terça-feira, 24 de novembro de 2020

IV Encontro Nacional de Literaturismo

No próximo dia 27 de Novembro, a partir das 9:30, decorre no Forte de S. João da Baptista da Foz do Douro, no Porto, o IV Encontro Nacional de Literaturismo. Trata-se de mais uma iniciativa idealizada pelo poeta e ensaísta José Valle de Figueiredo que, desde há várias décadas, se tem interessado e debruçado sobre as chamadas geografias literárias, explorando a partir desse conceito uma série de importantes valências do ponto de vista cultural, social, identitário e comunitário. 
Tal como nas edições anteriores, a participação neste encontro promovido pela União de Freguesias de Aldoar, Foz e Nevogilde será livre e aberta a toda a comunidade. Para acompanhar as sessões de trabalho que contarão com as intervenções de nomes como José Augusto Maia Marques, Isabel Ponce de Leão, Sílvia Quinteiro, Francisco Mesquita Guimarães, Helder Pacheco, ou o próprio José Valle de Figueiredo, bastará enviar uma mensagem de correio electrónico para o secretariado do evento, através do endereço geral@uf-aldoarfoznevogilde.pt, pedindo a ligação para a plataforma Zoom. Não percam! 

(Clicar na imagem para consultar o programa.)

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Cruzeiro Seixas: homenagem ao último surrealista português

Perdemos Cruzeiro Seixas. O último sobrevivente do grupo de surrealistas de Lisboa partiu, ontem, a menos de um mês de completar 100 anos. Poeta, pintor, ilustrador e escultor, foi um sempre um artista completo apesar da sua genuína teimosia rejeitando qualquer um desses epítetos.
Para trás fica a sua obra, as viagens pelo mundo português e uma singular visão sobre a nossa natureza. De modo a homenageá-lo, nada melhor do que partilharmos um dos seus poemas mais evocativos dessa sua complexa relação com os mistérios da patriosofia.  

Cruzeiro Seixas (1925-2020).

Trota-se por certo de uma sala de operações 
até ao infinito 
pudicamente flor e crina adolescente 
ou seja simplesmente nuvem com árvores erectas 
mãos com algemas de prata 
lajes tumulares 
que na sua ignorância me recusam. 
Vê-se logo que nada sabem das formas que a noite toma 
descendo e subindo 
nos dois sentidos da luz. 
Na verdade 
quem é que não sente palavras-aranhas na alma? 
Quem é que não usa os recantos das janelas góticas 
para ali esconder o nevoeiro? 
Depois dos arbustos 
os bustos cobertos pela neve do futuro, 
isto no tempo em que as palavras 
ainda pairavam sobre o dilúvio. 
Silenciada a esfera armilar 
é com esferográfica que te envio as cores reinventadas 
prisioneiras entre destroços da mais alta antiguidade 
entre o céu e o inferno visíveis 
atravessados de veias 
e de rios, 
de luzes míticas 
de loucas viagens 
embalsamadas. 

Cruzeiro Seixas