Se há algo que nos domina e predomina na cultura portuguesa é o Amor, esse estranho e inexplicável sentimento descrito magistralmente por Luís Vaz de Camões, o Poeta entre os poetas, da seguinte forma:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
De Norte a Sul de Portugal, indo aos nossos arquipélagos e antigos territórios ultramarinos, encontrámos vestígios e reminiscências desse sentimento-essência constituinte do arquétipo português e da nossa memória colectiva. A cultura popular, pródiga na sua sublime forma de expressar o inexpressível, exterioriza esta realidade de um modo tão genuíno que se torna capaz de derrubar muros ou obstáculos intransponíveis pelos mais doutos intelectuais. Invoquemos a título de exemplo os famosos lenços de amor, tradicionais do belo Verde Minho. Simples na sua concepção, possuem uma força em potência de alcance inestimável, revelando-se autênticos pedaços de alma materializados de forma a poderem ser partilhados.
Não são raras as vezes em que a própria Natureza influi sobre o Homem, tornando-o axiomaticamente bom e receptivo aos mais altos valores, como o Amor, Lealdade e Fidelidade. Tudo por um mero processo inconsciente de mímesis.
Não são raras as vezes em que a própria Natureza influi sobre o Homem, tornando-o axiomaticamente bom e receptivo aos mais altos valores, como o Amor, Lealdade e Fidelidade. Tudo por um mero processo inconsciente de mímesis.
Andorinha de cerâmica proveniente da Fábrica de Faianças Artísticas Rafael Bordallo Pinheiro, nas Caldas da Rainha. |
Ciente ou não dessa realidade metafísica e antropológica, Rafael Bordalo Pinheiro, em meados de 1891, iniciou na sua fábrica a produção de pequenas andorinhas em cerâmica que ele próprio desenhara. Uma peça que rapidamente integrou e povoou o artesanato e imaginário popular português.
Ave migratória que aquando do seu regresso a um determinado sítio procura construir o seu ninho sempre no mesmo local onde anteriormente habitara, a andorinha, por possuir um único parceiro ao longo da vida, assumiu um simbolismo conotado com valores como Lar, Família, mas sobretudo, Amor, Lealdade e Fidelidade.
Desta forma, facilmente assimilável pela grei em virtude da sua própria identificação com a mensagem expressa, vulgarizou-se a troca de andorinhas cerâmicas entre os amantes, usadas não só como gesto de amor ou troca simbólica, mas também como uma espécie de amuleto de harmonia, felicidade e prosperidade no lar e no seio da sempre sagrada família.
Recuperemos por isso velhos hábitos, pois nunca é tarde demais para admirarmos o voo mágico das aves ou oferecermos uma andorinha a quem verdadeiramente amamos. A quem verdadeiramente queremos e nos completa.
É verdade.........
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