terça-feira, 9 de agosto de 2011

Intolerância e intransigência na Europa segundo Rui Moreira

Rui Moreira, conhecido empresário e economista da região Norte de Portugal escreveu na sua crónica semanal, publicada no Jornal de Notícias, um interessante artigo de opinião onde aborda a cultura da velha Europa, os ataques à Igreja Católica, o perigo da adulação ao islamismo, a influência norte-americana e da sua cultura de decadência.
Intitulado A tolerância intransigente, este artigo contempla um problema crescente no seio da Europa, a que Portugal não está de modo algum imune, apesar de uma incredulidade quase infantil, alimentada por determinados sectores da nossa sociedade. Deste modo, apesar de não perfilharmos na totalidade a posição do cronista, achamos por bem partilhar neste espaço a sua interessante reflexão que, uma vez mais, tem como objecto de crítica um sistema democrático que nos foi imposto, baseado na velha máxima de dois pesos e duas medidas, dependendo de quem o apoia ou questiona.
Interessa uma vez mais deixar aqui bem expressa a nossa posição de respeito perante todas as outras culturas, com a devida ressalva de que nenhuma delas irá fazer-nos algum dia alterar, adulterar e castrar a nossa própria identidade ou tradição histórica e espiritual.

Rui Moreira.
«O islamismo não é um simples fundamentalismo religioso. É, sobretudo, um totalitarismo revolucionário subversivo, uma ideologia de destruição em massa comparável ao nazismo, ao maoísmo ou ao estalinismo.
A propósito da minha última crónica - e sem surpresa, porque o mesmo sucedeu aquando de uma crónica de 2006 em que abordava o mesmo tema - recebi uma missiva que me acusava de islamofobia. O certo é que não tenho nenhuma fobia contra o Islão, enquanto religião, ou contra os seus crentes. Se há coisa que me incomoda, neste tempo pós-moderno, é a intolerância contra as religiões, e a excessiva laicização da sociedade, que está na origem dos ataques injustificados à Igreja Católica e à sua hierarquia. 
Já tenho, contudo, uma fobia quanto à politização do Islão. Tenho medo do islamismo, e da sua influência crescente na Europa, tal como receio a politização do cristianismo, na moda entre os sectores mais conservadores dos Estados Unidos. Não me refiro, é claro, ao fanatismo terrorista. Essa é uma ameaça que todos reconhecem, que exige cuidados de outra natureza, e que preocupa a esmagadora maioria dos muçulmanos. Em França, por exemplo, a comunidade muçulmana reagiu em massa contra um grupo jihadista iraquiano que raptou dois jornalistas e ameaçava assassiná-los se a lei sobre a secularização das escolas não fosse alterada. A minha preocupação recai sobre o islamismo moderno, cuja influência é cada vez maior na Europa, e que tem sido tolerado sem que se compreenda a forte ameaça que ele significa e encerra. Para Eqbal Ahmad, o escritor paquistanês que se notabilizou pelas suas campanhas contra a política americana no Médio Oriente e pela sua cruzada contra o que chamava a maldição gémea do nacionalismo e do fanatismo religioso, o islamismo é uma deturpação do Islão cuja obsessão consiste em regulamentar de forma exaustiva o comportamento humano, reduzindo a ordem islâmica a um código penal, apresentando-se destituído do seu humanismo, da sua estética, da sua procura intelectual e da sua devoção espiritual. 
O islamismo não é um simples fundamentalismo religioso. É, sobretudo, um totalitarismo revolucionário subversivo, uma ideologia de destruição em massa comparável ao nazismo, ao maoísmo ou ao estalinismo. É essa, aliás, a razão pela qual goza de uma estranha protecção por parte da extrema-esquerda que, não partilhando da sua agenda moral, vê, nos islamistas os mais eficientes dos parceiros na luta contra o "imperialismo" e a "democracia burguesa". 
Ao contrário dos multiculturalistas, que pretendem construir uma sociedade em que se torna bastante a manutenção entre as pessoas de um consenso cultural mínimo, penso que a Europa deve efectivamente tolerar a diferença, mas deve ser intransigente na defesa dos seus princípios civilizacionais. São essas as preocupações de David Cameron, que ainda há meses reconhecia que a tolerância passiva, fomentada pelo multiculturalismo que tem influenciado as políticas no Reino Unido, é a semente da discórdia entre diferentes sectores da sociedade, tendo garantido que pretendia adoptar medidas de integração a que chamou de liberalismo musculado.
A Europa não pode, por um lado, assumir uma posição laica face às religiões tradicionais que influenciam a nossa cultura e ditam os nossos comportamentos e, por outro lado, e a pretexto do direito à diferença, permitir que os defensores do islamismo nos imponham as suas regras, e nos tentem obrigar a alterar os nossos hábitos. Enquanto europeus, e se pretendemos defender as nossas conquistas civilizacionais, não podemos ter dois pesos e duas medidas. Se proibimos o negacionismo do Holocausto, não podemos aceitar que ele seja propalado, sem quaisquer consequências, nas mesquitas de Bremen.
Timothy Garton Ash escreveu, a propósito da tragédia de Oslo, que "se é ridículo sugerir que não há uma conexão entre ideologia islâmica e terror islâmico, também é ridículo sugerir que não houve nenhuma conexão entre a visão alarmista da islamização da Europa e o que Breivik entendeu que estava fazendo". A meu ver, é igualmente ridículo sugerir que não há uma conexão entre a forma como os políticos europeus têm ignorado essa islamização e o reaparecimento de um sentimento xenófobo e nacionalista na Europa.»
Rui Moreira na edição de 7 de Agosto de 2011 do Jornal de Notícias.

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