«Com o 25 de Abril pretendeu-se acima de tudo pôr fim aos longos anos de regime ditatorial e reaccionário, mas também organizar a economia em moldes socialistas e transformar a sociedade, combatendo a desigualdade e dando a todos melhores condições de vida. As ideologias pseudo-revolucionárias, na realidade totalitárias, o choque de movimentos sociais lutando pelo poder e a ausência de uma política coerente levaram a um vendaval de nacionalizações sem plano de conjunto e à distribuição de benefícios, para cobrir custos descontrolados (para tal cobertura não se dispunha de aparelho produtivo eficiente). Daí o refluxo que se traduziu em inconsideradas privatizações e no cercear de garantias sociais no trabalho e na doença. Ficámos com uma sociedade desequilibrada, em que o Estado ainda detém funções sociais sem alicerces económicos, uma economia antiquada com dificuldades em se inserir num mundo que mudou com a terceira revolução tecnológica e novas formas organizacionais.»
Vitorino Magalhães Godinho em Os Problemas de Portugal.
Vitorino Magalhães Godinho (Lisboa, 09-06-1918 — Lisboa, 26-04-2011). |
Homem de fortes convicções, Vitorino Magalhães Godinho soube ser crítico do antes e após 25 de Abril. Apesar de se ter destacado na luta contra o Estado Novo, o reconhecido historiador foi simultaneamente um paladino contra-revolucionário, procurando impedir o domínio pérfido da esquerda no mundo académico, não aceitando jamais a ocultação da verdade histórica e científica, bem como o silenciamento criminoso da elite deposta aquando da revolução.
Natural de Lisboa, Vitorino Magalhães Godinho destacou-se como um dos mais proeminentes historiadores portugueses, sendo elevado ao patamar de outros importantes vultos da historiografia nacional como Jaime Cortesão, Paulo Merêa ou Damião Peres. Notabilizou-se sobretudo no âmbito da História de Portugal, em particular no capítulo da Expansão e Descobrimentos Portugueses. Admirador da École des Annales e da História Total, foi um dos principais introdutores das Ciências Sociais em Portugal, gozando a sua fama de particular sucesso em França, onde era extremamente acarinhado pela Academia, contando-se mesmo que sobre ele terá dito o emérito historiador Fernand Braudel: «Não se lhe pode ensinar nada».
Após desenvolver as suas actividades como Professor e Investigador em Portugal e em França, onde recebeu inúmeras honras e distinções, Vitorino Magalhães Godinho passou ainda fugazmente pela política em 1974, tendo sido por quatro meses ministro da Educação e Cultura do segundo e terceiro governo provisório, investindo também em 1984 as funções de Director da Biblioteca Nacional de Portugal.
A sua verticalidade enquanto nobre cidadão português levou-o a abraçar até ao final da sua vida terrena causas ligadas à defesa de Portugal e da sua cultura, tendo escrito vários livros de reflexão política, económica e social, tornado-se igualmente num dos principais nomes na luta contra o (des)acordo ortográfico que actualmente decorre no campo dos verdadeiros meios intelectuais portugueses.
Vitorino Magalhães Godinho faleceu ontem, dia 26 de Abril de 2011, com 92 anos, ficando a sua obra para sempre imortalizada.
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