domingo, 13 de dezembro de 2015

Homem Cristo Filho e os "Cavaleiros do Resgate"

Homem Cristo Filho foi uma das mais inquietantes figuras do panorama cultural europeu de inícios do século XX. De pena livre e insurgente foi, tal como o seu pai, temido pelos seus inimigos e adversários. Nacionalista radical, amou a sua Pátria - Portugal -, onde nunca foi feliz ou, pelo menos onde nunca foi compreendido. Três vezes exilado, em momentos e circunstâncias políticas e históricas bastante distintas, Homem Cristo Filho foi um dos mais importantes nomes do jornalismo mundial. 
Num dos seus regressos do exílio, já após o 28 de Maio de 1926, abraçou um projecto ligado à imprensa nacional criando o jornal A Informação. Constantemente preocupado com os destinos da Pátria portuguesa, bem como com a decadência e degeneração moral dos portugueses que, segundo ele, estavam já naquela altura muito longe da natureza exemplar dos heróis fundacionais, ou do génio desbravador de novos mundos, este intelectual português jamais desistiu de lutar pelos interesses nacionais. Por esse motivo, Homem Cristo Filho exigia aos nacionalistas portugueses que tomaram o poder com o golpe de 28 de Maio nada mais do que a excelência do bem fazer e do bem governar. Como se de excelsos cavaleiros se tratassem, pedia-lhes o resgate da Pátria, a restauração do Estado e o renascimento da grandeza do nosso Povo.
Transpondo para hoje a ideia de "resgate" perfilhada por Homem Cristo Filho apercebemo-nos o quão distante está o significado dessa expressão para os políticos de hoje que, ignorando o essencial, apenas se concentram naquilo que menos importa, ou seja, o "resgate financeiro". Uma vez mais o nosso problema nuclear parece relacionar-se de perto com a questão da Educação Nacional e com aquela mesma incapacidade, já apontada por Fernando Pessoa, de criarmos um escol. Afinal, não é possível existir cidadania sem a existência de verdadeiros cidadãos. 
Por conseguinte, vale a pena ler-se o que escreveu Homem Cristo Filho no editorial de A Informação, de 4 de Agosto de 1926. Uma crítica plena de actualidade que não poupa sequer os correlegionários políticos do seu autor, sejam eles coevos ou nossos contemporâneos.
«Ignoramos qual foi o vil micróbio que atacou o organismo português, envenenando-lhe o sangue e destruindo-lhe cruelmente todas as faculdades e virtudes. Mas fosse qual fosse, desde que o micróbio há, desde que a intoxicação se produziu, é urgente destruir o elemento daninho e purificar as veias da nação.(...) Já lá vai o tempo em que os portugueses sabiam entrar, sem temor, na ante-câmara da morte. Hoje o medo verga-lhes as pernas, dobra-lhes a consciência, comprime-lhes o coração como se o perigo não fosse, como diz d'Annunzio, o eixo da vida sublime. O medo da morte é o estigma ignominioso dos fracos, dos condenados, dos escravos; o sintoma da degenerescência moral e física dos homens e dos povos; a negação do direito à vida que só se ganha lutando e vencendo, quando se sabe olhar de frente, sem tremer e sem pestanejar, a porta misteriosa que todos, inexoravelmente, devemos transpor. Eduquemos os rapazes que hoje frequentam as escolas e serão amanhã os árbitros dos nossos destinos, no culto do heroísmo, no culto do passado e das virtudes seculares da Raça. Ensinemos-lhes a desprezar o perigo a correr todos os riscos, a afrontar todas as catástrofes de ânimo sereno. Demos-lhes, por uma sã educação desportiva, músculos de aço, sangue ardente e fecundo. Arranquemos o algodão em rama com que as mães lhes envolvem o peito e a alma, expunhamo-los, na nudez gloriosa da sua força, às intempéries do tempo e às convulsões revigoradoras do destino. E daqui a uns anos, em lugar da mocidade indolente e corrompida de Atenas, Esparta ressurgirá triunfante, e invencível, nas margens do Atlântico, onde não deve haver limites para o espírito e a ambição dos homens, como os não há para as profundezas deste mar e a extensão deste horizonte imenso. Se ainda há neste país trinta homens de coragem e de fé, juntem-se sem tardança, toquem os sinos a rebate, toquem os clarins a reunir e dêem-lhe batalha, em campo raso, à cobardia nacional, à mentira nacional, à indisciplina nacional. Falem menos em Pátria e sejam mais patriotas; falem menos em honra e sejam mais honrados; falem menos em coragem e sejam mais corajosos! Em nome dos interesses supremos e sagrados da Pátria em perigo, surjam, apareçam, os Cavaleiros do Resgate.»
Homem Cristo Filho (1892 - 1928).

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