«Os povos são como as árvores! Sem as suas raízes não crescem...»
Rodolfo Ferreira no texto introdutório de Lux-Citanea,
Capa do álbum Lux-Citanea de Azagatel, |
Oriundos de Vale de Cambra, os Azagatel foram fundados em meados de 1995, tendo desde então conquistado um lugar de destaque no panorama musical alternativo nacional. Intitulado “Lux-Citanea”, o seu mais recente trabalho reflecte uma nova fase deste colectivo, cuja aproximação a questões culturais e histórico-identitárias se revela interessante conhecer.
O título deste disco remete-nos de imediato para o patamar mítico e histórico da pré-portugalidade, jogando com os vocábulos “lux”, de luz, e “citanea”, nome atribuído às principais povoações existentes durante a Idade do Ferro no actual território nacional, numa clara alusão à antiga Lusitânia. Reavivando a chama da arcana pátria dos nossos antepassados lusitanos, o conceptualismo deste álbum mostra-se particularmente pertinente numa época de crise e nevoeiro como a que vivemos, apontando o mito como elemento primordial para a orientação dos povos.
Marcado por temas inspirados em algumas das antigas divindades da Lusitânia, como “Endovellico”, “Nabia Corona” ou “Bandua”, este trabalho dos Azagatel recorda os actos de bravura protagonizados pelos lusitanos, na defesa das suas terras e da sua cultura, face à ameaça do invasor romano. “Viriathus”, a par de “Iberia”, representa porventura o tema de pendor mais heróico deste registo, onde parte da letra nasce da adaptação do poema “Viriato” de Fernando Pessoa. A mensagem gnosiológica de “Lux-Citanea” parece alinhar-se em temas como “Lucifer (The Bringer of Light)”, “The Oath of the Oak”, ou em “The Crown”, uma versão bastante conseguida dos suíços Samael.
Tendo conhecido diversas alterações na sua formação ao longo dos últimos anos, os Azagatel acabaram por conseguir conquistar alguma estabilidade em termos de colectivo, fixando nas suas fileiras Rodolfo Ferreira (voz), João Costa (baixo), Nelson Lomba (guitarra), Filipe Ferreira (guitarra) e Dannyel “Green Devil” (bateria), permitindo-lhes deste modo embarcar numa nova fase, tanto musical, como conceptual. Assim, assistimos em “Lux-Citanea” a uma simbiose entre o black metal e o folk, onde se integram algumas passagens acústicas, criadoras de uma atmosfera assaz envolvente, capaz de fundir a música com a mensagem identitária inerente ao conceptualismo deste trabalho. De modo a conseguirem este resultado, os Azagatel contaram ainda com as participações especiais de Ana Cristina Santos (acordeão) e de Carla Rosete (voz). A apresentação gráfica deste disco não poderia ser descurada, tendo ficado a cargo de Ricardo Fernandes, responsável por todo o artwork e layout.
Telúrico, combativo e abertamente identitário, este trabalho de Azagatel rejuvenesce as raízes geladas de um ethos cultural adormecido, mas longe de encontrar-se extinto. Disponível através da editora Nekrogoat Heresy Productions, ou da própria banda, este álbum evoca o amor à terra e a coragem dos nossos antepassados lusitanos, relembrando que neles e nos seus nobres e valorosos desígnios residia a semente de um Portugal que urge hoje defender e preservar.
Tema Endovellico retirado do álbum Lux-Citanea.
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