Natal Chique
Percorro o dia, que esmorece
Percorro o dia, que esmorece
nas ruas cheias de rumor;
minha alma vã desaparece
na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
dos que anunciavam no jornal;
mas houve um etéreo desarranjo
e o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
a quem são coroas no meio disto,
um moço doente, desanimado...
Só esse pobre me pareceu Cristo.
Vitorino Nemésio em O Pão e a Culpa.
Há muito que o consumismo do mundo moderno colocou em xeque a beleza e simplicidade espiritual da quadra natalícia. O problema não vem de agora, conforme podemos concluir ao ler o poema de Vitorino Nemésio intitulado Noite Chique, publicado em 1955. Hoje, que a crise imposta pelo paradigma especulativo e esclavagista do mundo democrático ocidental parece fazer a sociedade consumista agonizar pela asfixia da morte a crédito, percepcionamos nas pessoas uma maior necessidade de consumir. O diz-me o que tens, dir-te-ei quem és da actual sociedade contemporânea, alimentada pela falsa ideia de conquista da felicidade por via do consumo, transmitida e inspirada pelas fantasias alienantes do mundo mediatizado capitalista, acabam por fragilizar o estado anímico das massas, perdidas numa exaustiva corrida cuja meta estão longe de conhecer.
A impossibilidade do Homem viver num mundo que padece da ausência do mito, numa concepção arcaica e primordial do termo, conforme sugeriu Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Dalila L. Pereira da Costa, António Quadros, entre outros pensadores nacionais ou estrangeiros, como Carl Gustav Jung, Henry Corbin ou Mircea Eliade, é hoje mais evidente do que nunca. O êxtase da modernidade é algo permanente e despojado de todo e qualquer contorno místico-meditativo, aprisionando o ser humano na sua condição material e parasitária, em detrimento da sua libertação corpórea e material, responsável pela sua elevação em espírito e pensamento.
A alienação provocada pela natureza consumista, aliada ao sentimento de posse obsessivo-compulsivo, acaba por contribuir de igual modo para a própria desumanização da sociedade, na qual o Homem ocupa, cada vez mais, um lugar dúbio situado algures entre a máquina e a besta.
Chega-se assim ao tempo da redescoberta interior e do realento da alma e do espírito. A necessidade de sacralização do sacro e do despojamento dos interesses materialistas provam por si só o anseio do Homem por um sentimento e vivência de uma liberdade real. Importa por isso não desmobilizar e prosseguir com a disseminação, cultural-espiritual do verdadeiro sentido do Natal... que independentemente do que for festejado, deve sempre celebrar três pontos fundamentais: a sacralidade família, a renovação espiritual e comunhão do espírito!
A impossibilidade do Homem viver num mundo que padece da ausência do mito, numa concepção arcaica e primordial do termo, conforme sugeriu Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Dalila L. Pereira da Costa, António Quadros, entre outros pensadores nacionais ou estrangeiros, como Carl Gustav Jung, Henry Corbin ou Mircea Eliade, é hoje mais evidente do que nunca. O êxtase da modernidade é algo permanente e despojado de todo e qualquer contorno místico-meditativo, aprisionando o ser humano na sua condição material e parasitária, em detrimento da sua libertação corpórea e material, responsável pela sua elevação em espírito e pensamento.
A alienação provocada pela natureza consumista, aliada ao sentimento de posse obsessivo-compulsivo, acaba por contribuir de igual modo para a própria desumanização da sociedade, na qual o Homem ocupa, cada vez mais, um lugar dúbio situado algures entre a máquina e a besta.
Chega-se assim ao tempo da redescoberta interior e do realento da alma e do espírito. A necessidade de sacralização do sacro e do despojamento dos interesses materialistas provam por si só o anseio do Homem por um sentimento e vivência de uma liberdade real. Importa por isso não desmobilizar e prosseguir com a disseminação, cultural-espiritual do verdadeiro sentido do Natal... que independentemente do que for festejado, deve sempre celebrar três pontos fundamentais: a sacralidade família, a renovação espiritual e comunhão do espírito!
A presente foto, publicada na edição de 8 de Dezembro de 2009 do jornal Público, ilustra bem o significado da quadra natalícia para o malfadado mundo moderno, mesmo durante um grave período de crise como o que hoje atravessamos. |
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