«A realidade é mais subtil do que aquilo que a gente vê. As incursões esotéricas que faço são tentativas de penetrar no universo real. Aliás, pode dizer-se que o meu fantástico é mais real do que o real.»
António de Macedo em entrevista ao Se7e, Março de 1989.
Tantas vezes negligenciado e injustamente menosprezado, o cinema português tem-se mantido oculto ao longo da sua história, como um tesouro ainda por descobrir. Felizmente, as portas têm-se aberto paulatinamente no estrangeiro aos realizadores e cineastas portugueses, possibilitando uma maior projecção do cinema nacional, mostrando-se assim outros nomes para além do já habitual e mundialmente aclamado mestre da sétima arte,
Manoel de Oliveira.
Contudo, alguns talentos, não obrigatoriamente novos, são ainda hoje insistentemente esquecidos. Não pela falta de qualidade da sua obra, mas antes pela sua não subjugação ao sistema mafioso de financiamento artístico e suas dogmáticas preferências estéticas. Falamos muito concretamente de casos como os dos realizadores
Margarida Cordeiro e
António de Macedo que, não obstante terem já uma vasta experiência cinematográfica de qualidade comprovada e materializada numa considerável filmografia, se viram por força do sistema, obrigados a deixar de filmar.
Assim, gostaríamos hoje de prestar uma merecida homenagem a António de Macedo, o professor universitário, ensaísta esotérico e realizador, invocando uma das suas obras cinematográficas mais famosas intitulada
A Maldição de Marialva.
Estreado em 1990, ano em que foi nomeado para a categoria de melhor filme no
Festival Internacional de Cinema do Porto - Fantasporto,
A Maldição de Marialva constitui um importante marco na história do cinema nacional, tratando-se ainda hoje do único filme português de fantasia ambientado na Idade Média. Abertamente inspirado na lenda portuguesa da Dama do Pé-de-Cabra, compilada no séc. XIX por
Alexandre Herculano na sua obra
Lendas e Narrativas, a acção deste filme decorre na localidade portuguesa de
Marialva, situada na actual região da Beira Alta, após a invasão árabe da Península Ibérica, recriando um mundo medieval às portas do ano mil, mergulhado no obscurantismo e superstição. Contando com um elenco de luxo, onde encontramos nomes como Lídia Franco, Carlos Daniel, Julie Sargeant, Raquel Maria, Carlos Santos, Catarina Avelar, Natália Luiza, Manuela Cassola, Paulo Matos, José Eduardo, entre muitos outros, este filme destaca-se pelo extremo cuidado nos diálogos entre personagens, bem como pelo esforço no tratamento do guarda-roupa e cenários digno de salientar. A banda sonora, responsável por parte da envolvência que o filme sugere, ficou a cargo de
António Sousa Dias, tendo a direcção musical sido da responsabilidade da saudosa compositora
Constança Capdeville.
Este filme nasceu de uma co-produção entre a
RTP e a
TVE, no âmbito de um projecto desenvolvido em parceria com outras congéneres europeias, visando a realização de um conjunto de filmes, 6 no total, todos eles inspirados na tradição popular, lendas e história de cada um dos países envolvidos. Esta colecção de obras ficaria mais tarde conhecido por
Sabbath.
O acesso público à versão original deste filme é hoje praticamente impossível salvo as raras apresentações públicas e televisivas. Guardado nos arquivos
"quase secretos" da
Cinemateca Nacional, não existe no mercado nenhuma edição comercial portuguesa de
A Maldição de Marialva. Resta apenas, aos que gostariam de poder contemplar esta obra de arte, uma sofrível edição espanhola, com o áudio dobrado e sem legendas noutros idiomas, lançada em formato DVD pela própria TVE e distribuída pela
DVDGO, .
De seguida ficam algumas imagens deste filme que esperamos venha a receber uma condigna edição em Portugal.
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Em Marialva, só pedra e pó... |
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A (in)justiça. |
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A fé. |
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O fausto. |
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D. Gunefredo encarnado pelo actor Carlos Santos. |
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Marialva, a endemoninhada moura encantada. |
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Lídia Franco como Marialva. |
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Os demónios entre os mortos, um prenúncio de tragédia. |
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A corte mourisca-luciferina da bela e misteriosa Marialva. |
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Carlos Daniel no papel de Hélio. |
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Farinha branca e imaculada denuncia a natureza demoníaca de Marialva. |
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Julie Sargeant no papel de Lovesenda. |
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A maldição e o conjuro de Marialva. |
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O exorcismo. |
Este filme tem um excelente aspecto. Nunca tinha ouvido falar mas fiquei agradavelmente surpreendido.
ResponderEliminarCreio que organizaram recentemente uma projecção do filme na Cinemateca de Lisboa, num evento que contou com a presença do próprio António de Macedo.
ResponderEliminarEste filme é uma das muitas pérolas esquecidas do cinema português. Vale mesmo a pena ver. Na minha opinião, este é de longe o melhor filme dos que foram realizados na série de cinema fantástico Sabbath.