domingo, 3 de julho de 2011

Festa dos Tabuleiros

«Para presenciarmos uma forte carga espiritual no Culto do Espírito Santo, teremos de ir aos Açores, onde ainda existem lugares em que a festividade é realizada com grande arcaísmo.
A Festa dos Tabuleiros é diferente, tornou-se uma manifestação identitária da cidade de Tomar e uma representação daquilo que foi no passado: uma festividade de grande religiosidade popular e espírito comunitário. Mas esta adaptação à sociedade moderna, numa cidade que, durante o século XX, viu a sua população quintuplicada de 8000 para 50000 habitantes, não aniquilou a mística e o mistério que muitos tomarenses continuam a sentir pela festividade e pelo Espírito Santo. (...)
As raparigas que levam os tabuleiros vão vestidas de branco com uma faixa de cor, normalmente vermelha. A faixa, embora já por vezes utilizada no segundo ciclo da festa, tornou-se um elemento característico do terceiro ciclo. Ainda há fotografias antigas que mostram as mulheres vestidas somente de branco a transportar os tabuleiros. Branco, símbolo da pureza necessária para realizar um ritual de agradecimento à divindade e para receber o fogo do Espírito Santo.»
Paulo Alexandre Loução em Dos Templários à Nova Demanda do Graal.

Mulheres carregando os famosos tabuleiros junto do
Convento de Cristo, em Tomar.

A Festa dos Tabuleiros reflecte o forte vínculo espiritual existente entre os portugueses e o culto do Divino Espírito Santo. Segundo a tradição, este terá sido introduzido e disseminado em Portugal durante o reinado de D. Dinis e da Rainha Santa Isabel, remontando assim às célebres festas do imperador. Porém, alguns autores apontam uma data bastante anterior para as origens da Festa dos Tabuleiros, defendendo a sua génese e natureza pré-cristã.
Claramente associada à partilha comunitária e ao agradecimento das graças divinas, a sua origem poderá residir num arcaico culto de fertilidade, associado a alguma divindade como a Deméter grega ou a Ceres romana. Na sua leitura cristã, facilmente associamos o espírito de partilha e igualdade, experenciado na preparação e celebração da Festa dos Tabuleiros, aos princípios basilares da Ordem Franciscana.
Realizada de quatro em quatro anos, durante o mês de Julho, a Festa dos Tabuleiros, ao contrário do que acontecia anteriormente, começa a ser preparada com bastante antecedência, envolvendo grande parte da comunidade tomarense.
As ruas são ornamentadas e preparadas para receber os festejos, aos quais assistem milhares de devotos, turistas, ou meros curiosos. Os cestos são agora decorados com flores de papel, em substituição das tradicionais flores naturais que não permitiam uma antecipada preparação de todo o cerimonial. As cores vivas das flores captam a atenção de todos os presentes, pela espectacularidade do belíssimo efeito visual que proporcionam. A coroar cada um dos tabuleiros podemos encontrar um dos seguintes elementos alegóricos: a pomba, simbolizando o Espírito Santo, ou a Cruz de Cristo. A presença simbólica do pão, ao qual são atribuídas particularidades milagrosas, e das espigas, contribuem também para vincar o espírito de comunhão que outrora vingava nesta e outras comunidades portugueses.
Associada a esta tradição, tão fortemente ligada à identidade da cidade de Tomar, podíamos ainda encontrar, no passado, o sacrifício dos bois, cuja carne era distribuída por todos os participantes. No entanto, os bois têm hoje no cortejo um papel mais simbólico.
Sendo uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas do país, a Festa dos Tabuleiros decorre este ano entre 2 e 11 de Julho. Este ano a celebração redobra a sua importância, uma vez que a autarquia de Tomar pretende candidatar esta festa a Património Imaterial da Humanidade

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