condicionantes e constrangimentos que, naquela época, poderiam advir da sua condição de mulher, esse factor jamais constituiu um obstáculo à consagração do seu génio.
Para além de ter estudado em França, Aurélia de Sousa também expôs naquele país, onde a sua obra foi, tal como em Portugal, aclamada e premiada. Assente numa matriz bem portuguesa, a qualidade do seu trabalho levou a que a sua carreira tomasse uma dimensão internacional, sendo ainda hoje aclamada como a principal pintora lusitana desde Josefa de Óbidos. Viajante inquieta e experimentadora de novas técnicas de pintura, dedicou-se também à ilustração e à fotografia. Desde cedo respeitada e admirada por críticos e colegas, fez da Quinta da China, propriedade adquirida pelos seus pais na cidade do Porto aquando do regresso da América do Sul, o seu espaço de predilecção, instalando aí a sua oficina de pintura.
Tendo em vista a celebração dos 150 anos do seu nascimento, inaugurou-se, no passado dia 13 de Junho, uma exposição intitulada “Aurélia, mulher e artista”. Esta mostra encontra-se dispersa por dois espaços distintos: Museu da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira; Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, no Porto. Esta última instituição – recorde-se –, reúne, juntamente com o Museu Nacional Soares dos Reis, o principal espólio desta artista. Organizada pelas autarquias do Porto e Matosinhos, esta exposição foi comissariada por Filipa Lowndes Vicente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Patente ao público até ao dia 30 de Outubro, esta será, seguramente, a principal exposição póstuma de Aurélia de Sousa. Uma justa homenagem àquela que constitui um dos grandes “génios ocultos” legados por Portugal à arte europeia.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Espírito Santo na Arte, na Rainha e em nós

«Importa saber (ou melhor: importa crer) que entre Isabel, a rainha que foi Santa, Dom Dinis, o rei que foi Poeta, - e o Quinto Império, - existem, sem dúvida, ligações herméticas.»
Vicente Sanches em A Rainha Santa e o Rei Poeta.

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Personalidade de imensa devoção junto do povo português, a Rainha Santa Isabel constitui um símbolo da nossa identidade histórica e espiritual. A sua bondade, os seus milagres e a sua acção junto dos mais pobres jamais foi esquecida pelo povo que tanto amou e procurou cuidar, sobretudo nos momentos de maior aflição. A sua ligação ao culto do Espírito Santo, bem como à criação da Ordem de Cristo, conferem-lhe um papel fundamental na nossa História e projecção no mundo.
Integrado no V Centenário da Beatificação da Rainha Santa Isabel, celebrado em 2016, o pensador e ensaísta Pedro Teixeira da Mota irá apresentar, no Porto, uma comunicação intitulada O Espírito Santo na Arte, na Rainha e em nós. Esta conferência terá lugar no dia 22 de Junho, pelas 21:30, no Espaço Artes.
A entrada é livre e aberta a toda a comunidade.  

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Google evoca o 10 de Junho

Na sequência das habituais comemorações de efemérides levadas a cabo pela Google, a empresa norte-americana levou a cabo hoje uma nova homenagem a Portugal. Celebrando o nosso 10 de Junho, Dia de Portugal, Dia de Luís Vaz de Camões, Dia da Raça e Dia das Comunidades Portuguesas, o doodle que figurará entre nós durante este dia no mais popular motor de busca do mundo será uma ilustração da artista Alyssa Winans. Contendo as cores da bandeira nacional e uma representação do Castelo de Guimarães ao centro, esta ilustração capta o sentido estético do espírito pátrio conforme era celebrado durante o Estado Novo. Uma belíssima síntese entre a tradição e a estética de gosto modernista.   

Doodle evocativo do Dia de Portugal. Um trabalho gráfico da ilustradora
norte-americana Alyssa Winans.

sábado, 28 de maio de 2016

A Revolução de Maio

O filme para hoje é, inevitavelmente, A Revolução de Maio de António Lopes Ribeiro. Um filme de propaganda produzido em 1937 pelo Secretariado da Propaganda Nacional - órgão dirigido pelo incontornável António Ferro.
O enredo é simples, educativo e definidor de toda uma época. Um agente comunista, envolvido nas malhas do terrorismo internacionalista, chega a Portugal cerca de uma década após a Revolução Nacional de 1926 com o objectivo de organizar uma insurreição contra o Estado Novo. Porém, o agitador encontra em Portugal um país bem diferente daquele apresentado pela propaganda comunista e anarquista. Reina a ordem, a estabilidade e o progresso na Pátria imperial comandada por António de Oliveira Salazar, o derradeiro obreiro do ressurgimento pátrio a que tantos aspiravam desde há largas décadas. Face à indiscutível obra perpetuada desde cedo pela nossa ditadura, o agente ao serviço dos interesses esquerdistas e internacionalistas vê-se obrigado a abandonar os seus pérfidos ideais anti-patriotas, abraçando o espírito pátrio e delatando todos os conspiradores que atentavam contra Portugal e os portugueses.
Um clássico a rever no dia em que se celebram os 90 anos da Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926! Um filme com final feliz!

A Revolução de Maio de António Lopes Ribeiro (1937).

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Os 90 anos da Revolução Nacional de 28 de Maio

No próximo Sábado celebram-se os 90 anos da Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926. Uma data na qual se evoca também a memória de todos aqueles que, antes e após essa data, se bateram pelos mesmos princípios, valores e ideais inerentes à nossa tradição espiritual, histórica e política. Este ano, para além dos habituais encontros de celebração desta efeméride, serão ainda apresentados dois ensaios publicados pela editora Contra-Corrente.
Ano após ano, a cada 28 de Maio, um conjunto de patriotas e nacionalistas congrega-se em torno de um esforço conjunto de preservação e manutenção de tudo o que constitui o sagrado ideal pátrio. Não o fazem por mera expressão nostálgica do passado, mas pela consciência da importância da sua missão que visa transmitir aos vindouros a chama de uma tradição viva. Neste ponto, não podemos deixar de evocar a memória de António José de Brito que, há quatro décadas, começou a organizar, no Porto, os célebres jantares do 28 de Maio. Encontros que, perpetuando-se no tempo, começam agora a conhecer outras réplicas espalhadas pelo país, nomeadamente, em Lisboa.
Entender o espírito de 1926 implica a compreensão de uma época que antecede os fatídicos marcos de 1789 e 1820, ajudando-nos a perceber o período que precede os trágicos acontecimentos de 1974. À data da Revolução de Maio, Portugal concluía triunfalmente a sua guerra dos cem anos. O esforço e a vontade empregues nessa movimentação política e social
pró-Portugal impôs a derrota a um século de liberalismo estrangeirado e invasor. Uma vitória apenas conseguida graças ao empenho de inúmeros sectores da comunidade patriótico-nacionalista portuguesa. Militares, monárquicos, republicanos, católicos, ateus, integralistas, fascistas e partidários vários de um nacionalismo autêntico, supra-ideológico, consagrado a um amor incondicional à Pátria, todos eles tomaram parte activa na Revolução de Maio.
Despertos para os erros do passado e a necessidade de garantir o futuro, souberam os heróis de 1926 manter o espírito de união que tantas vezes tem fugido ao nosso Povo. Foi graças ao espírito saído da Revolução Nacional que, até hoje, não se conseguiu, entre nós, extinguir o facho que ilumina a chama do altar da Pátria.
Por este motivo, face aos conturbados dias em que vivemos, celebrar o 28 de Maio reveste-se, a cada ano, de uma crescente importância, pelo que a editora Contra-Corrente preparou um duplo lançamento para marcar essa data. Trata-se da reedição de Os que arrancaram em 28 de Maio, de Óscar Paxeco, e da edição de Salazar, António Ferro e Franco Nogueira: Proas e Mastros do Estado Novo, obra póstuma de Rodrigo Emílio. A apresentação deste último livro, a cargo do historiador Humberto Nuno de Oliveira, decorrerá no próximo Sábado, 28 de Maio, pelas 15:00, no Palacete dos Viscondes de Balsemão, no Porto.

Frontispícios das duas recém publicadas obras da editora Contra Corrente,
disponíveis ao público a partir do próximo dia 28 de Maio.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Animais e Companhia na História de Portugal

«Ao entendermos os animais como sujeitos culturais cujos comportamentos são objecto de análise histórica, estamos a pensar as ligações entre pessoas e bichos no seio de comunidades onde se vive em conjunto.»
  Isabel Drumond Braga e Paulo Drumond Braga em

Ao longo da História, o Homem evoluiu e desenvolveu-se enquanto espécie através de um contacto íntimo com uma natureza integradora. A importância do meio e de tudo o que este congrega - entre fauna, flora ou a própria corografia -, condicionaram ou potencializaram o desenvolvimento das comunidades humanas. Mais do que meras criaturas sujeitas aos interesses e vontades do ser humano, os animais constituíram sempre um elo entre o Homem e a natureza. No caso português, os animais apresentam-se, igualmente, indissociáveis de um processo de construção histórica que nos conduz da formação da nacionalidade até à constituição do nosso Império.
A temática poderá não causar grande surpresa aos leitores mais atentos, mas por certo suscitará o interessante de muitos. Longe de constituir uma apologia ao animalismo patológico que infecta a sociedade contemporânea, o estudo da influência animal na História de Portugal corresponde à integração da bio-história na historiografia tradicional, relacionando-a com outras áreas de especialização que nos permitem acrescentar novos dados aos conhecimentos clássicos e factuais.
Publicado pelo Círculo de Leitores, Animais e Companhia na História de Portugal explora um lado menos conhecido da nossa História, vindo subsidiar uma outra colecção sobre a História da Vida Privada em Portugal, publicada há poucos anos pela mesma editora. De facto, a presença e interacção dos animais no seio das nossas comunidades perde-se nos alvores dos tempos. Tratando-se de uma relação tão banal como as existentes entre os homens, ainda que de uma natureza completamente distinta, acabamos muitas vezes por esquecer, irreflectidamente, a importância que os animais tiveram e ainda têm na nossa vida quotidiana, bem como tudo aquilo que nos permitiram alcançar, ou ajudaram a conquistar ao longo dos tempos.
Organizado por Isabel Drumond Braga e Paulo Drumond Braga, esta obra divide-se em quatro partes, abordando matérias e áreas de investigação bastantes distintas. Na primeira parte, intitulada Sob as Ópticas do Utilitarismo e do Controlo, este trabalho trata a correspondência de base entre os animais e a alimentação humana, hierarquizando os consumos e as ligações quotidianas motivadas pela própria sobrevivência. Este capítulo explora ainda a instrumentalização dos animais para funções de trabalho, transporte e guerra, sublinhando ainda as diferenças entre os animais de companhia e aqueles que constituíam perigos, ou ameaças para as nossas comunidades. A segunda parte, Entre o Lúdico e o Perverso, disseca domínios tão díspares como a caça, tauromaquia, bestialidade, ou os fins ocultos aos quais estavam associados alguns animais tradicionalmente relacionados à magia, bruxaria e superstições populares. Segue-se A Descoberta de Novas Espécies Animais que, obrigatoriamente, remete o leitor para a Expansão e Descobrimentos Portugueses. Essa heróica gesta que também contribuiu para o desenvolvimento do conhecimento científico, apresentando ao mundo ocidental espécies animais até então desconhecidas, motivando o aparecimento dos gabinetes de curiosidades, ou a criação de parques como o Jardim Zoológico de Lisboa. Por fim, a obra encerra com um olhar sobre o animal na literatura e na arte, num capítulo intitulado Animais, Cultura e Arte.
Repleto de pequenos factos e curiosidades que oferecem um outro colorido à nossa História, Animais e Companhia na História de Portugal remete-nos para obras como Animais, Homens e Mitos de Richard Lewinsohn, ou alguns dos trabalhos da chamada “História Total” – corrente historiográfica francesa saída da terceira geração da Escola dos Annales. Esta obra colectiva constitui a primeira grande tentativa de compilar e sistematizar as relações entre os homens e os animais na História de Portugal, pelo que importa ser lida e debatida à luz das novas perspectivas que apresenta.

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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Paisagem Portuguesa

«A paisagem portuguesa parece esperar por nós há muitos séculos», escreveu o poeta presencista Carlos Queiroz (1907-1949) em Paisagem Portuguesa, obra que será amanhã, terça-feira, dia 24, apresentada ao público numa nova edição. E se, como recorda o poeta, «Montesquieu disse que os portugueses descobriram o Mundo mas desconhecem a terra onde nasceram», dar-lhes a conhecer a essência dessa terra foi um desígnio que Carlos Queiroz assumiu como missão. 
A beleza com que ele no-la descreve é sublime: «O perfume balsâmico dos fenos e das resinas dos pinheiros, a própria maresia - que chega a ser sensível em pontos longínquos do litoral - dão à atmosfera da paisagem portuguesa encanto extraordinário, talvez inigualável.» Ou ainda: «Brando e harmonioso, fulgente de Sol e refrescado por suaves brisas, o litoral português possui estâncias para todas as estações do ano, climas para todos os temperamentos, quadros e costumes para todos os gostos e curiosidades.» 
A presente edição está enriquecida com um ensaio do filósofo e escritor Rodrigo Sobral Cunha. A apresentação, marcada para as 18:00 de amanhã no Palácio de Seteais, em Sintra, estará a cargo do cineasta António Pedro Vasconcelos, do filósofo Joaquim Domingues e do próprio Rodrigo Sobral Cunha que, em 2014, organizou o Colóquio Nacional sobre Raul Lino.

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

A Língua Portuguesa vista no estrangeiro

Atentos à projecção portuguesa no mundo, não deixa de nos parecer curiosa a análise comparativa entre o modo como a nossa língua nos é apresentada hoje - enquanto uma mercadoria sintética -, e a forma como a mesma é vista no estrangeiro. Contrariamente ao que nos procuram incutir, a não homogeneidade da Língua Portuguesa não representa um factor de empobrecimento ou de desinteresse. Pelo contrário, a pluralidade da nossa língua-mãe, espalhada pelos quatro cantos do mundo, torna-a nessas condições mais atractiva aos olhos dos estrangeiros que assim se apercebem da sua importância, riqueza e vitalidade orgânica.
Numa altura em que o actual Presidente da República equaciona um regresso à discussão pública oficial em torno do polémico (des)acordo ortográfico, importa perceber e esclarecer de que as tentativas de homogeneizar a língua não trará qualquer tipo de proveito na sua promoção e projecção a nível global. Alterar a Língua Portuguesa por decreto, tendo em vista motivos meramente económicos, constitui um claro genocídio cultural, perpetrado contra Portugal e todos os países lusófonos. O (des)acordo ortográfico é uma aberração que precisa ser travada. 
O vídeo que aqui partilhamos, analisando o percurso e natureza evolutiva da Língua Portuguesa, mostra de um modo claro o porquê de um acordo ortográfico não representar qualquer tipo de mais valia para a sua promoção e expansão. 
   
Vídeo sobre a História da Língua Portuguesa e algumas das suas especificidades,
publicado pela página canadiana LangFocus

terça-feira, 5 de abril de 2016

A Obra e o Pensamento de Amorim de Carvalho

«Portugal é uma pátria que a vontade dos portugueses dignos deste nome (verdadeiras elites) construiu e sustentou, e que a vontade de uma outra raça moral de portugueses (falsas elites) demoliu.»
Amorim de Carvalho em O Fim Histórico de Portugal

Passaram quatro décadas desde a morte de Amorim de Carvalho. Personalidade de invulgar inteligência e erudição, marcou de forma indelével a cultura portuguesa, deixando um importante legado cujo eco e influência ultrapassou as nossas fronteiras, chegando a França e Brasil. Nos próximos dias 6 e 7 de Abril terá lugar, no Porto e em Lisboa, um colóquio que visa evocar e discutir a obra e o pensamento deste intelectual.
Destacando-se como poeta, filósofo e esteta, Amorim de Carvalho nasceu na cidade do Porto em 1904. Bisneto por via materna do poeta romântico António Pinheiro Caldas, foi educado no seio de uma família católica, apesar de ainda bastante jovem se ter afastado da fé religiosa. Na sua formação foram importantes as figuras de Teixeira Rego e Basílio Teles. O primeiro, Professor na primeira Faculdade de Letras da Universidade do Porto, colaborador da revista Águia, era um homem de grande sabedoria, interessado em filologia, línguas, filosofia, antropologia e outras áreas do conhecimento, igualmente, caras a Amorim de Carvalho. O segundo, amigo de família, foi uma das personalidades de maior destaque intelectual junto da elite republicana, destacado helenista, bem como um português e europeu consciente da sua condição.
Não obstante a presença e proximidade de tão cativantes vultos, Amorim de Carvalho trilhou um caminho próprio, afastando-se em alguns aspectos das linhas filosóficas seguidas por estes dois pensadores de quem absorveu, essencialmente, os exemplos ético e humano. A sua forte personalidade, aliada a um espírito combativo e intransigente, fizeram-no ganhar o respeito intelectual e algumas amizades até junto daqueles que se antagonizavam com o seu pensamento. Lembramos, por exemplo, o caso de Álvaro Ribeiro, de quem foi bastante amigo, apesar das diferenças e divergências de pensamento existentes entre ambos os filósofos.
O seu legado foi construído entre Portugal e França, país onde voluntariamente se exilou, em 1965, em resultado do isolamento intelectual sentido na sua Pátria. Fixando residência em Paris, apresentou aí, em 1970, a sua tese de doutoramento intitulada De la connaissance en général à la connaissance esthétique. L’esthétique de la nature. Para além da obra poética e literária de Amorim de Carvalho, destacam-se estudos e ensaios como Deus e o Homem na Poesia e na Filosofia, O Positivismo Metafísico de Sampaio Bruno, Fidelino: Um Filósofo da Transitoriedade, Guerra Junqueiro e a sua obra poética, ou o seu importante Tratado de Versificação Portuguesa” - obra que o poeta Rodrigo Emílio considerava indispensável.
O seu último livro, publicado postumamente, intitulou-se O Fim Histórico de Portugal, tratando-se de uma obra, marcadamente, política. Amorim de Carvalho, não tendo sido um partidário do Estado Novo, jamais sentiu qualquer sedução por ideários políticos anti-patrióticos. Deste modo, insurgiu-se de imediato contra o golpe de Estado de Abril de 1974, considerando o abandono das Províncias Ultramarinas um atentado à soberania da Pátria e uma traição contra o seu Povo.
Amanhã, às 14:30, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, inicia-se um colóquio de homenagem a este pensador, que termina no dia seguinte, no Palácio da Independência, em Lisboa. Entre os oradores convidados encontra-se Júlio Amorim de Carvalho, administrador da Casa Amorim de Carvalho, bem como Pinharanda Gomes, António Braz Teixeira, Paulo Samuel, José Almeida, Artur Manso, Renato Epifânio, Samuel Dimas, Manuel Cândido Pimentel, Filipe Delfim Santos, entre outros.
Organizado pelo Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, o Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e a Casa Amorim de Carvalho, este encontro é de entrada livre e aberto a toda a comunidade.

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quinta-feira, 31 de março de 2016

Terminar a Revolução: A política portuguesa de Napoleão a Salazar

«Muitas revoluções, nenhuma Revolução. Em quatro palavras este poderia ser um curtíssimo resumo da história política do Portugal contemporâneo.»
José Miguel Sardica em Terminar a Revolução.

O grande terramoto que a 1 de Novembro de 1755 varreu Portugal marcou de forma simbólica o nosso traumático despertar para a contemporaneidade. A esta sísmica catástrofe, de ordem natural e escatológica, multiplicaram-se sucessivas réplicas e ondas de choque, responsáveis por uma espiral de profundas mudanças de ordem política e, consequentemente, social.
A derrocada da muralha tradicional permitiu a propagação de um espírito estrangeirado que, sobretudo após a Revolução Francesa, contribuiu para a desagregação das nossas instituições. Estas, de forma gradual, foram deixando de servir os interesses nacionais e do Povo português. A obscura influência iluminista, agravada pelas invasões napoleónicas, agudizou este processo de dissolução, trazendo múltiplas fracturas à orgânica da nossa comunidade nacional. Assim, o período compreendido entre a chegada das legiões de Napoleão e a instauração do Estado Novo foi de constante convulsão e revolução. Uma revolução que, em alguns momentos, se chegou mesmo a transformar em guerra civil, trazendo pouca ou nenhuma concórdia e regeneração à nação, com a excepção da Revolução Nacional de 28 de Maio e do regime que lhe sucedeu.
Terminar a Revolução: A política portuguesa de Napoleão a Salazar, publicado pela Temas e Debates / Círculo de Leitores, perspectiva essas páginas da nossa História integrando-as, estruturalmente, no pensamento histórico-político contemporâneo. O seu autor, José Miguel Sardica, Professor na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, autor de uma vasta obra no domínio da História Contemporânea de Portugal, cruza neste livro diversos regimes e momentos da política nacional, procurando definir e compreender cada um deles à luz do seu próprio postulado político-ideológico. Embora preso a determinados chavões impostos pelos “ventos da História”, este volume interpreta de forma cativante alguns dos sentidos dados à palavra “revolução”, analisando vários protagonistas históricos e os seus respectivos ideários.
Por outras palavras, esta obra de José Miguel Sardica aborda cerca de 200 anos da História de Portugal, incorporando-a nos momentos definidores da História da contemporaneidade europeia. Este estudo sobre o papel da “revolução” na política portuguesa ao longo dos últimos dois séculos mostra Portugal como um dos muitos cenários daquela a que o Professor Adriano Moreira designou de “Grande Guerra Civil Europeia” - o conflito que dividiu a Europa numa contenda fratricida entre 1789 e 1974.
Num momento histórico em que por todo o mundo se discute com afinco e paixão a questão das revoluções - sobre quem as faz e qual a sua legitimidade -, pode dizer-se que esta obra surge num momento pertinente, no qual importa estudar e conhecer as especificidades do caso português. Por esse motivo e dado o convite à reflexão deixado pela leitura desta obra, não nos podemos abster de questionar alguns aspectos da mesma, logo a começar pelo título: Terminar a Revolução. Assim, interrogámo-nos sobre que revolução importara terminar. Afinal, segundo nos aparece várias vezes mencionado na tradição filosófica portuguesa, a palavra revolução surge-nos associada à ideia de retorno e ao acto de revolver, num sentido de reaproximação de um centro, ou de uma matriz. Um regresso à tradição. Nesse caso, ao contrário do sugerido pelo autor e grande parte da actual historiografia, não teria sido António de Oliveira Salazar o mais autêntico e revolucionário dos líderes políticos portugueses nos últimos 200 anos? Não terá sido o Estado Novo o exacto contrário de um qualquer interregno revolucionário?

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