domingo, 1 de maio de 2011

A Festa das Maias

«É curioso o interesse e o sentimento com que quase todos os habitantes desta freguesia, grandes e pequenos, têm em colocar as maias nas suas casas, em todas as portas, janelas e até nos quintais, sementeiras e aidos de gado e capoeiras.
Diz a crença popular que as maias, isto é, flores de giesta, colocadas nas habitações, significam os sinais postos ao longo do caminho para que Nossa Senhora não se enganasse, aquando da sua fuga para o Egipto com o Menino Deus.
Diz mais: na casa que não tenha maias colocadas ao entrar o mês de Maio, o Diabo sujará tudo, além de outros estragos.
Antigamente cantavam-se as Maias como ainda hoje se cantam as Janeiras.
Diz Teófilo Braga, em Epopeias dos Povos Moçárabes, que este velhíssimo costume é o que resta do antiquíssimo culto do Odin (festa nocturna dos espíritos) dos povos do Norte, que Carlos Magno e os concílios católicos abafaram. O povo, porém, conservou vestígios desse antiquíssimo culto do paganismo.
»
Joaquim Neves dos Santos em Guifões: notas Arqueológicas, Históricas e Etnográficas.

Gravura alusiva à Festa das Maias.

Disseminada por praticamente todo o território nacional, a velha tradição das maias parece milagrosamente resistir aos ventos do mundo moderno, mesmo no coração dos maiores centros urbanos de Portugal, num raro exemplo perenidade, revelando de que modo um traço cultural e espiritual primordial se pode perpetuar no inconsciente colectivo de um povo.
A origem desde arcano costume perde-se nos alvores da História de um Extremo Ocidente pré-Portugal de costumes bárbaros. Como tantas outras festividades ou celebrações pagãs integradas no nosso imaginário imaterial e espiritual, a Festa das Maias assume variadíssimas formas, demonstrando uma heterogeneidade notável na nossa vivência do mito. Ligadas a cultos ancestrais de fertilidade, as maias, giestas bravas de cor amarelada que abundam sobretudo durante a primavera, foram posteriormente assimiladas pelo cristianismo, graças à virtude da heterodoxia espiritual do Homem Português.
Vemos por isso, na primeira madrugada de Maio, penduradas nas portas e janelas das casas e automóveis as tão famosas plantas, símbolo de favoráveis e fecundos auspícios, mas sobretudo de protecção.

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