Figura tradicional da autoria de Bordalo Pinheiro. |
A mulher e a mentira
São dois amantes leais.
Se a mentira é mentirosa,
A mulher é munto mais!
Assim que a casa chegar,
Fazem queixas ao marido:
Tenho o meu corpo dorido,
E é de tanto trabalhar!
Começa o homem a intrujar,
Com palabrinhas tais,
Que o homem acardita a queixa.
A mentira nunca a deixa,
São dois amantes leais.
A mulher q'ando se lebanta,
bai logo co'a manha fisgada.
Trata logo dum-a torrada
Assim que ó lume s'assenta.
Nunca almoça, nunca janta,
É isso que me admira!
A falar ninguém as bira,
A um-a só'lheira sentada.
Está muito bem comparada,
A mulher e a mentira!
Fazem grandes fritangadas,
Fazem grandes fritangadas,
E tigelas de café,
E dizem aos filhos:
- Comer e boca calada,
Ao pai nunca se diz nada...
Assim faz quem é gulosa.
Há muita mulher bondosa,
Num há regra sem excepção,
Mas à mentira todos bão.
Se a mentira é mentirosa.
Têm «muntas» por costume,
Como há pouco eu as oubi dezer:
- 'Inda hoje num comi,
Só se foi brasas de lume,
Essas são as princepais!
Essas são as princepais!
Já num aguento os cabedais!
Bá lá mais uma rapésada...
Se a mentira é confiada,
A mulher é munto mais.
Recolha feita por Isabel Silvestre, publicada em Memória de um Povo.
Muito bom! A ortografia dá um toque especial.
ResponderEliminarEstou sempre a aprender! :)
A Isabel Silvestre teve o cuidado de captar até a pronuncia na qual é verbalizada a sabedoria popular! ;)
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