Celebrar o 10 de Junho é celebrar Camões e celebrar Camões é celebrar a Pátria. A divinização do poeta da nossa gesta operou-se no coração e no espírito do nosso Povo de forma natural, conforme aconteceu também com D. Afonso Henriques, a Rainha Santa Isabel, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, ou D. Sebastião após o seu sacrifício em Alcácer Quibir.
Camões foi um homem colectivo. O seu génio era maior do que tudo o resto que fazia dele apenas mais um homem entre os homens. Apercebemo-nos com no autor d'Os Lusíadas o sentido da singularidade transcendente, bem como da sagrada missão entregue por Deus aos grandes Poetas.
Teixeira de Pascoaes, o velho sábio da montanha, percebeu-o bem, escrevendo nas páginas da revista Águia:
«Camões é uma divindade portuguesa; a Divindade tutelar da nossa Pátria. Portugal tem vivido à sombra do épico imortal: é o único país cuja autonomia se tem firmado sobre o nome de um Poeta.
A sombra de Camões vigia as nossas fronteiras e ampara as nossas Colónias. É uma fortaleza espiritual e por isso indestrutível.
Camões é ainda o nosso ponto de contacto com a Humanidade, com a vida eterna, porque ele foi o supremo intérprete do génio aventureiro e descobridor. Vasco da Gama transfigurado em sonho, eis o Poeta d'Os Lusíadas - esse poema feito de ondas, espumas, névoas, tempestades... Neptuno reencarnou em Camões para escrever em verso heróico a sua autobiografia.
Os Lusíadas são os Evangelhos do Mar. O Mar é o nosso Livro de Orações. Ler Os Lusíadas é rezar o Mar...»
Luís Vaz de Camões num quadro do pintor português José Malhoa. |