«A Renascença Portuguesa não é incompatível com as aspirações modernas e de forma alguma também afasta, e, antes, promoverá, no povo português a parte da boa cultura que a Europa lhe possa trazer.»
Jaime Cortesão na revista A Águia, em Janeiro de 1912.
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Depois de dois excelentes colóquios integrados nas celebrações do Primeiro Centenário do Movimento da Renascença Portuguesa, realizados no Norte de Portugal em finais de 2012, eis que se encerra na nossa capital o ciclo de comemorações desta efeméride, com um encontro internacional organizado pelo Centro de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) que terá lugar durante os dias 8 e 9 de Janeiro de 2013.
«Neste momento genésico e caótico da nossa pátria, é necessário que todas as forças reconstrutivas se organizem e trabalhem, para que ela atinja rapidamente a sonhada e desejada harmonia.» Assim escrevia Teixeira de Pascoaes no seu manifesto Renascença, publicado em Janeiro de 1912 na revista A Águia, órgão oficial do Movimento da Renascença Portuguesa. Esta reflexão plena de actualidade coloca-nos defronte de duas questões essenciais. Terá a Renascença Portuguesa cumprido os objectivos a que se propôs? Carecerá Portugal de um outro movimento da mesma estirpe? Estas são perguntas complexas, mas não menos pertinentes.
O aparecimento de movimentos como a Renascença Portuguesa e de publicações como A Águia foi, como afirmou recentemente António Braz Teixeira num colóquio no Porto, «fruto de uma geração e de uma época». Uma geração que procurava o seu lugar numa pátria ausente e abandonada durante uma época conturbada e bastante nebulosa da nossa história, quer culturalmente, quer política e economicamente. A Renascença Portuguesa foi desde a sua constituição até à sua extinção um movimento plural, integrando simultaneamente no seu seio diversas personalidades e intelectuais oriundos dos mais variados quadrantes culturais, políticos e estéticos. Sendo um espaço consagrado ao diálogo e à discussão, tendo em vista a criação de um Portugal renascente, saído das cinzas de um século XIX decadente, mergulhado num regime republicano contrário à tradição cultural nacional logo após a viragem para o século XX, é natural que algumas polémicas tenham vindo a lume, destacando-se a célebre questão do saudosimo envolvendo Teixeira de Pascoaes e António Sérgio.
Assim, de modo a celebrar os primeiros 100 anos da Renascença Portuguesa, o Centro de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa resolveu homenagear aquele que se revelou um dos mais importantes movimentos culturais do Portugal da primeira metade do século XX, através da realização do Colóquio Internacional «A Renascença Portuguesa: Tensões e Divergências». Com uma comissão organizadora constituída por Paulo Borges, Bruno Béu de Carvalho, Dirk Hennrich e Rui Lopo, este encontro reunirá investigadores nacionais e estrangeiros, destacando-se as participações de alguns nomes incontornáveis do pensamento filosófico português como António Braz Teixeira, Pinharanda Gomes, Manuel Cândido Pimentel, António Cândido Franco, ou Jorge Croce Rivera. Este colóquio terá lugar no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ao longo dos dias 8 e 9 de Janeiro, entre as 14:30 e as 20:00. A entrada será livre e aberta a toda a comunidade.
Programa
8 de Janeiro
14. 30 | Abertura
António Feijó, Director da Faculdade de Letras
15.00 – 16.40 | 1ª Sessão
Paulo Borges
- A ideia de Renascença na Renascença Portuguesa
Duarte Braga
- O Inquérito Literário, termómetro das tensões na Renascença Portuguesa
Miguel Real
- A Pedagogia na Renascença Portuguesa
Rui Lopo
- O Orientalismo na Renascença Portuguesa
16.40 – 17.00 | Debate
17.00 – 18.40 | 2ª Sessão
João Príncipe
- António Sérgio na Renascença Portuguesa (1912-1919)
Romana Valente Pinho
- António Sérgio e Teixeira de Pascoaes: um conflito cultural na Renascença Portuguesa
Samuel Dimas
- O panteísmo de Teixeira de Pascoaes e o teísmo de Leonardo Coimbra
Manuel Cândido Pimentel
- Sant’Anna Dionísio e António Sérgio a propósito de Leonardo Coimbra
José Almeida
- Mito, Educação e Espaço-Público no espírito da Renascença Portuguesa
18.40 – 19.00 | Debate
19.00 – 19.50 | 3ª Sessão
Julia Alonso Dieguez
- Un pensamiento asistemático ibérico
António Braz Teixeira
- A Renascença Portuguesa, movimento plural
19.50 – 20.05 | Debate
9 de Janeiro
14.30 – 16.10 | 4ª Sessão
António Cândido Franco
- Mitopoese e Filomitia em Teixeira de Pascoaes
Jorge Croce Rivera
- Modos éticos do pensar: afinidades e contrastes entre a “ética-política” de Raul Proença e a “ética-metafísica” de José Marinho
Dirk Hennrich
- Kant, Nietzsche e Schumann — e um mundo a haver. Sobre um depoimento, «Da Liberdade Transcendente», de Raul Leal.
Renato Epifânio
- A estética renascente e a ideia de Pátria
16.10 – 16.30 | Debate
16.30 – 18.10 | 5ª Sessão
Bruno Béu de Carvalho
- Pascoaes, Coimbra e Caeiro-Campos-Soares: as estesias aldeã e citadina nas divergências e (im)possibilidades de uma estética da saudade
Raquel Nobre Guerra
- Singularidades da experiência saudosa em Teixeira de Pascoaes e Álvaro de Campos: do bucolismo ao «futurismo»
Daniel Duarte
- O Pessoa de «A Águia», Nietzsche e a Verdade
Pinharanda Gomes
- O criacionismo visto por alguns discípulos de Leonardo Coimbra: Delfim Santos, Sant’Anna Dionísio e José Marinho
18.10 – 18.30 | Debate
18.30 – 18.40 | Encerramento
19.00 | Bar da Biblioteca
Paulo Borges | Manifesto por uma Renascença integral e universal
Nuno Moura | Leitura de poesia
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