«É esse fraterno despertar da consciência que, emergindo deste "Nevoeiro" que ora somos, pode ser a aurora do (des)cobrimento Sol invicto de um Novo Dia.»
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A publicação da Mensagem de Fernando Pessoa constitui um dos momentos de maior elevação espiritual no contexto da cultura portuguesa no século XX. Obra incontornável na História da nossa poesia, encerra nos seus versos um conjunto de misteriosas cifras associadas ao passado e ao futuro de um Portugal caracterizado por duas dimensões: histórica e anistórica. É a Hora!, o mais recente livro de Paulo Borges, propõe-nos uma chave para a leitura desta enigmática obra.
Indo de encontro às correntes despiritualizadas que caracterizam os actuais poderes instalados e o seu respectivo sistema, muitos intelectuais da nossa praça parecem conscientemente esquecer-se de que a Mensagem foi, efectivamente, o único livro que Fernando Pessoa publicou em vida. Ao contrário do que a cultura dominante afirma, este livro não representa de modo algum uma obra menor dentro do panorama literário nacional e muito menos no contexto geral do universo pessoano. Coroando o seu lado de nacionalista místico, a Mensagem apresenta-nos um Fernando Pessoa mitogenista e profético, revelador de um Portugal perene e arquetípico. O enigma e o mistério dominam assim a natureza desta obra, suscitando as mais complexas leituras e interpretações.
Tendo chegado às livrarias em finais de 2013, na véspera do primeiro centenário da obra
Mensagem, o ensaio
É a Hora! de Paulo Borges, publicado pela
Temas e Debates /
Círculo de Leitores, nasce de um profundo contacto desenvolvido e cultivado ao longo de mais de três décadas pelo seu autor face àquela obra de Fernando Pessoa. Um diálogo estreito mas labiríntico que nos leva a meditar acerca das leituras e interpretações profético-mitológicas, simbólicas e histórico-filosóficas levadas a cabo por um dos mais importantes nomes vivos da filosofia portuguesa.
Paulo Borges surge hoje associado a diversas dimensões da nossa vida pública. Conhecido como Professor, activista, político e filósofo, o seu nome inscreve-se nos anais da cultura nacional desde finais dos anos 1970. Desde então o seu percurso tem sido trilhado no sentido de uma demanda pelo saber e o conhecimento, sempre numa perspectiva indissociável da busca e revelação do espírito. Partindo do particular para o universal, é na esteira desta mesma tradição filosófica e sua respectiva operatividade que nasce a obra É a Hora!, reveladora de uma revolucionária interpretação da mensagem da Mensagem. Segundo o autor, «o espírito desta obra visa que, ao lê-la e compreendê-la, sejamos movidos para fazer aqui e agora alguma coisa de essencial, sermos agentes de uma transformação profunda, de nós mesmos, de Portugal e do mundo.» Esta é a essência fundamental deste livro que, para além do desvelamento dos símbolos, mitos e arquétipos que encontramos na Mensagem, impede que os mesmos cristalizem, mantendo-os vivos, através da tentativa da sua renovação.
Sendo É a Hora! uma obra de comentário e interpretação da Mensagem, nela reproduzem-se integralmente os poemas que a constituem, respeitando-se a sua ortografia original, tal como foi publicada em 1934. Outra importante nota quanto à ortografia recai sobre o próprio conteúdo filosófico-ensaístico de Paulo Borges que, naturalmente, não obedece ao novo acordo ortográfico. Um pequeno grande pormenor que contribui para a excelência de um dos mais interessantes livros recentemente publicados no âmbito dos estudos pessoanos.