terça-feira, 26 de julho de 2011

Quatro quadras de Pessoa

O Desterrado, escultura da autoria de Soares
dos Reis (séc. XIX).

Compreender um ao outro 
É um jogo complicado 
Pois não sabe quem engana 
Se não estará enganado

*

Entreguei-te o coração,
E que tratos tu lhe deste!
É talvez por'star estragado
Que ainda não m'o devolveste...


*

Meu coração a bater
Parece estar-me a lembrar
Que, se um dia te esquecer,
Terá ele que parar.

*

Não gosto de ti, José.
A razão não sei qual é.
Gostar é como ter fé.
Tem paciência, José...


Fernando Pessoa em Quadras (Edição de Luísa Freire).

domingo, 24 de julho de 2011

34ª Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde


Passadas mais de três décadas de realizações consecutivas, a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde continua a afirmar-se como uma referência nacional e internacional em certames desta natureza, sobretudo devido à sua capacidade mobilizadora, não só dos artesãos nacionais, mas também no que respeita ao número de visitantes que anualmente afluem a este repositório da memória tradicional portuguesa.
Considerada ao longo dos últimos anos como umas das maiores e melhores feiras do género a realizarem-se em Portugal, ela revela ao longo de todos estes anos um esforço perseverante de defesa e divulgação das artes tradicionais portuguesas.
Com a presença de mais de 200 artesãos e abrangendo a totalidade geográfica dos nosso País, a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde é presentemente um evento de referência incontornável, atraindo uma média de 400 mil visitantes por ano.
Como tem vindo a ser costume ao longo dos últimos anos, a presente edição deste certame terá também um país convidado que desta feita será a Tailândia, por ocasião das celebrações dos 500 anos de relações entre Portugal e o Sião.
Organizada em parceria pela Câmara Municipal de Vila do Conde e pela Associação para Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde, a 34ª Feira Nacional de Artesanato iniciou-se ontem, dia 23 de Julho, prolongando-se até ao próximo dia 7 de Agosto. A entrada é livre.

sábado, 23 de julho de 2011

Lembrar Amália, recordar Portugal!

A Google voltou hoje a destacar e homenagear a cultura portuguesa, recordando o 91º aniversário de Amália Rodrigues, uma das maiores divas que Portugal e o mundo alguma vez conheceram. 
Aclamada mundialmente pelo seu incomparável talento e a singular força da sua presença, Amália Rodrigues deu voz a Portugal, não sendo despropositado invocar também a memória de António Variações, outro importante vulto da música e cultura portuguesa, que via nos cabelos da fadista a nossa bandeira, no seu corpo o nosso estandarte e na sua voz uma manifestação viva da nossa existência colectiva. Nascida a 23 de Julho de 1920, Amália deixou-nos a 6 de Outubro de 1999, legando à nossa memória e posteridade um papel de relevo atribuído ao fado enquanto instituição imaterial edificada dessa estranha, mas bastante portuguesa, forma de vida.

Doodle evocativo do 91º aniversário da diva Amália Rodrigues utilizado pelo motor
de busca Google.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Poema Português

Ao último Nan Ban Jin, em mais uma partida para o Oriente.

Contracapa de um caderno de desenhos de António Dacosta.

Poema Português

Ó minha terra de nevoeiros míticos
De imerecidas serras frescas
O sol que aquece os teus dias não é nulo
Nem os epistémicos deuses que te espreitam
Do alto sobre as tuas sete colinas
Ávidas estátuas tristes de serem velhas sombras
Antigas e só oníricas de vez em quando
Deixai pois ó pretas gravatas públicas da verdade
Deixai o sonho ser tão real como são
As pedras os muros as casas as amplas cidades
A morna brisa que te aquece as noites
Há-de amanhã soprar outra e outra vez
E tudo o que no redondo mundo é vivo
Será vida como agora a vejo eternamente a mesma.

António Dacosta em A Cal dos Muros.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O teatro da vacuidade ou a impossibilidade de ser eu

É hoje apresentado às 18:30, na FNAC do Chiado, em Lisboa, o mais recente livro de Paulo Borges, intitulado O teatro da vacuidade ou a impossibilidade de ser eu. Na linha de Uma Visão Armilar do Mundo, o autor reuniu neste livro uma série de artigos que desta feita versam, essencialmente, sobre Fernando Pessoa e toda a sua idiossincrasia face a um Portugal universal, farol do tão desejado Quinto Império. Nesta análise bastante sui generis do pensamento pessoano, Paulo Borges não se esquivou de interligar os mundos do autor e pensador português, com o de outros autores como António Machado, Jorge Luis Borges e Emil Cioran.
As honras desta apresentação caberão a Miguel Real e Vasco Silva que falarão na presença do autor da obra.

«Neste livro pensamos com Pessoa alguns dos temas que com ele comungamos: a experiência da vida como teatro heteronímico; a ficcional (im)possibilidade do(s) eu(s) e do mundo como ilusão ou jogo criador; o vislumbre do entre-ser, isso que (não) há entre uma coisa e outra, consoante a revista Cultura ENTRE Culturas; estados não conceptuais nem intencionais de consciência; os sentidos múltiplos de Portugal, Lusofonia e Quinto Império, na linha de Uma Visão Armilar do Mundo. Pessoa redescoberto pela filosofia, também em diálogo com António Machado, Jorge Luis Borges e Emil Cioran.»
 Paulo Borges sobre O teatro da vacuidade ou a impossibilidade de ser eu.

domingo, 17 de julho de 2011

Fundação Lusíada

«A Fundação Lusíada nasce da consciência de uma responsabilidade: responsabilidade de um grupo de portugueses de pensamento português e de vontade portuguesa, perante os seus compatriotas exilados dentro das fronteiras nacionais ou emigrados e espalhados pelo mundo; perante os que foram portugueses e hoje já não o são, mas guardam dentro de si a semente imorredoira de um projecto colectivo de civilização; e perante os que, nacionais de outras nações, integrados politicamente na sua cidadania, contudo sentem bem a importância de um entendimento supra-nacional, com fundamento na cultura e língua lusíadas.
Numa frase que se tornou como que a legenda ou mote da Fundação: “Dar aos portugueses um pouco mais da consciência de si próprios. Dar às comunidades um melhor sentido da sua ligação às origens”. Esta, a doutrina que a Fundação se propôs no instante em que foi concebida, criada e juridicamente instituída em 6 de Março de 1986. Ela permanece viva e farol nas actividades da instituição que se propôs, por isso, “realizar uma obra destinada ao bem comum e à utilidade pública, sem quaisquer fins lucrativos, inteiramente à margem de objectivos partidários e ideológicos, em espírito de serviço e colaboração com todas as instituições públicas e organismos privados de carácter cultural convergente”.»
Dr. Abel de Lacerda Botelho sobre a Missão da Fundação Lusíada.

(Clicar na imagem para aceder ao site da Fundação Lusíada.)

A Fundação Lusíada foi criada por acto notarial público no Cartório Notarial de Vila Real a 6 de Março de 1986, tendo sido seu fundador o Dr. Abel A. M. de Lacerda Botelho. Os objectivos e propósitos últimos desta Instituição estiveram sempre bastante vincados nos estatutos, reveladores do seu interesse máximo em promover a  «defesa e divulgação da língua e da cultura portuguesa nos países de língua portuguesa, nos países onde existem comunidades lusas e em qualquer outro país onde tal se torne útil ou necessário». 
Apresentada publicamente a Portugal e ao mundo a 19 de Maio de 1986,  na cidade de Lamego, numa cerimónia que contou, entre outras personalidades, com a presença de António Quadros, a Fundação Lusíada começou desde logo a reunir em seu redor alguns dos principais nomes da esfera cultural e filosófica portuguesa como Dalila L. Pereira da Costa ou Pinharanda Gomes. As principais acções da Fundação Lusíada passaram sobretudo, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, pela organização em Portugal e no estrangeiro de encontros, colóquios e conferências subordinados à cultura, língua, história e pensamento portugueses. Contudo, o principal e mais valoroso contributo desta Fundação reflecte-se na sua importantíssima acção editorial, tendo publicado até esta data uma série de obras monográficas relativas a actas de colóquios e encontros subordinados a temáticas culturais inerentes à sua essência, bem como de trabalhos originais consagrados à cultura, pensamento e espiritualidade pátria.
Aparentemente adormecida nos últimos anos, a Fundação Lusíada parece agora dar sinais de querer redespertar, tendo apresentado no início deste mês o seu novo espaço virtual, visitável em www.fundacao-lusiada.org.
À Fundação Lusíada, as nossas boas-vindas ao ciberespaço e o nosso mais profundo agradecimento pela dedicação e empenho ao longo dos vinte e cinco anos da sua nobre existência, em prol da promoção e defesa da Língua e Cultura Portuguesa.

sábado, 16 de julho de 2011

Portugal é Portugal porque é Portugal!


O presidente 'Barraca' Obama lembrou hoje que os Estados Unidos não são como Portugal.
Efectivamente somos distintos e, felizmente, a cultura, a história, a civilização e os seus princípios fundamentais, edificadores de urbanidade e humanidade, estão do nosso lado. 
Ao presidente dos Estados Unidos recomendamos que aprenda connosco, com o nosso exemplo. Talvez assim, um dia, os americanos possam deixar de ser um bando de cowboys genocidas, uns desperadoes em busca de uma história e fortuna fácil, abandonando por fim o reduto de ignorância primitiva na qual se entrincheiraram desde a sua independência.
Deus os ajude e abençoe!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Novo (des)acordo ortográfico, a institucionalização da asneira!

No enorme deserto do vazio em que a imprensa portuguesa tem vindo a mergulhar, subsistem ainda alguns baluartes de desintoxicação cultural, responsáveis por um serviço informativo sério e isento, completamente livre de quaisquer grupos de pressão ou outros órgãos de tirania. 
Há 35 anos nas bancas, o semanário O Diabo tem vindo a passar, como tantos outros periódicos, por momentos bons e menos bons. Felizmente, desde a chegada de Duarte Branquinho, autor do blog Pena e Espada, à direcção do jornal, a qualidade desta publicação tem vindo a aumentar de uma forma bastante notória. Melhores artigos, maior eficácia na sua relação com o leitor, maior proximidade da realidade, maior cuidado e atenção face a questões importantes da sociedade portuguesa, tanto a nível político como social, económico ou cultural, entre outros aspectos que foram efectivamente melhorados.
De nossa parte destacamos o empenho na tentativa de alertar os portugueses para o triste caso do (des)acordo ortográfico, aparentemente aceite com a maior das naturalidades pela grande maioria da imprensa nacional, salvo algumas honrosas excepções. A título de exemplo, chamamos a atenção para o editorial da edição de 5 de Julho, intitulado Em defesa da nossa língua, bem como para a entrevista realizada no número desta semana ao escritor, tradutor e ex-eurodeputado Vasco Graça Moura. 
Assim, pela importância e pertinência deste tema, tomámos a liberdade de publicar neste espaço a entrevista a esse forte opositor do (des)acordo ortográfico, lembrando uma vez mais que nunca é tarde para salvaguardarmos a nossa cultura. 

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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Festival Internacional de Polifonia Portuguesa

«Os compositores de música religiosa, sobretudo quando eram mestres das capelas de música, não compunham por diletantismo nem por encomenda. Tinham a consciência da missão que lhe estava reservada dentro das funções que exerciam ao serviço da Igreja e tinham que pensar que a música que escreviam não era apenas destinada ao louvor e glória de Deus, mas contava com a assistência dos Ofícios litúrgicos e impunham-se impressioná-la ao ponto de levantar os espíritos para Deus.»
José Augusto Alegria em Polifonistas Portugueses.

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A Polifonia Portuguesa constitui uma importante parte do património musical nacional, encerrando em si um valor inestimável. Compositores como Duarte LoboPedro de Cristo, Filipe de MagalhãesManuel Cardoso, Francisco Martins, Manuel Mendes, entre inúmeros outros, espalharam o seu talento pelo velho continente e, em alguns casos, também pelo novo mundo, aproximando o fiel a Deus, através dessa linguagem universal que se dá pelo nome de música. A beleza das composições portuguesas de tradição polifónica, empreendidas durante os sécs. XVI e XVII, conquistaram no seu tempo um lugar de destaque entre as várias escolas europeias, garantindo desse modo um lugar de destaque na história universal da música.
A necessidade de promover, estudar e manter vivo este importante legado da cultura portuguesa levou-nos já, noutras ocasiões, a promover neste espaço a Cappella Musical Cupertino de Miranda que apresenta agora, com a Fundação Cupertino de Miranda, o I Festival Internacional de Polifonia Portuguesa, a decorrer durante os dias 22, 23, 24, 29, 30 e 31 de Julho, nas cidades de  Amarante, Braga, Guimarães, Ponte de Lima, Santiago de Compostela (Espanha) e Vila Nova de Famalicão. A integrar estes concertos estarão, para além da Cappella Musical Cupertino de Miranda, vários organistas internacionais convidados.

Programa

22 de Julho
21h30, Sé de Braga

23 de Julho
18h00, Igreja Misericórdia, Ponte de Lima
22h00 Igreja São Gonçalo, Amarante

24 de Julho
18h00, Mosteiro de Tibães, Braga
22h00, Igreja Bom Jesus, Braga

29 de Julho
21h30, Igreja Mosteiro Landim, Vila Nova de Famalicão

30 de Julho
19h00, Igreja de San Martín, Santiago Compostela

31 de Julho
21h30, Igreja N. Sra. Oliveira, Guimarães

Todos os espectáculos deste festival serão de entrada livre e gratuita. Para mais informações, a organização estará disponível através do número de telefone (+351) 252301650.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Triste Noivo

Romance à morte e memória do príncipe Dom Afonso de Portugal, filho único e herdeiro de D. João II, falecido a 13 Julho 1491. 


Triste Noivo

Falando estava a rainha
Em seu palácio real,
Co'a infanta de Castela,
Princesa de Portugal.

Casada era a infanta
Nem sete meses havia,
Viu chegar um cavaleiro
Que más novas lhe trazia.

- Novas voa trago, Senhora,
Más novas, de grande mal:

Que morre vosso marido,
Infante de Portugal.

Caindo do seu cavalo
Nas ribas do areal,
Rebentou-lhe o fel do corpo,
O bom infante real.

Vestiu um vestido preto,
Por mais tempo lhe não dar;
Três criados atrás dela,
Sem a poder alcançar.

O pranto que ela fazia
As pedras punha a chorar;
Os seus ais, quando ela chaga,
O infante vão acordar.

- Onde vindes vós, infanta,
Quem tal nova vos foi dar?
Ver o vosso desamparo
A minh'alma faz penar!

Daqui não vos ficam filhos
Que vos custem a criar;
Ide-vos para Castela,
Cedo vireis a casar...

E assim morreu Dom Afonso,
Infante de Portugal,
Lá perto das águas frias,
Nas ribas do areal.

terça-feira, 12 de julho de 2011

III Jornadas do Seminário Medieval de Literatura, Pensamento e Sociedade (SMELPS/IF/FCT)

«Como é evidente, a escrita medieval é inicialmente monopólio da Igreja. Só a partir do século XII começa a ser usada também pelos príncipes e senhores, mantendo-se, no entanto, até  aos finais do século XV, o controle clerical sobre toda a escrita, mesmo a que a dimanava do poder político. Ora a escrita clerical dita as normas, expõe as crenças, legitima as práticas, mas não descreve a realidade. No fim do Império Romano, a Igreja, tendo alcançado uma posição de poder, combate a desordem bárbaras, defende a paz social, a hierarquia e o respeito pela lei. Carlos Magno consagra o princípio de que o poder terrestre tem como objectivo final instaurar o Reino de Deus sobre a Terra. A sociedade cristã deve aproximar-se tanto quanto possível do seu modelo ideal que é a Jerusalém celeste.»
José Mattoso e Bernardo Vasconcelos e Sousa em História
da Vida Privada em Portugal: a Idade Média
.

(Clicar na imagem para ampliar.)

Inicia-se amanhã, pelas 10h, na Círculo Universitário do Porto, o III Seminário Medieval de Literatura, Pensamento e Sociedade que se prolongará até à próxima Quinta-Feira, dia 14 de Julho. Ao longo destes dois dias de trabalho, investigadores nacionais e estrangeiros debaterão várias temáticas subordinadas às áreas da Literatura, Pensamento e Sociedade durante o período da Idade Média, à luz de pressupostos metodológicos de carácter eminentemente interdisciplinar. 
Organizado com o apoio do Instituto de Filosofia e do Departamento de Estudos Portugueses e Românicos da FLUP, este seminário é de entrada livre, no entanto, a organização solicita um breve contacto prévio através do seguinte endereço de correio electrónico: seminariomedieval@gmail.com.

sábado, 9 de julho de 2011

Jorge Lima Barreto, o Musonauta (1949-2011)

«Ao longo de quase três décadas de escrita ininterrupta, Jorge Lima Barreto construiu e legitimou, por mérito próprio, o seu campo de estudo - um amplo espectro de linguagens estético-musicais que vão da vanguarda erudita ao jazz, e do minimalismo às componentes musicais associadas às novas artes performativas e ao multimédia. (...)
Uma Cultura enriquece-se, indiscutivelmente, ao manter vivos as suas raízes e o seu património histórico-musicais, mas castra-se, envelhece e morre sem geração se não souber extrair dessa consciência do seu passado a energia para investir na criação artística permanente, capaz de continuar, a cada momento, a constituir novo património. Por isso - e porque, ainda por cima, esta negação enfática da contemporaneidade  tem muito a ver com a subordinação crescente da nossa vida cultural aos interesses e estratégias dos grandes grupos económicos multinacionais em que assentam a indústria discográfica e audiovisual e o mercado concertístico - não posso deixar de me solidarizar com este verdadeiro sacerdócio de Jorge Lima Barreto em prol das músicas do presente, que é também, em última análise, parte de um combate mais geral indispensável contra um poder económico ilegítimo, alienante e destruidor.
Mas Jorge Lima Barreto não incide de forma acrítica e neutra, como o faria um antropólogo, sobre a totalidade das músicas contemporâneas. Assume preferências, mesmo que eclécticas, faz escolhas eminentemente idiossincráticas, e é assim que privilegia inequivocamente os domínios da criação musical que contêm uma nítida vertente experimental e que se situam, por isso mesmo, à margem da produção massificada do mercado dos sons, pensada para o fabrico e venda constantes de objectos musicais aferidos pelos padrões e expectativas médios do público consumidor. Também aqui há um gesto político e ideológico com o qual me identifico profundamente: o da recusa da globalização uniformizadora, o da valorização das correntes minoritárias, o da salvaguarda, afinal, do direito à diferença. (...)
Lima Barreto ama apaixonadamente as "suas" músicas - todas elas e cada uma delas -, e este amor transparece de forma nítida na sua escrita como nas suas próprias opções de vida. Raras vezes conheci alguém que vivesse de um modo tão absoluto para a Música, investindo nela com tal intensidade o seu tempo, os seus recursos, as suas emoções; e é esta dedicação integral (vem-me aqui de novo à mente a palavra "sacerdócio" no sentido mais nobre) que se revela no seu discurso e lhe dá uma autenticidade  e uma força moral inegáveis, partilhe-se ou não integralmente os pressupostos epistemológicos da abordagem adoptada.
»
Rui Vieira Nery no prefácio da obra Musonautas de Jorge Lima Barreto.


Portugal não empobrece quando uma agência de ranking especula criminosamente sobre a nossa situação económica. Portugal não depende sequer do materialismo do mundo moderno para se realizar. Depende sim, da sua memória colectiva  e espiritual, bem como da força e tenacidade do génio português, essa vítima diária de múltiplas tentativas de assassinato por asfixia. Portugal empobrece quando perde as suas grandes referências culturais, intelectuais e artísticas, assim como quando esquece os seus maiores, tanto passados como presentes, hipotecando assim o sucesso dos vindouros. 
Portugal ficou hoje mais pobre com o desaparecimento de Jorge Lima Barreto, indiscutivelmente, um dos maiores intelectuais portugueses de finais do séc. XX e inícios do séc. XXI. Músico, musicólogo, compositor, tradutor, poliartista, conferencista, académico, jornalista, radialista e coleccionador, Jorge Lima Barreto destacou-se em todas as suas áreas de intervenção, tanto em Portugal, como no estrangeiro.
Avesso às regras e leis de um sistema em que não acreditava e no qual não se revia, negou-o e combateu-o estoicamente com a maior das verticalidades, hipotecando desse modo algumas oportunidades que a sua sujeição talvez lhe proporcionassem. A sua força e determinação mostrou, de uma forma exemplar, a existência de outras vias, por ventura mais sinuosas e duras, para conquistar a imortalidade, abdicando da decadência a que os fracos se sujeitam para entre os seus pares se fazerem fortes.
Conhecido pela sua irreverência e não conformismo, destaca-se o seu percurso artístico, tendo sido logo desde os anos 1970 o principal  introdutor e percursor em Portugal de várias gramáticas musicais, sobretudo após a criação do duo Telectu, juntamente com o músico e compositor Vítor Rua, já em inícios da década de 1980. Com dezenas de livros e álbuns editados, Jorge Lima Barreto actuou um pouco por todo o mundo, tendo trabalhado com alguns dos grandes nomes da música contemporânea como Elliot Sharp, Jac Berrocal, Chris Cutler, Louis Sclavis, Jean Sarbib, Paul Lytton, Evan Parker, Sunny Murray, Carlos Zíngaro, Ikue Mori, Paul Rutherford, Giancarlo Schiaffini, Eddie Prévost, entre inúmeros outros. No que concerne ao seu contributo bibliográfico nos domínios da musicologia, da antropologia social e estética, deixou-nos obras como Revolução do Jazz, Jazz-Off, Rock Trip, Musicónimos, Rock & Droga, JazzBand 1900/1960 - Anarqueologia do Jazz, Música Minimal Repetitiva, Nova Música Viva, JazzArte, O Siamês Telefax Stradivarius, Música e Mass Media, Musa Lusa, b-boy, Zapp, Musonautas, entre outras. Traduziu ainda nos anos 1970 obras de Jean Paul Sartre, Jean Piaget, Jacques Monod, Gisélle Noami e Michel Foucault. 
Contrariamente ao que tem vindo a ser anunciado pela comunicação social, não foi uma pneumonia que ceifou a vida a Jorge Lima Barreto, ou qualquer outro problema de saúde. Não, pelo menos de uma forma directa. O que vitimou Jorge Lima Barreto foi o mundo moderno. Mundo moderno esse que nada tem a ver com o mundo das vanguardas que o nosso intelectual sempre ajudou a criar e onde sempre se moveu. Fala-se aqui de um mundo moderno assente nos pilares da mediocridade e da mesquinhez, dos interesses vis de quem pelo dinheiro tudo pode, tudo compra, tudo molda, tudo corrompe, tudo destrói. Essa é tenebrosa realidade que, durante toda a sua vida, o procurou eclipsar, após aperceber-se que não o conseguia vergar. Contudo, a luz do seu talento e do seu intelecto revelou-se quase sempre mais forte do que as trevas que o procuravam envolver. É este mundo que nunca conseguiu absorver Jorge Lima Barreto, procurando por isso negligenciá-lo e esquecê-lo que hoje o chora e procura celebrar...
Jorge Lima Barreto é assim um triunfador a quem Portugal muito deve, pelo que é um dever de todos os portugueses lembrarem a memória e a obra deste artista e intelectual.

Solstice II de Jorge Lima Barreto, retirado do álbum Neo Neon (2003). 

(Aos que quiserem conhecer um pouco melhor e mais pormenorizadamente o riquíssimo percurso de Jorge Lima Barreto, poderão aceder aqui ao seu currículo abreviado.)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Entre Poesia, Literatura, Mística e Neoplatonismo

Realiza-se amanhã, pelas 17:30, na Sala do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), mais uma sessão do ciclo de conferências intitulado Filosofia e Literatura.
Promovido pelo Grupo de Investigação Raízes e Horizontes da Filosofia e Cultura em Portugal do Instituto de Filosofia da FLUP, este evento contará com duas comunicações, a cargo dos Professores Cícero Bezerra e Josilene Bezerra, da Universidade Federal de Sergipe (Brasil). O primeiro conferencista fará uma apresentação intitulada Literatura, Mística e Poesia no Neoplatonismo, enquanto a segunda oradora apresentará uma comunicação subordinada ao tema Mística e Erotismo em São João da Cruz.
No final de ambas as comunicações, após o encerramento do habitual espaço de discussão e debate, será ainda apresentado o mais recente número da revista de cultura e pensamento Nova Águia, pelo distinto Professor José Maria da Costa Macedo.
A entrada é livre.
(Clicar na imagem para ampliar.)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Em defesa da Língua Portuguesa! Sempre!

Ao contrário do que nos pretendem fazer acreditar, a questão do (des)acordo ortográfico encontra-se longe de estar resolvida. Enquanto existir pelo menos um português disposto a ombrear-se contra os interesses anti-patrióticos que dominam a sociedade contemporânea portuguesa, esta será sempre uma das principais bandeiras da sua luta.
Fazendo jus a estas palavras, Portugal despertou hoje com um interessante artigo de Vasco Graça Moura, publicado no Diário de Notícias (DN), intitulado Caros Senhores da 'troika'. Neste artigo de opinião, redigido por um dos mais conhecidos rostos que encabeçam o esforço de união patriótica criado em torno desta nobre questão da defesa da Língua Portuguesa, o escritor, tradutor e ensaísta, porventura cansado de ver os seus legítimos e fundamentados argumentos de natureza linguística, cultural e civilizacional praticamente ignorados pela mercenária classe política, resolveu adoptar uma outra estratégia, focando-se nas nefastas consequências e implicações económicas da adopção deste vil (des)acordo. Afinal, aos filhos do abastardamento pátrio, só o dinheiro importa.
Assim, dada a importância da reflexão nascida deste artigo, achamos pertinente a divulgação deste texto que, desde já, sugerimos a sua posterior partilha.

Por Portugal e pela sua Cultura!

Vasco Graça Moura.
«O chamado Acordo Ortográfico (AO) contém defeitos gravíssimos, altamente lesivos da língua, da identidade e da cultura nacionais, cujos valores são protegidos na Constituição da República e no Tratado de Lisboa.
O AO acaba com a ortografia da língua portuguesa na sua variante euro-afro-asiática, utilizada por mais de 50 milhões de seres humanos.
A sociedade civil tem-se manifestado vigorosamente contra o AO que, embora subscrito por oito países, não foi ainda ratificado por Angola e Moçambique, decorridos mais de 20 anos sobre a sua assinatura!
Falta-lhe portanto uma condição essencial de validade jurídica.
De resto, falta ainda um pressuposto da sua aplicação: o vocabulário ortográfico que o próprio AO exige e que deve ser elaborado com intervenção de todos os signatários.
A alteração de uma grafia perfeitamente estabilizada desde 1945 em nada vai ajudar à aprendizagem, à formação, à qualificação ou ao sucesso profissional dos portugueses.
A aplicação do AO nas escolas vai corresponder a um terrível e desnecessário aumento da despesa do Estado e das famílias.
Pretende-se tornar obrigatória essa aplicação em 2015.
A transição forçada em curso coincide agora com os 3 anos previstos no memorando que Portugal negociou com a troika.
Nesse mesmo período, as famílias dos 1 256 462 estudantes do ensino básico e dos 483 982 estudantes do ensino secundário vão ter de desembolsar rios de dinheiro na aquisição de novos dicionários, livros e manuais escolares.
As editoras sofrerão graves prejuízos porque, mesmo renovando periodicamente as suas publicações, não podem deixar de ter consideráveis existências em armazém (v.g., dicionários). De resto, não vão esperar por 2015. Já começam a produzir os livros segundo o AO e não poderão ficar 3 anos sem os vender.
Não se podem reduzir os custos suplementares das novas edições aos da mera utilização de um conversor ortográfico. Nem este é uma espécie de micro-ondas em que os livros, objectos físicos, sejam metidos para saírem "actualizados" poucos minutos mais tarde. Nem a impressão, o papel, a mão-de-obra, as artes gráficas, os acabamentos, etc., saem a um milagroso custo zero na produção de livros de substituição...
Só por má-fé, falácia ingénua, obediência a lobbies ou razões inconfessáveis, se pode supor que a transição de uma ortografia para outra se fará, a partir de agora, sem problemas financeiros e educativos em cascata.
Havendo divergências de grafia, Portugal perderá uma parte importante da sua exportação de livros para Angola e Moçambique, a qual é muito significativa nas exportações para esses países.
Serão incomportáveis os custos da renovação dos acervos das 2 402 bibliotecas escolares existentes e a reedição das obras constantes do Plano Nacional de Leitura. E haverá os custos dramáticos do bloqueamento puro e simples da leitura, por opções pedagógicas ou por confusões insuperáveis, sobretudo nos mais jovens, devidas à divergência das grafias.
Acresce a formação de professores para aplicação do AO nas escolas, desviando os docentes de outras ocupações bem mais importantes e implicando a criação de formadores.
Milhões e milhões de livros e outros materiais escolares vão ser ingloriamente deitados ao lixo só por terem um c ou um p "a mais" numa série de palavras!
O Estado investe e comparticipa na aquisição de livros escolares. Vai ter mais despesa. Mas nada (custos directos e indirectos implicados pela aplicação, valor astronómico da riqueza destruída, outras perdas) foi objecto de estudo quantificado e sério por parte das autoridades portuguesas!
Isto é escandaloso numa altura em que as despesas das famílias com a educação já rondam os 1 400 milhões de euros; as da acção social escolar no ensino não superior, no tocante ao apoio sócio-económico, os 51 000 milhões; as das câmaras municipais, só na parte relativa a publicações e literatura, 136 000 e 15 700 milhões, entre despesas correntes e de capital.
Voto no PSD e apoio o Governo. Mas leio no seu programa esta coisa de estarrecer: "o Governo acompanhará a adopção do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa garantindo que a sua crescente uni-versalização constitua uma oportunidade para colocar a Língua no centro da agenda política, tanto interna como externamente."
No centro da agenda política, eu prefiro ver o combate ao desemprego à institucionalização do desperdício...
Não se podem despender exorbitâncias com o AO, enquanto o 14.º mês é onerado com mais um imposto brutal!
A troika impôs a drástica redução do défice e uma racionalização de despesas que também abrange a educação.
Espera-se portanto que intervenha!»
Vasco Graça Moura na edição de 6 de Julho de 2011 do Diário de Notícias.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sons de Julho da Casa de Teatro de Sintra

Mais do que uma simples promotora de espectáculos, a ummomento é uma criadora de mitos musicais associados ao reservado mundo da arte off subterrânea. Tornando cada concerto num momento único de comunhão musical e fraternais convívios, este colectivo tem vindo a organizar, ao longo dos últimos anos, entre as cidades do Porto, Lisboa e Sintra, um sem número de espectáculos singulares e irrepetíveis, certamente imortalizados na memória dos que os experienciaram e viveram.
Deste modo, após um breve hiato das suas actividades, a ummomento, em associação com a Casa de Teatro de Sintra, organiza nos próximos dias 8 e 9 de Julho uma iniciativa que, uma vez mais, reunirá um curioso conjunto de projectos musicais, resultando numa das mais interessantes propostas culturais do presente mês de Julho. No primeiro dia será possível assistir aos projectos Banana Metalúrgica, Gee Bees e Erro!, ao passo que no segundo dia as atenções estarão voltadas para AS.CO, Stalker Vitki, Frente Católica e os catalães Der Blaue Reiter. Infelizmente, a conferência de José Manuel Anes intitulada Sintra, História e Imaginário, prevista para a tarde de dia 9, não se realizará por motivos de saúde do orador.
Presentes nos dois dias deste evento estarão as editoras Zéfiro e Antagonista, bem como a Livraria Dharma, expondo alguns dos seus livros para venda.
Os concertos decorrerão nas instalações da Casa de Teatro de Sintra e preço dos bilhetes variarão do primeiro para o segundo dia. Assim, no dia 8 as entradas custarão 4€, ao passo que no dia 9 bilhetes terão um custo de 6€. O bilhete para os dois dias custará apenas 9€.
 
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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Espólio de Delfim Santos doado à BNP

«Ao longo da sua carreira Delfim Santos participou e proferiu conferências em diversos congressos nacionais e estrangeiros e colaborou em numerosas publicações periódicas, entre as quais a revista A Águia, de que chegou a ser director, Revista de Portugal, Presença, Revista do Porto, Inquérito, Diário Popular, Revista da Faculdade de Letras, Litoral, O Mundo Literário, Escola Portuguesa, Revista Brasileira de Filosofia, Arquivos da Universidade de Lisboa ou Diário do Norte. Algumas dessas colaborações foram editadas em separatas. Publicou ainda, por exemplo, Linha Geral da Nova Universidade de Coimbra (1934), Situação Valorativa do Positivismo (1938), Da Filosofia (1939), Conhecimento e Realidade (1940), Notes pour une Étude sur Descartes (1944), Fundamentação Existencial da Pedagogia (1946), Meditação sobre a Cultura (1946), A Criança e a Escola (1959), tendo prefaciado e preparado introduções e versões de obras de autores como Friedrich Nietzsche, Régis Jolivet, Hermann Hesse e Karl Jaspers.»
Excerto do comunicado da doação publicado pela Biblioteca Nacional de Portugal.

Delfim Santos em meados de 1953.

É com bastante regozijo que anunciamos, novamente neste espaço e em tão curto espaço tempo, mais uma importante doação feita à Biblioteca Nacional de Portugal (BNP). Desta feita trata-se da doação do espólio do filósofo Delfim Santos, iminente pensador e pedagogo, figura incontornável da cultura portuguesa do séc. XX.
Nascido na cidade do Porto em 1907, onde viria a frequentar a Faculdade de Letras, sendo aluno de mestres como Leonardo Coimbra, Aarão de Lacerda, Teixeira Rego, Newton de Macedo ou Luís Cardim, Delfim Santos acabaria por concluir a sua licenciatura em 1931, tendo partilhado o seu percurso com outros importantes nomes associados à cultura portuguesa, nomeadamente, Agostinho da Silva, Álvaro Ribeiro, Adolfo Casais Monteiro, Sant'Anna Dionísio e José Marinho.
De formação e educação cristã, frequentou, ainda durante os anos do liceu, as actividades culturais e desportivas da Associação Cristã da Mocidade. O seu interesse e dedicação à Educação levaram-no a concluir algumas cadeiras pedagógicas na Universidade de Coimbra, antes de se mudar para a cidade de Lisboa.
Em Outubro de 1935 partiu para Viena de Áustria, onde permaneceu durante dois anos como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura, tendo igualmente conhecido a realidade académica de outras importantes cidades europeias como Berlim, Londres e Cambridge. Familiarizando com a Filosofia das Ciências e a Metafísica do Conhecimento, Delfim Santos cedo se começou a destacar nos domínios da Filosofia, tendo acabado por tornar-se Professor Catedrático em Lisboa, no ano de 1950, após uma curta passagem pelos EUA.
O seu espólio de inestimável valor, até agora à guarda da sua família, foi gentilmente doado por esta à BNP, integrando o seu Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, o que permitirá aos investigadores estudarem sobre fontes primárias o percurso e pensamento de Delfim Santos.
Este trata-se de mais um gesto patriótico de desinteressada filantropia que certamente potencializará a salvaguarda, estudo e promoção da Cultura Portuguesa.

domingo, 3 de julho de 2011

Festa dos Tabuleiros

«Para presenciarmos uma forte carga espiritual no Culto do Espírito Santo, teremos de ir aos Açores, onde ainda existem lugares em que a festividade é realizada com grande arcaísmo.
A Festa dos Tabuleiros é diferente, tornou-se uma manifestação identitária da cidade de Tomar e uma representação daquilo que foi no passado: uma festividade de grande religiosidade popular e espírito comunitário. Mas esta adaptação à sociedade moderna, numa cidade que, durante o século XX, viu a sua população quintuplicada de 8000 para 50000 habitantes, não aniquilou a mística e o mistério que muitos tomarenses continuam a sentir pela festividade e pelo Espírito Santo. (...)
As raparigas que levam os tabuleiros vão vestidas de branco com uma faixa de cor, normalmente vermelha. A faixa, embora já por vezes utilizada no segundo ciclo da festa, tornou-se um elemento característico do terceiro ciclo. Ainda há fotografias antigas que mostram as mulheres vestidas somente de branco a transportar os tabuleiros. Branco, símbolo da pureza necessária para realizar um ritual de agradecimento à divindade e para receber o fogo do Espírito Santo.»
Paulo Alexandre Loução em Dos Templários à Nova Demanda do Graal.

Mulheres carregando os famosos tabuleiros junto do
Convento de Cristo, em Tomar.

A Festa dos Tabuleiros reflecte o forte vínculo espiritual existente entre os portugueses e o culto do Divino Espírito Santo. Segundo a tradição, este terá sido introduzido e disseminado em Portugal durante o reinado de D. Dinis e da Rainha Santa Isabel, remontando assim às célebres festas do imperador. Porém, alguns autores apontam uma data bastante anterior para as origens da Festa dos Tabuleiros, defendendo a sua génese e natureza pré-cristã.
Claramente associada à partilha comunitária e ao agradecimento das graças divinas, a sua origem poderá residir num arcaico culto de fertilidade, associado a alguma divindade como a Deméter grega ou a Ceres romana. Na sua leitura cristã, facilmente associamos o espírito de partilha e igualdade, experenciado na preparação e celebração da Festa dos Tabuleiros, aos princípios basilares da Ordem Franciscana.
Realizada de quatro em quatro anos, durante o mês de Julho, a Festa dos Tabuleiros, ao contrário do que acontecia anteriormente, começa a ser preparada com bastante antecedência, envolvendo grande parte da comunidade tomarense.
As ruas são ornamentadas e preparadas para receber os festejos, aos quais assistem milhares de devotos, turistas, ou meros curiosos. Os cestos são agora decorados com flores de papel, em substituição das tradicionais flores naturais que não permitiam uma antecipada preparação de todo o cerimonial. As cores vivas das flores captam a atenção de todos os presentes, pela espectacularidade do belíssimo efeito visual que proporcionam. A coroar cada um dos tabuleiros podemos encontrar um dos seguintes elementos alegóricos: a pomba, simbolizando o Espírito Santo, ou a Cruz de Cristo. A presença simbólica do pão, ao qual são atribuídas particularidades milagrosas, e das espigas, contribuem também para vincar o espírito de comunhão que outrora vingava nesta e outras comunidades portugueses.
Associada a esta tradição, tão fortemente ligada à identidade da cidade de Tomar, podíamos ainda encontrar, no passado, o sacrifício dos bois, cuja carne era distribuída por todos os participantes. No entanto, os bois têm hoje no cortejo um papel mais simbólico.
Sendo uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas do país, a Festa dos Tabuleiros decorre este ano entre 2 e 11 de Julho. Este ano a celebração redobra a sua importância, uma vez que a autarquia de Tomar pretende candidatar esta festa a Património Imaterial da Humanidade

sábado, 2 de julho de 2011

Entrega do Prémio António Quadros 2011

«A grande ilusão dos estrangeirados é julgarem que enriquecem a nossa cultura colando-lhe teorias ou ideias importadas tal e qual, isto é, transformando-a numa cultura traduzida - o que é até absurdo, pois não se pode traduzir cultura.
A simples (a complexíssima) riqueza da nossa língua basta por si própria para justificar o aprofundamento e a autonomia da cultura portuguesa e constitui fundamento de si suficiente para uma grande filosofia - que ainda não temos talvez, mas por que é válido lutar, pois que a nossa obrigação é antes levar para a mesa da comunidade internacional, a nossa personalidade mental, científica, literária, artística, do que nossa passividade discipular ou disciplinada.
»
António Quadros em A Arte de Continuar Português.

Criado com o objectivo de celebrar o autor de obras como Portugal Razão e Mistério ou Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, o Prémio António Quadros nasceu da necessidade de incentivar a continuidade do trabalho deste insigne pensador, distinguindo, encorajando e divulgando o pensamento português nas suas mais variadíssimas expressões e manifestações.
Instituído pela Fundação António Quadros, o prémio deste ano distinguirá uma obra da área da Filosofia, cujo vencedor será divulgado uma semana antes da sua entrega, pelas mãos de Mafalda Ferro, presidente da Fundação. Recordamos que o júri deste concurso é presidido por António Braz Teixeira e constituído por Paulo BorgesManuel Ferreira PatrícioManuel Cândido Pimentel e Miguel Real.
A cerimónia de entrega do galardão decorrerá no próximo dia 14 de Julho, pelas 17h00, na Sala Antão de Almada da Sociedade de História da Independência de Portugal. A entrada é livre.

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Colecção "Bandas Míticas"

«A música pop em Portugal resulta duma industrialização progressiva da sociedade e referencia o modelo anglo-americano original; desterritorializando um sentido musical nacional pelo seu investimento tecnológico, é descodificadora da própria raiz cultural e formula-se num discurso sintético.
A pop music e a sua mais expressiva forma, o rock, tem um carácter controverso no nosso panorama musical. Dos músicos e agrupamentos de relevância podemos aferir um alto teor de agressividade publicitária que não esconde uma irreverência superficial, numa tentativa de imitar os valores da pop internacional, uma nacionalização do produto.
»
Jorge Lima Barreto em Musa Lusa.

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Chega amanhã às bancas, com o Correio da Manhã, a primeira entrega da colecção Bandas Míticas. Trata-se de um conjunto de vinte e um pequenos livros sobre algumas das mais conhecidas bandas pop e rock portuguesas, acompanhados por compilações exclusivas, cobrindo alguns dos seus melhores momentos. Organizada por David Ferreira, poderão ser encontrados nesta colecção nomes como Sheiks, Quarteto 1111, GNR, Heróis do Mar, Sétima Legião, Rádio Macau, Táxi, Rui Veloso, Ena Pá 2000, entre inúmeros outros.
Esta colecção terá uma periodicidade semanal estando disponível nas bancas, todos os Sábados, entre 2 de Julho e 5 de Novembro. O preço de cada livro, com o respectivo CD, será de 5,95 euros, sendo que na primeira entrega serão entregues duas unidades pelo preço de uma.