sexta-feira, 2 de março de 2012

Dalila L. Pereira da Costa (1918-2012)

«Sonhos, profecias, visões, iluminações, e ainda a música, serão as diferentes maneiras do sagrado se revelar: suas diversas teofanias. O profeta, o iluminado, o homem que sonha, o poeta, o visionário, o músico, o homem religioso, participam, em planos diversos, duma mesma essência - atingem em diversas intensidades a fonte da Revelação.»
Dalila L. Pereira da Costa em Os Sonhos: Porta de Conhecimento.

Dalila Lello Pereira da Costa (1918-2012).

Chamaram-lhe a sibila da cultura portuguesa e da portugalidade. Dalila L. Pereira da Costa, como costumava assinar as suas obras, nasceu em 1918 na cidade do Porto e foi uma das mais notáveis intelectuais do século XX português.
Dotada de uma enorme craveira intelectual, chegou ainda a conhecer o filósofo Leonardo Coimbra que, a par de Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, acabaria por tornar-se num importante ponto de partida para as suas incursões nos domínios da tradição, espiritualidade, cultura e pensamento portugueses. Em Coimbra licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, onde encontrou Damião Peres e Joaquim de Carvalho como professores. Mais tarde, após uma breve passagem pelo Brasil e Bélgica, tornou-se na única mulher do Grupo da Filosofia Portuguesa, fundado por Álvaro Ribeiro e José Marinho, com quem haveria de travar uma estreita relação de amizade, assim como com outros membros desse núcleo, destacando-se os nomes de Afonso Botelho, António Quadros, Orlando Vitorino, António Telmo, Pinharanda Gomes e António Brás Teixeira, para além de outros intelectuais como Sant'Anna Dionísio ou Agostinho da Silva.
Detentora de uma profunda erudição e um vasto conhecimento universal, conjugou as várias linhas da tradição, espiritualidade e cultura portuguesas com as grandes obras de Mircea Eliade, Carl Gustav Jung, René Guénon, Henri Corbin e outros pensadores de renome internacional. A singularidade do seu pensamento abalou os meios intelectuais portugueses logo após a publicação do seu primeiro livro, O esoterismo em Fernando Pessoa, lançado apenas em 1971. Na sua obra destacam-se as referências ao lado feminino das nossas ancestrais raízes, bem como aos arquétipos que animam o nosso inconsciente colectivo. A magia que povoa as palavras constituintes da sua escrita aproximam-na da mística e do êxtase, como que os seus ensaios, poesia ou trabalhos literários fossem na verdade um registo das vociferações telúricas da Pátria-Mãe. 
A singularidade da sua obra e pensamento levaram-na a participar em inúmeras publicações e encontros nacionais e internacionais, tendo sido por várias vezes alvo de diversas e merecidas homenagens. Devemos por isso, hoje mais do que nunca, apostar no estudo e divulgação do seu legado. Esse cordão dourado que nos permite descer às nossas mais profundas raízes, desvendando alguns dos mais arcanos mistérios da essência cultural e espiritual da portugalidade. 
Dalila L. Pereira da Costa partiu hoje, a dois dias de completar 94 anos, deixando para trás dezenas de obras e um enorme sentimento de perda nos corações que a choram. O seu corpo encontra-se a ser velado na igreja do Santíssimo Sacramento, na rua Guerra Junqueiro, de onde sairá amanhã o funeral às 15:00.
A Nova Casa Portuguesa, expressa o mais sentido pesar por esta perda de vulto para a cultura nacional, na esperança porém de que a nossa ilustre sibila encontre agora a paz no seu caminho de regresso ao Paraíso, alcançando por fim a eterna Luz da Revelação.

1 comentário:

  1. A obra permanece por isso cabe a todos nós, leitores e portugueses, não deixar morrer a sua memória. Oxalá haja discípulos!

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