quinta-feira, 22 de março de 2012

António Quadros nos 19 anos do seu desaparecimento

«Portugal vive hoje não só uma profunda crise política, económica, financeira e social, mas também uma crise de identidade que desmotiva e desorienta os portugueses. Urge voltar a estimular o seu patriotismo, voltar a ensinar a sua história e cultura, voltar a mostrar-lhes porque podem sentir-se orgulhosos de ser portugueses. Urge em suma continuar Portugal, porque de outra forma nos tornaremos, sem vantagem para ninguém, colonato, província ou feudo.»
António Quadros no prefácio da sua obra A Arte de Continuar Português (1977). 

António Gabriel de Quadros Ferro, notável pensador, pedagogo,
escritor e tradutor, desapareceu há 19 anos. Contudo o seu
importante legado permanece vivo entre os portugueses.

Filho de António Ferro e Fernanda de Castro, António Quadros nasceu na cidade de Lisboa a 14 de Julho de 1924. Tendo dedicado a sua vida à cultura lusíada, através da sua extensa actividade literária e ensaistica, tornou-se num importante vulto do pensamento português. 
Distinguindo-se na área da filosofia da história, deixando-nos um importante legado através de uma vasta obra publicada, António Quadros poderá não ter sido um homem de acção e militância como o seu pai, mas por certo herdara-lhe o génio e, acima de tudo, o amor incondicional a Portugal. Certamente agraciado por um ambiente familiar propício ao desenvolvimento intelectual, Quadros conviveu ainda com várias personalidades distintas do panorama cultural nacional e internacional, entre as quais o romeno Mircea Eliade, cuja obra muito o influenciou.
O seu próprio percurso acabaria por o colocar na mesma rota de outros importantes nomes do pensamento português, tais como Álvaro Ribeiro, José Marinho, Francisco da Cunha Leão, Agostinho da Silva, Dalila L. Pereira da Costa, Afonso Botelho, Orlando Vitorino, António Telmo, Pinharanda Gomes, entre outros. Da sua extensa bibliografia destacam-se obras como O Espírito da Cultura Portuguesa, A Arte de Continuar Português, Fernando Pessoa. Vida, Personalidade e Génio, Introdução à Filosofia da História, Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, Portugal Razão e Mistério, A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos, O Primeiro Modernismo Português - Vanguarda e Tradição ou Estruturas simbólicas do Imaginário na Literatura Portuguesa. António Quadros foi, juntamente com Jorge Sena, Dalila L. Pereira da Costa e Yvette K. Centeno, um dos primeiros estudiosos do esoterismo pessoano, ocupando-se da organização, publicação e comentário de uma vasta parte da obra de Fernando Pessoa.
Pedagogo integral, António Quadros mostrou-se sempre sensível às questões da educação que, para ele, se apresentavam como fundamentais ao desenvolvimento humano e espiritual do indivíduo.
A Fundação António Quadros invocou ontem os primeiros 19 anos passados sobre o seu desaparecimento, uma efeméride que a Nova Casa Portuguesa não poderia deixar de lembrar, homenageando também esse vulto da nossa cultura, cujos sábios ensinamentos têm inspirado sucessivas gerações de portugueses, desbloqueando-lhes a alma e aniquilando todos os elementos inibidores à realização de Portugal e da sua missão. Conscientes da importância da manutenção da sua memória e do seu legado, recordamos o pedido da recém-falecida Dalila L. Pereira da Costa que alertava para um certo esquecimento ao qual António Quadros estaria votado, pedindo às gerações mais jovens que o 'ressuscitassem'. Talvez a proximidade do 20.º aniversário da sua morte, celebrado no próximo ano, sirva de mote para o início de um estudo mais sistemático e intensivo sobre a sua vida e obra, podendo os seus resultados conservar e perpetuar de vez, no nosso inconsciente colectivo, alguns dos mistérios constituintes do nosso axioma mais profundo.

1 comentário:

  1. Aqueles fantásticos livros de bolso com obras do Fernando Pessoa sempre com o prefácio do António Quadros da Europa-América... Um arco-íris de maravilha literária.
    As obras e as ideias não morrem; as nossas palavras servem para difundir as ideias. Aqui está um bom exemplo dessa difusão!

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