sábado, 4 de dezembro de 2010

Francisco Sá Carneiro nos 30 anos da sua morte

«No final da década de 60 do século XX, Portugal era um país situado numa difícil encruzilhada. Este fora, aliás, um século de certo modo atípico na história nacional, pela modorra social em que se vivia. Agora, os ventos mudavam de feição. E um homem haveria de emergir com o ímpeto de um furacão. (...) Em poucos anos, Francisco Sá Carneiro consegue impor, é certo que com outros, um modelo de democracia pluralista de convergência europeia. O poder é o seu desígnio e haverá de alcançá-lo. Mas a tragédia é a marca da sua vida, a vida de alguém que sente que corre contra o tempo.»
Manuel Margarido em Francisco Sá Carneiro.

Retrato e Francisco Sá Carneiro.

Será para sempre impossível avaliar a verdadeira dimensão do impacto que Francisco Sá Carneiro teria tido na política portuguesa de finais do século XX, caso a sua vida não tivesse terminado de forma tão abrupta e violenta, no trágico dia 4 de Dezembro de 1980.
Catapultado para a ribalta ainda durante o Estado Novo, através da formação da Ala Liberal dentro do partido único de então, a União Nacional, Sá Carneiro destaca-se pela tentativa de abertura e democratização do regime, resultando na manutenção da sua figura política após o 25 de Abril, tendo sido um dos fundadores do Partido Popular Democrático (PPD, hoje PSD), juntamente com Pinto Balsemão, e Joaquim Magalhães Mota.
Procurando marcar uma posição no centro da roda-dos-ventos da política portuguesa pós-25 de Abril, declarando guerra à esquerda que procurava apossar-se do país, Francisco Sá Carneiro chegou a Primeiro-Ministro de Portugal, à frente do VI Governo Constitucional em 1980. Em Dezembro do mesmo ano, aquando de uma deslocação ao Porto para apoiar a candidatura de  António Soares Carneiro à Presidência da República, o Cessna em que viajava, juntamente com Snu Abacassis, Adelino Amaro da Costa e restante comitiva, despenha-se em circunstâncias misteriosas, praticamente após a descolagem do aeroporto de Lisboa, na zona habitacional de Camarate, resultando na morte de todos os ocupantes do avião.
A hipótese de atentado foi imediatamente levantada, conjecturando-se que o alvo seria Adelino Amaro da Costa, na altura Ministro da Defesa, em virtude de um processo, por ele iniciado, levando ao desmantelamento de uma suposta rede de tráfico de armas, dentro das próprias Forças Armadas. Camarate tornou-se desta maneira numa espécie de sinónimo de conspiração. As várias investigações levadas a cabo por especialistas portugueses e estrangeiros chegaram a vários resultados, algumas vezes antagónicos, não obstante, ficou por demais evidente a possibilidade de atentado, cujos vis móbiles ficarão para sempre ocultados dos anais da História de Portugal.

Filme Camarate de Luís Filipe Rocha.

Hoje, data em que se perfaz 30 anos sobre esse fatídico dia 4 de Dezembro, aproveitamos para recomendar um interessante filme de 2001, realizado por Luís Filipe Rocha, intitulado Camarate. Não sendo um marco da cinematografia portuguesa, este filme impõe-se pelo carácter documental que a própria narrativa ficcional proporciona, resultando num interessante suporte didáctico para todos os que mergulham num primeiro olhar sobre o caso Camarate. Uma sugestão para uma sessão de cinema familiar neste fim-de-semana de inverno.

 
Excerto do filme Camarate de Luís Filipe Rocha.

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