segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Coisas com História

«No presente, a fabricar o futuro, com o exemplo do passado.»

A marca Coisas com História nasceu da necessidade de um grupo criativo de pessoas esclarecidas expressarem a sua necessidade de promover Portugal e a sua Cultura. Dedicando-se à reinvenção e reinterpretação da representação tradicional de elementos da nossa cultura, este projecto desenvolveu todo um conceptualismo gráfico em torno de alguns dos nossos grandes escritores, celebrações e símbolos populares, cujo produto final poderá ser contemplado em três grandes áreas: papelaria, cerâmica e têxtil. Ao nível da papelaria, Coisas com História oferece uma interessante variedade de cadernos e blocos, ao passo que em cerâmica disponibiliza bonitos conjuntos de chá e uma vasta variedade de canecas, cujo design original ajudará qualquer pessoa a manter a boa disposição em momentos de fruição social, familiar ou solitária como o pequeno-almoço, lanche ou hora do chá. Igualmente interessantes e originais são as propostas das suas t-shirts, sweatshirts ou aventais, óptimas soluções para pequenos presentes, ideais para todas as idades. Para além destes formatos, encontram-se ainda disponíveis crachás, lápis, postais, marcadores de livros, entre inúmeros outros produtos, todos subordinados à temática da cultura portuguesa.
A novidade do design e a criatividades dos padrões vieram também dar um novo fôlego e uma roupagem renovada ao mercado de lembranças e souvenirs, contribuindo desta forma para uma modernização da oferta, sobretudo junto do público mais jovem, mantendo sempre fortes as raízes da tradição. Resta apenas acrescentar que Coisas com História representa um notável e interessante esforço de desenvolver a economia, apostando na revitalização da nossa história e desenvolvendo o nosso marketing cultural.
Esta empresa encontra-se sediada na cidade do Porto, na Rua João das Regras nº68 - 3º andar, possuindo  ainda dois estabelecimentos próprios, junto da Sé do Porto na Rua Augusto Rosa nº9 e no Bairro Alto, em Lisboa, na Rua da Atalaia nº73. Para mais informações ou actualizações face ao lançamento de novos produtos, sugerimos ainda o acompanhamento de Coisas com História através da sua página de Facebook.

T-shirt com estampagem alusiva à auto-proclamação de D. Afonso Henriques
como rei de Portugal em 1140.

Livro de notas com decoração alusiva à época das amendoeiras em flor.

Livro de notas subordinado a alguns dos nossos principais autores, destacando-se
as divertidas caricaturas de Eça de Queirós, Luís Vaz de Camões, Almeida Garrett,
Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa.

Caderno de espiral inspirado em Fernando Pessoa e alguns dos seus
heterónimos mais conhecidos.

Caneca com caricaturas dos escritores, destacando-se nesta fotografia as
figuras de Almeida Garrett e Eça de Queiroz.

T-shirt com estampa alusiva a Fernando Pessoas e os seus heterónimos.

Estampa de uma t-shirt alusiva à reinvenção da reinvenção do mais famoso
galo de Portugal.

Serviço de chá com motivos decorativos ligados à amendoeira em flor.

Chávena e pires alusivo ao universo pessoano.

T-shirt alusiva a um dos mais famosos e tradicionais percursos dos tradicionais
eléctricos amarelos da cidade de Lisboa.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Alfredo Keil: elogio a um romântico ou retrato de uma época

«É muito tentador arrumar Keil como um dos diletantes que viveram na roda cosmopolita dos últimos Braganças. Agarrada às aparências, esta classificação deixa escapar a personagem. (...)
Keil, porém, jamais se sentiu como um simples servidor da dinastia. Sentiu-se, muito intensamente, um cidadão no sentido antigo da palavra, devotado apenas à pátria.
Keil era filho de alemães. Lembrava-se de ouvir em casa o seu avô Stellpflug, que nunca conseguira aprender português (...) Falava e escrevia em francês ao pai, Johann Christian. Em 1876, tornou-se genro de um italiano, ao casar com Cleyde Cinatti, filha do arquitecto Giuseppe Cinatti. Mas a pátria foi, para Keil, sempre Portugal. Em 1869, a estudar em Nuremberga, suspirava melancolicamente: "Que saudades da minha pátria, do meu Tejo."
»
Rui Ramos em O Cidadão Keil.

Alfredo Keil foi de facto um cidadão ímpar, digno de um carinhoso destaque na memória do povo português. A sua vida diluiu-se na extensa obra que nos legou, testemunhado parte da grandeza dos grandes mestres do génio português que viveram aqueles conturbados anos de finais do século XIX e inícios do século XX. 
Sobretudo conhecido enquanto compositor, Alfredo Keil foi um artista e homem completo. Músico, compositor, coleccionista, fotografo, excelente pintor, Keil encarnou o verdadeiro sentido da estética romântica, associando os seus múltiplos talentos ao gosto pela cultura e ao arrebatador amor pela sua pátria, Portugal. Este sentimento revela-se não apenas na força que impôs às paisagens que pintou ou à sua composição musical mais famosa, A Portuguesa, nosso actual hino nacional, mas também pelo facto de ter composto a primeira ópera cantada em português, A Serrana, uma peça inspirada numa obra do incomparável Camilo Castelo Branco.
Não deixa se ser irónico que uma personalidade como a de Alfredo Keil seja tão pouco conhecida e celebrada no nosso país. A máxima de que o produto estrangeiro é melhor não podia uma vez mais estar tão errada, dada a qualidade superior das obras de Keil, reconhecidas e galardoadas internacionalmente, tanto ao nível da música, como da pintura. Causa-nos por isso alguma repulsa constatar que, por exemplo, em 2006, por altura dos 250 anos da morte de Mozart, até a mais pequena das freguesias celebrou a efeméride do compositor austríaco, num programa de celebrações que se estendeu até 2007, ano em que se assinalou os 100 anos do desaparecimento de Alfredo Keil. Estranhamente, ou talvez não, pouco ou nada se ouvir falar acerca de Alfredo Keil. As composições de Mozart inundavam as salas de espectáculo portuguesas, não havendo quem no seu reportório integrasse uma única música do compositor  português que, goste-se ou não, foi bem mais preponderante e importante para Portugal do que Wolfgang Amadeus Mozart.
A extinta revista independente de música e cultura Elegy Ibérica, foi dos poucos representantes da imprensa a lembrar esta efeméride em 2007, com um artigo que aqui aproveitamos para reproduzir, num sinal de claro reconhecimento e sentida saudade por essa publicação periódica.

(Clicar na imagem para ampliar.)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Portugal é nazi?

Há quem diga que a verdade está nas ruas, mas quanto a isso temos muitas reservas. E você?

(Clicar na fotografia para ampliar.)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Jorge Barradas e o painel do Infante D. Henrique

«...a cobiça de "acabar grandes e altos feitos", o domínio de si, o bom acolhimento de grande senhor na austera continência. Raro bebia vinho; passou toda a vida por casto e usaria cilício. Finalmente, as exclamações do apologista, tão sinceras de tom, diante de uma vida inteira dada a devassas de mar: "Oh quantas vezes o achou o sol assentado naquele lugar onde o deixara o dia dantes", etc., "cercado de gentes de diversas nações".
Este passo de Zurara atrai necessariamente o delicado problema de Sagres como residência e escola.
»

Foi através de uma mesma leitura historicista da vida e da obra do Infante D. Henrique que Jorge Barradas criou e desenvolveu um curioso painel, subordinado à temática do Infante e da Escola de Sagres, destinado à Exposição do Mundo Português, realizada em Lisboa em 1940.
Muitas das obras realizadas para esse grande evento foram posteriormente desmanteladas e abandonadas em armazéns. Outras, com menos sorte, foram mesmo destruídas. Felizmente, a sobriedade e sensibilidade de algumas personalidades têm vindo a contribuir para a recuperação desse património, outrora efémero, mas cujo testemunho histórico-iconográfico constitui um valiosíssimo tesouro para a compreensão de uma dada época. O mesmo aconteceu com este curioso painel, adquirido pela Universidade Portucalense - Infante D. Henrique, instituição de ensino privado de referência internacional que o tem o infante português como  seu patrono. Adquirido por influência do carismático Professor Doutor José Manuel Tedim, reconhecido historiador de arte afecto àquela instituição e à Faculdade de Letras da  Universidade de Coimbra, este painel foi terminado em 1938 por Jorge Barradas, tendo recebido um restauro do pintor Avelino Leite em Outubro de 1999.
Hoje, para admirar livremente este histórico painel, basta visitar as instalações da Universidade Portucalense - Infante D. Henrique, onde se encontra exposto.

Aspecto geral do painel do Infante D. Henrique, da
autoria de Jorge Barradas.

Pormenor da representação do Infante D. Henrique.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Aqui escreve-se e sempre se escreverá em Português!

«Eu, porém, não defendo - nem, presumo, defender alguém - o critério de que o Estado, onde tem ingerência, admita variações ortográficas. Como o indivíduo, o Estado - que em certo modo é também um indivíduo - adopta a - e uma só - ortografia, boa ou má, que entende, e impõe-a onde superintende.»
 Fernando Pessoa em A Língua Portuguesa.
«Vamos desobedecer! Nunca foi tão fácil ignorar impunemente um acordo feito atrás das nossas costas, enquanto dormíamos, por quem estava sempre a acordar.»
 Miguel Esteves Cardoso sobre o novo (des)acordo ortográfico.
«A elaboração, aprovação e aplicação do Acordo Ortográfico é um escândalo nacional. Um verdadeiro case study sobre a falta de transparência e democraticidade com que dossiers da Cultura, da Educação e da Ciência são sistematicamente tratados em Portugal.»
António Emiliano em Apologia do Desacordo Ortográfico.

Foi com uma sentida tristeza e um profundo pesar que recebemos hoje a confirmação da sentença de morte da língua portuguesa às mãos do novo (des)acordo ortográfico. A Presidência do Conselho de Ministros determinou a aplicação do novo (des)acordo ortográfico da língua portuguesa no sistema educativo já  no próximo ano lectivo de 2011-2012. Este culturicídio estender-se-á ao Governo e a todos os serviços, organismos e entidades na sua dependência, bem como à publicação do Diário da República, a partir do dia 1 de Janeiro de 2012. Não obstante, a própria Rádio Televisão Portuguesa começou já a contaminar os seus espectadores, pelo que incitamos e apoiamos o seu boicote.
Ao longo do último ano fomos assistindo de uma forma lamentável à gradual adopção da nova ortografia por grande parte dos jornais e revistas portuguesas, com as notáveis excepções de publicações como Público e O Diabo, os únicos periódicos que a partir de hoje passarão a merecer o nosso carinho e respeito pela sua patriótica posição. 
Aos que insistem em classificar esta mudança como irreversível e fruto do progresso, gostaríamos de lembrar que após perdermos todos os resquícios de soberania que ainda detínhamos, a língua era a única riqueza  segura, um tesouro que não nos parecia alienável. Infelizmente, também ela foi vendida aos interesses económicos, por (des)governantes mercenários, incompetentes, vis, sem carácter,  honra ou dignidade, gananciosos, abjectos, obtusos, ignorantes, analfabetos, cornudos, bastardos, brutos, feios, porcos e maus. A este grupo de criaturas inferiores, quase humanas, juntamos autores como Mia Couto ou a gentalha de movimentos como o MIL que, aproveitando-se da confusão, procuram conseguir alguma projecção ou razão de ser para as suas ignóbeis existências. 
Jamais postulámos que o português era uma língua morta e inorgânica, pelo contrário. Sempre defendemos a língua lusíada como um organismo vivo e em constante mutação. Contudo, esta mutação processa-se de forma natural e não de um modo artificial, por decreto político-económico, completamente alheio aos princípios fundamentais da linguística.
É caso para pensar se institucionalmente fará algum sentido continuar-se a celebrar o 10 de Junho como dia de Portugal, em homenagem Luís Vaz de Camões. Quanto à Nossa Alma, desígnio maior desta Pátria mutilada, essa continuará para sempre orgulhosamente Portuguesa. De hoje em diante, mais do que nunca, ou connosco ou contra nós!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Os novos monstros do jazz nacional

Henrique Fernandes e João Filipe numa ilustração da autoria de
André Coelho.

Two White Monsters Around a Round Table é o nome de um dos mais interessantes duos de jazz portugueses da actualidade. Com uma abordagem nada ortodoxa ao nível desse género musical, este projecto, caracterizado pelo duplo diálogo entre a bateria e o contrabaixo eléctrico, nasceu na cidade do Porto em meados de 2009, do encontro entre os músicos João Filipe e Henrique Fernandes. O ecletismo musical de cada um dos interpretes, ligados a diversos projectos dentro dos mais variadíssimos espectros musicais, torna a sonoridade de Two White Monsters Around a Round Table deverás singular, captando a atenção até dos menos aficionados do jazz. A mistura entre a liberdade improvisadora e o carácter experimental confrontam neste projecto uma dicotomia caracterizada pela construção e desconstrução de estruturas musicais.
Em vésperas da edição de mais dois trabalhos originais, este duo portuense aproveitou agora para reeditar o seu EP promocional, há muito esgotado, distribuído ao longo da sua primeira tournée nacional, realizada durante 2010. Lançado no passado Sábado dia 22, pela editora e distribuidora Latrina do Chifrudo, este trabalho cuja gravação ficou a cargo de Gustavo Costa, igualmente responsável pela inclusão de alguma electrónica adicional, foi alvo nesta segunda edição de uma remasterização por parte de André Coelho que ilustra também o artwork deste trabalho. 
Esta nova edição limitada do EP de estreia dos novos monstros do nosso jazz de vanguarda, encontra-se disponível através da Latrina do Chifrudo, pela módica quantia de apenas 5€ mais portes.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Hoje é dia de eleições. E amanhã?

«Al día siguiente volverán a hablar de bancarrota y de intervención extranjera. ¡Pobre Portugal!»  
Miguel de Unamuno em Por tierras de Portugal y de España.

Representação da República numa gravura
da autoria de Álvaro Viana de Lemos.

Hoje os portugueses votam no seu salvador. Esta foi a principal ideia transmitida pela maioria dos candidatos à Presidência da República Portuguesa durante as suas campanhas. Todos os elegíveis mercenários falavam, quando deixavam literalmente de chafurdar o nome dos seus adversários na lama, em mudança, na necessidade de alcançarmos a tão almejada estabilidade política e económica, o reequilíbrio social e a sua sustentabilidade, entre tantas outras coisas.
Ficou no ar a promessa. Mais uma vez a promessa de que algo vai mudar, como se alguém dissesse: Coragem portugueses, desta vez é que vai ser. O povo, uma vez mais enganado, acorre às urnas e vota avidamente no candidato apoiado pelo seu partido, como quem participa numa qualquer sondagem desportiva sobre quem ganhará a próxima temporada desportiva, votando no seu clube de eleição.
Esta noite será a loucura das sondagens e dos directos nas respectivas sedes de campanha, onde a confiança dos últimos dias face aos resultados, se transformará na face de todos os candidatos derrotados, num sorriso amarelo de felicitações ao vencedor, num espectáculo sofrível, ao nível do Festival da Eurovisão ou da gala da Miss Mundo.
A grande questão prende-se com o dia de amanhã? Obviamente, a ressaca da euforia deste Domingo será caracterizada pela constatação da continuidade na mediocridade. Sem soluções à vista, os problemas continuarão a existir, caindo todas as promessas em saco roto. Uma vez mais, ninguém será responsabilizado pela incompetência e incumprimento criminoso dos objectivos delineados no programa eleitoral. A crise, essa estará sempre aí à porta, de pedra e cal.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Dissidente.info - Plataforma de Desintoxicação Cultural


Foi com bastante orgulho e reconhecimento que ontem nos deparámos com a divulgação deste nosso espaço na plataforma alternativa de informação e desintoxicação cultural dissidente.info, num gesto de tremenda generosidade por parte da sua equipa constituinte.
Com a sua génese no antigo inconformista.info, este espaço de divulgação não conformista e dissidente nasceu em meados de Novembro de 2010, representando, pelo seu passado histórico na blogosfera portuguesa, bem como pela qualidade dos seus conteúdos, uma das grandes referências da rede cultural digital nacional. Este é um projecto que merece ser acompanhado de perto e por isso o recomendamos a todos os nossos amigos e leitores.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

É preciso fazer uma Encomendação das Almas

«- É preciso fazer uma Encomendação das Almas. (...)
- Eu acho, Zé da Pinta, que tu te preocupas com as outras pessoas. Não há ninguém como tu.
Possivelmente, Zé da Pinta não o ouviu. Pelo menos, não parece tê-lo ouvido.
- Eu ainda não sei fazer isso sozinho. Podia acontecer qualquer coisa má, como aconteceu com o senhor António Maravilhas. D. Gonçalo, venha comigo fazer a Encomendação das Almas.
Não existe uma razão lógica e transparente que possa explicar a aceitação que Gonçalo Nuno deu ao pedido de Zé da Pinta. Isto deve ser entendido no sentido mais concreto e restrito da expressão: não há, não havia uma razão. (...)
Ao mesmo tempo que urinava nas calças sem se preocupar com as fraldas da incontinência, urinava também, com regalo acrescido, na Aldeia Global. (...)
Na última noite de Janeiro, uma noite em que havia bruma cerrada, a que o luar emprestava uma luminosidade branca, Gonçalo Nuno e Zé da Pinta, cinco minutos antes de soarem as doze badaladas na torre da igreja de Poiais da Santa Cruz, entraram no cemitério da aldeia, cujo portão não oferecia sérias resistências às mãos hábeis do rapaz.
Caminharam até ao centro do cemitério e aí se detiveram, envolvidos em rolos de bruma luminosa. Então, Gonçalo Nuno levantou a mão direita segurando a campainha que trouxera e disse três vezes em voz alta, enquanto badalava:
- Almas, acompanhai-me. (...)
Atrás deste, em procissão, vinham as almas dos defuntos. (...)
A procissão em que só dois participantes eram visíveis percorreu as ruas da aldeia com esses dois vivos a recitar alternadamente um Pai-Nosso e uma Avé-Maria.
Se fosse antigamente, abrir-se-iam as portas das casas e os habitantes juntar-se-iam ao cortejo, rezando, a encomendar as almas dos defuntos. Porém, como isto se passou numa época esclarecida, ninguém o fez porque havia impedimentos de peso. Na cidade abrira um novo shopping e os visitantes, nessa primeira noite, habilitavam-se a um grandioso sorteio cheio de valiosos prémios; uma estação de TV transmitia um desafio de futebol na Austrália, absolutamente crucial para o Campeonato mundial de sub-vinte; outra estação apresentava um programa em que os intervenientes contavam as suas desgraças em directo; outra, ainda, passava um softcore definitivo e a não perder.
Por tudo isso, a procissão não teve mais que aqueles dois participantes vivos. (...)
»
 Excerto de A Encomendação das Almas de João Aguiar.

Capa da 8ª edição do livro A Encomendação das
Almas
, lançado pelas Edições ASA.

A Encomendação das Almas é um livro fundamental para a compreensão do confronto entre dois mundos, completamente, antagónicos. Ao longo das suas páginas, penetrámos num mundo tradicional que definha às mãos de uma frívola modernidade, imposta pelos novos paradigmas da sociedade moderna. 
Escrito pelo recentemente falecido João Aguiar, autor de inúmeros trabalhos, entre os quais A Voz dos Deuses, A Hora de Sertório, Inês de Portugal, Navegador Solitário ou O Jardim das Delícias, foi por intermédio do nosso estimado amigo Flávio Gonçalves que,  há cerca de um ano atrás, tomámos conhecimento desta obra, crítica e caricatural da nossa época, sendo  por isso bastante natural a identificação do leitor com determinados episódios, alegóricos a acontecimentos dispersos e por todos, infelizmente, vividos ou presenciados, um pouco por todo o nosso Portugal.
Fazendo uma apologia do desprendimento material numa época do consumismo e materialismo primário, A Encomendação das Almas convida-nos ainda a conhecer a história de uma amizade, aparentemente impossível mas verdadeira, entre dois estranhos, resultante da relação entre um discípulo improvável que faz despertar um mestre num homem em fim de vida.
Para todos os que ainda não leram, aqui fica desde já a nossa nota de recomendação para esta obra, sintetizadora de uma comovente revolta prática contra o mundo moderno.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cultura e Identidade Goesa em revista

O Núcleo Lusófono da História da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias organiza no próximo dia 21 de Janeiro, pelas 18:00, no auditório Armando Gebuza, mais um interessante encontro cultural aberto a toda a comunidade científica e civil. Após a realização do seminário dedicado à vida e obra de Mendes Corrêa, realizado em Dezembro último, o programa de actividades deste grupo propõe agora a visualização de The Other - A Documentary about Goan Identity da autoria de Francisco Veres Machado. Trata-se de um documentário realizado ao longo de 4 anos de investigação sobre os mitos goeses que procura ainda responder a uma questão fundamental: poderá a identidade ser definida?
Após a projecção deste filme, haverá ainda lugar para as intervenções dos professores Teotónio R. de Souza (ULHT), Cristiana Bastos (ICS) e Rosa Maria Perez (ISCTE). A entrada é livre.

(Clicar no cartaz para ampliar.)
«Os mitos de Goa e os ícones da sua identidade são debatidos diariamente pela imprensa goesa e cidadãos comuns daquele antigo recanto do Império Português durante a hora do chá. Porquê?
50 anos após ter sido libertada da administração colonial portuguesa, tornando-se o 25º Estado da União Indiana, Goa tem vindo a debater, apaixonadamente, as questões da sua identidade. Por um lado, as autoridades usam o exotismo de uma nostalgia colonial para promover o turismo, por outro, os cineastas de Bollywood apropriam-se da iconografia cristã de Goa para romantizar os argumentos dos seus filmes. Mas, o que sentem e como reagem os goeses? Será possível identificar algum mito capaz de representar Goa ou os goeses?
Este filme centra-se na história social de Goa nos últimos 50 anos, analisando a forma como durante este período a "identidade" tem sido usada como argumento político. Acima de tudo, The Other aborda o conceito de identidade e sua fluidez.
»
 Extracto da sinopse de The Other.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Telma Monteiro vencedora do Baku Masters 2011

Telma Monteiro, judoca portuguesa, atleta
do Sport Lisboa e Benfica.

O mais recente sucesso desportivo português chegou, uma vez mais, de uma modalidade dita amadora, nomeadamente, do judo. O sucesso dos atletas nacionais na prática desportiva  desta modalidade de origem japonesa é há muito reconhecida, aquém e além fronteiras, tendo a Federação Portuguesa de Judo vencido e garantido importantes e honrosas classificações nos mais distintos torneios e competições internacionais.
Depois dos grandes feitos desportivos alcançados a nível interno e internacional pelo carismático atleta Nuno Delgado, que contribuíram bastante para a divulgação da modalidade junto do nosso grande público, sentimos agora uma extensão desse sucesso naquela que é hoje a grande embaixatriz do judo português. Estamos a falar de Telma Monteiro, a atleta do Sport Lisboa e Benfica, que ontem venceu o importante torneio de World Masters, na categoria -57 quilos, disputado em Baku, no Azerbeijão.
Apresentando-se numa excelente forma, tanto a nível físico como psicológico, a atleta portuguesa natural de Almada alcançou mais uma medalha de ouro, desta feita contra a campeã mundial em título, a nipónica Kaori Matsumoto. Ocupando actualmente a segunda posição do ranking mundial da modalidade, na sua categoria, Telma monteiro derrotou ainda neste torneio a atleta norte-americana Marti Malloy, seguindo-se Kifayat Gasimona do Azerbeijão e a sul-coreana Jan-Di Kim.
Com apenas 25 anos, Telma Monteiro é já considerada a melhor judoca portuguesa de sempre e uma das principais atletas desta modalidade a nível mundial.

Telma Monteiro no pódio junto das suas adversárias.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Sagrada Família

«Dentro da casa paira a divindade da Família. A velha lareira é um Santuário com as imagens dos Avós. A Lembrança prende-nos às suas almas, e a Deus, por intermédio delas.»
Teixeira de Pascoaes em Arte de Ser Português.

O fogo da lareira enquanto metáfora para a inextinguível chama
dos sagrados laços de sangue.

Apenas porque alguma coisas se destinaram a a ser eternas... Assim seja.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Revista Infernus com artigo sobre a antiga Galécia

«Até à chegada do cristianismo vários deuses foram adorados no Ocidente peninsular, em resultado de uma inesgotável fé. Muitos desses cultos influenciaram ou foram influenciados por outros, trazidos pelos que a esta terra se sentiram atraídos. Por sua vez, ao contrário do que veio a acontecer em muitos outros locais do mundo cristianizado, ou pelo menos de uma forma bastante mais acentuada, aqui, o cristianismo recebeu uma considerável herança dos vários cultos que o antecederam.»
José Almeida em O Enigmático e Misterioso Homem da Maça (Finis Mundi nº1).

O número 19 da revista Infernus, órgão oficial de expressão da Associação Portuguesa de Satanismo (APS), foi recentemente lançado, por ocasião da celebração do solstício de Inverno, contendo um interessante artigo sobre a antiga Galécia e o prolongamento dos seus mitos e  reminiscências culturais até aos nossos dias. Intitulado Gallaecia: Entre as Brumas do Mito, este artigo, assinado por José de Almeida e Júlio Mendes Rodrigo, atravessa como uma flecha os mundos da História, da Lenda, da Cultura e da Identidade, colocando a descoberto algumas curiosidades sobre esse velho território e sua influência ancestral no Portugal de hoje.
Este e os anteriores números da Infernus poderão ser descarregados e consultados livremente a partir do site da APS, na secção dedicada a esta revista. 

(Clicar na imagem para aceder ao PDF da revista.)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

3ª Festa Nuvem Voadora

Na próxima noite de Sábado, dia 15 de Janeiro, decorrerá no Hard Club, na cidade do Porto, um evento, marcadamente, ecléctico, denominado 3ª Festa Nuvem Voadora, organizado pela Associação Cultural Nuvem Voadora. Dedicada à promoção e divulgação artística, esta associação organizará nessa noite uma verdadeira mostra de talentos abrangendo áreas como a dança, performance, vídeo, música, poesia e artes circenses.
Destacamos a participação, nesta grande festa das artes, do interessantíssimo projecto musical Undara, cujo concerto de estreia havíamos já aqui anunciado, em Dezembro passado. Assim, para todos aqueles que perderam esse excelente concerto inaugural, no Museu Municipal da Póvoa do Varzim, aqui fica a oportunidade para assistir a uma nova apresentação ao vivo do mais recente projecto musical de J.A. (Johan Aernus).
O custo do bilhete é de 5€, preço único, permitindo o acesso a todos os espectáculos previstos na programação deste evento.
 
(Clicar no cartaz para ampliar.)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

José Mourinho eleito o melhor treinador do mundo

Protagonista português do FIFA Ballon d'Or 2011.
«Boa noite. Peço desculpa por falar em português, mas sou um orgulhoso português.»
José Mourinho.

Foi com estas palavras que José Mourinho iniciou o seu curto discurso de agradecimento pela vitória do  Prémio de Melhor Treinador do Mundo. Saudámos esta conquista para o desporto português, não apenas pelo acontecimento em si, mas pela pessoa em causa que, gostemos ou não, têm vindo a ser um importante embaixador de um Portugal de sucesso. Para aqueles que, frequentemente, criticam o futebol e o desporto em geral, discriminando a sua potencialidade enquanto factor promocional do nosso país, aproveitamos para lembrar, por exemplo, o empenho desinteressado do mais conhecido técnico português, na defesa da indústria corticeira portuguesa, em campanhas internacionais. Ser um grande português implica merecê-lo. Tanto pela excelência, como no amor à Pátria. 

 
Discurso de José Mourinho aquando da atribuição do prémio da FIFA para o
Melhor Treinador do Mundo.

Reinventando a reinvenção...

The Famous Cook, Stencil aplicado sobre parede,
localizado na Rua Miguel Bombarda, no Porto.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Terrorismo ortográfico

Por mais que tentemos combater as trevas que nos abraçam, há que reconhecer a sabedoria de Fernando Pessoa que, na sua obra Mensagem, utilizou a palavra nevoeiro para descrever a nossa época. Efectivamente, vive-se hoje num tempo de desnorte e confusão, onde até as mais belas e puras almas se perdem do seu caminho. Esta neblina permanente permite aos tratantes bandidos e salteadores tomarem as rédeas do caos e desgoverno, precipitando toda uma civilização para um abismo, infinitamente, profundo.
Numa sociedade em que até as Instituições mais primárias falham, de duas coisas todos podemos ter certeza. Muito há que mudar. Muito há para fazer.
Assim, foi com um profundo horror que tomamos conhecimento de mais uma campanha institucional em prol da mutilação e descaracterização da Língua Portuguesa. Em causa estão um conjunto de cartazes, utilizados para promover o programa Escola Electrão, que procura sensibilizar para a necessidade da reciclagem e preservação da natureza e ecossistema. Na sua mensagem, nada de errado, pelo contrário. Aliás, somos os primeiros a defender a necessidade de promover a responsabilidade cívica de todos os cidadãos, nomeadamente, no respeito pelo próximo, pela manutenção do espaço público, da natureza e meio ambiente. Contudo, é a forma como aparecem os títulos nesses cartazes que nos preocupa. 
Numa altura em que os verdadeiros Educadores, paladinos de uma nobre, mas quase utópica e hercúlea causa,  combatem exasperadamente contra o analfabetismo funcional ou iliteracia, trabalhando com os mais variados grupos etários da nossa sociedade, parece-nos completamente contraproducente a utilização de slogans como: Televisaurus Reex, Aquecedoris Loucus, Radius Caladus, Maquinum Arcaicus ou Computadoris Obsoletus. A tentativa de de aproximação destas frases ao latim, dando uma ideia de algo velho e antiquado, parece-nos, à primeira vista, ficar de lado. Lembrando antes a linguagem estapafúrdia  e desmiolada, utilizada na generalidade das comunicações escritas via SMS, chat, entre outras.
É lamentável que o Ministério da Educação pactue com situações desta natureza, particularmente, quando a frase de ordem é salvar a Língua Portuguesa. É caso para questionar, a quem serve esta confusão?

Exemplos de alguns dos cartazes espalhados pelas escolas portuguesas,
promovendo a campanha de reciclagem de electrodomésticos do programa
Escola Electrão, patrocinada pelo Ministério da Educação.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Memória de um Povo

«A relação do camponês com a Terra e com a Vida é quase sacral. Ninguém é tão sensível à Alma Comum que anima e faz respirar todos os seres, esse panteísmo cósmico que vê Deus em tudo e tudo em Deus. Ninguém tem uma alma tão predisposta, tão aberta à beleza, à gravidade, à majestade da Natureza. O tempo para ele não é o tempo abstracto, mecânico dos relógios; mas o tempo concreto e criador do mundo da vida. Sabe e sente que há um abismo intransponível entre o mundo mecanizado da indústria, que cria milhares de artefactos por dia, por hora; e o mundo lento e incansável e laborioso da Vida, que, sem pressa e sem descanso, como fazem as estrelas, leva duzentos anos a criar um castanheiro ou um frondoso carvalho.»
Isabel Silvestre em Memória de um Povo.

Isabel Silvestre na capa do seu livro, intitulado
Memória de um Povo.

A não referência neste espaço ao recém editado livro de Isabel Silvestre, constituiria um autêntico crime de lesa-pátria. Como se já não tivesse contribuído o suficiente para manter forte o fogo interior da Alma Portuguesa, aconchegando, encantando e comovendo com a quase divina doçura da sua voz, a ex-professora primária, natural da aldeia de Manhouce, situada nas imediações de S. Pedro do Sul, lançou durante o passado mês de Dezembro um livro intitulado Memória de um Povo, editado pela Temas e Debates / Círculo de Leitores. Nele podemos encontrar uma recolha de lengalengas, histórias, orações, modos de falar, expressões, pregões, provérbios, adivinhas, quadras, romances, cantares ao desafio, recordações, pautas musicais, entre outros tesouros constituintes da memória colectiva daquela localidade e região. Um livro obrigatório, à semelhança de toda a sua discografia.


Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a Deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
Mas não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O índio brasileiro: um adorador de Deus ou do Diabo?

No rescaldo da Epifania, aproveitamos o momento para lembrar duas importantes pinturas do nosso património artístico quinhentista. A primeira, uma Adoração dos Reis Magos, obra de inícios do século XVI, da autoria do mestre Grão Vasco; a segunda, O Inferno, um trabalho de oficina, datado de finais da primeira metade do século XVI, cuja identidade dos autores se desconhece quase por completo. 
Ambos os quadros representam obras bastante interessantes, tanto do ponto de vista plástico, como iconográfico, podendo-se a este nível proceder a profundas e extensas dissertações. Contudo, é um dos pontos existentes em comum entre os dois quadros que gostaríamos de destacar - a presença do índio.
Com a descoberta oficial do Brasil, protagonizada por Pedro Álvares Cabral no ano de 1500, Grão Vasco terá decidido introduzir na sua Adoração dos Reis Magos esse novo elemento exótico, trazido pelos relatos dos navegadores portugueses vindos de Terras de Vera Cruz. A mensagem era clara. Mais um povo, mais uma raça, para a família de Cristo, introduzida aos desígnios da civilização cristã pela mão dos portugueses.  

Adoração dos Reis Magos, pintura da autoria do
mestre Vasco Fernandes, exposta no Museu Grão
Vasco, representando um dos Reis Magos como
um índio brasileiro.

Contudo, a verdade estava longe de ser não simples e linear. A evangelização dos índios brasileiros revelou-se, gradualmente, mais difícil do que inicialmente se esperava. Por outro lado, os navegadores portugueses à chegada a Terras do Pau-Brasil, ao verem as índias desnudas, facilmente perdiam a vontade de regressar, cedendo rapidamente às tentações carnais, julgando terem encontrado o paraíso terrestre, a Ilha dos Amores cantada por Luís Vaz de Camões na sua epopeia Os Lusíadas.
Deste modo, a figura do índio foi, rapidamente, demonizada em virtude da sua resistência à cristianização, bem como à aculturação civilizacional perpetrada pelos portugueses. Não será por isso de estranhar que, apenas alguns anos após Grão Vasco ter pintado a sua Adoração dos Reis Magos, retratando um índio como membro da grande família cristã, tenha nascido numa oficina de pintura portuguesa a obra O Inferno, retratando o nativo brasileiro, não como um fiel de Deus, mas como o próprio Diabo.

O Inferno, pintura de oficina de autores desconhecidos, exposta no Museu
Nacional de Arte Antiga. De salientar a representação do Diabo, assumindo
o aspecto de um índio brasileiro.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Feliz Epifania!

Adoração dos Reis Magos, painel de azulejos neoclássico, de finais do século XVIII, da autoria do artista
Francisco de Paula e Oliveira, pintor ceramista ligado à Fábrica do Rato até meados de 1820. Esta peça faz
parte da exposição permanente do Museu da Cidade em Lisboa.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Para quê o halloween quando temos as janeiras?

Gravura alusiva às janeiras (autor desconhecido).

É já antiquíssima a tradição das janeiras ou de cantar as janeiras. Na região norte de Portugal, estes cantares, dependendo das localidades, começam a ouvir-se na noite de Natal, prolongando-se até à festa de Reis, numa espécie de Acção de Graças profana pelo nascimento do Menino Jesus. 
Pelas ruas desfilam os grupos, conhecidos por janeireiros, munidos de ferrinhos, molhos de chaves, pandeiros, tambores, gaitas-de-foles, acordeões, violas, guitarras e outros instrumentos, entoando cânticos tradicionais, dedicando serenatas de porta em porta, esperando uma pequena contribuição para os foliões, seja em dinheiro ou em géneros, em especial os vinhos e enchidos e outras iguarias, como o presunto fumado. Nos caso de se depararem com famílias mais avaras, que nem as suas portas abrem, os janeireiros, gozando de uma completa impunidade, um pouco à semelhança dos caretos, levam a cabo uma pequena vingança, dedicando aos da casa pregões menos simpáticos e claramente pouco cristãos. Aqui vos deixamos um como exemplo:
Esta casa cheira a unto.
Aqui mora algum defunto

Esta casa cheira a breu.
Aqui mora algum judeu.

Esta casa é tão alta,
Forrada de papelão.
O senhor que n'ella mora
É um grande velhacão.

Esta casa é tão alta,
Forrada de panno crú.
O senhor que n'ella móra
Tem um buraco no...
 Recolha de Alberto Pimentel, publicada em As Alegres Canções do Norte.

Deste modo, sugerimos que, apesar da crise em que mergulhamos nesta véspera de Reis, caso alguém vos bata à porta para cantar as janeiras, não lhes neguem, pelo menos, um copo de vinho e o aconchego da lareira.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Conferência transdisciplinar sobre Mendes Corrêa

Professor Doutor Mendes Corrêa.

Na sequência das comemorações do cinquentenário do desaparecimento de Mendes Corrêa, o Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto organizará no próximo dia 6 de Janeiro, a partir das 9:30, no Palacete Viscondes de Balsemão, no Porto, uma conferência transdisciplinar que procurará percorrer a extensa vida e obra deste insigne intelectual português.
Este evento terá entrada livre e terminará por volta das 18:30, com uma visita ao Museu de História Natural e a outros núcleos museológicos da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

No Domínio dos Tempos

«O ciclo festivo do Inverno compreende, no Nordeste Transmontano, o período que se inicia no solstício e se prolonga até ao S. Sebastião, com maior incidência nos dias de Natal, Santo Estevão, Ano Novo e Epifania.
O sagrado e o profano, sendo duas componentes de qualquer acto festivo, surgem aqui relacionados de forma algo sui generis, diferenciados de lugar para lugar, em que tanto se demarcam radicalmente como se aproximam e, por vezes mesmo, se confundem, em harmoniosa e espontânea convivência. O que acabo de afirmar aplica-se igualmente à bipolarização frequentemente referida entre o cristão e o pagão. De onde esta hipótese me parece mais sintetizadora: o sagrado e o profano, o cristão e o pagão são uma constante na ligação estreita com a natureza e o seu culto; a terra e o sol, a fecundidade e a abundância, o acto profiláctico de purificação das comunidades e o acto propiciatório à divindade (os deuses, ab origine e os santos na actualidade) de dar para receber muito mais; uma atitude cristã de louvor e uma espécie de paganismo funcional, a relação pragmática do homem com o sobrenatural.
»
António Pinelo Tiza em Inverno Mágico: Ritos e Mistérios Transmontanos.

Foi em 2009 que estreou No Domínio dos Tempos, um documentário de Victor Salvador sobre os tradicionais caretos, essas populares figuras que animam as Festas de Inverno do Nordeste transmontano. Este trabalho surge na sequência de todo um renascimento da cultura tradicional do Trás-os-Montes profundo, responsável pela revitalização telúrica daquele espaço mágico do território português que, até há pouco tempo atrás, padecia do abandono e esquecimento crónico, fruto de décadas de constantes movimentos migratórios dos seus habitantes naturais.
Este filme representa o mais actual trabalho vídeo-documental subordinado aos caretos, um dos aspectos mais particulares das celebrações de Inverno no Norte de Portugal, traçando um riquíssimo retrato histórico-etnográfico, capaz de ligar o passado com o presente, o sagrado com o profano, o paganismo com o cristianismo, o material com o sobrenatural.
Com banda sonora a cargo de alguns membros de Sangre Cavallum, sob o nome de Fonoterra,  No Domínio dos Tempos poderá ser adquirido por intermédio da Alfândega Filmes, distribuidora responsável pela inserção deste documentário no circuito comercial português, ou ainda através da loja virtual do site oficial dos Caretos de Podence.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mais Europa e menos União Europeia?

Esta é a grande questão que serve de título à conferência de Hans Martens, director do European Policy Centre, a realizar-se no próximo dia 25 de Janeiro, pelas 19h, no Centro Cultural Gulbenkian, em Paris. A sua intervenção debruçar-se-à sobre alguns desafios europeus, nomeadamente quanto a questões económicas, o problema energético e ambiental, a política externa concertada, entre outras.

Hans Martens, director do European Policy Centre.

Nada melhor do que começar o ano olhando para um dos problemas que mais nos afecta diariamente, sem muitas vezes dar-mos por isso, ou seja, a questão do europeísmo internacionalista que, aos poucos, nos vai esmagando e sufocando. Apesar de se esperar mais do mesmo quanto ao posicionamento do orador e respectivo apresentador, o antigo comissário europeu António Vitorino, acreditamos que, caso haja espaço para debate e troca de ideias, este possa ser um evento com algum interesse para todos aqueles que nele possam participar.
A entrada é livre mas limitada ao número de lugares disponíveis, recomendando-se assim uma marcação prévia através do número 0033-0153239393.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Vamos cantar as janeiras!

As Janeiras de Frederico Jorge.

As janeiras não se cantam
Nem aos reis, nem aos coroados,
Mas nós vimol-as cantar
Por ser annos melhorados.

Gosae sim, senhores, sempre
Mil prazeres venturosos,
Que os bons annos principiem
A fazer-vos mais ditosos.

Os bons annos só se cantam
A quem contra o tempo rude,
Como vós, numéra os passos
Pelos passos da virtude.

Bons annos, felizes annos
Aqui vos vimos cantar:
Se o céo cumprir nossos votos,
Muitos haveis de contar.