«O português é língua de muitas culturas e muitas literaturas, pelo menos tantas quantos os países que a falam (bem mais do que eles em boa verdade). Se nos ativermos à literatura, a aprendizagem da língua portuguesa tem de andar de par com um olhar sobre os textos e escritores que dela fizeram uso, em África, ou melhor, nas várias Áfricas, por serem plurais os territórios do Português e suas literaturas, no Oriente, particularmente em Macau, em Timor e na Índia, e no Brasil. Em todo o mundo se aprende português, nos cinco continentes, o interesse de ensinantes e aprendentes recai, em grande medida,sobre todos esses territórios e culturas e não apenas sobre Portugal.»
Carlos Ascenso André no Prefácio à obra As Literaturas
de Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias).
de Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias).
É de Fernando Pessoa uma famosíssima frase que, não raras vezes, aparece mal contextualizada: «Minha Pátria é a língua portuguesa». De facto, não só a Pátria se reflecte na língua, como no nosso caso também nela se exprime a face mais visível daquele Império que nunca se desfez. Portugal foi berço de nações, mas também de literaturas. É disso que José Carlos Seabra Pereira nos dá conta no seu último livro, intitulado As Literaturas em Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias).
Depois do importante contributo de António José Saraiva e Óscar Lopes para o estudo da História da Literatura Portuguesa, ainda em finais da década de 1950, muito se foi alterando no panorama literário de expressão lusíada. Para além das transformações observadas na esfera político-social do espaço lusófono, em particular com o fim do Império Português, assistiu-se, contrariando o que para muitos seria expectável, a um alargamento da zona de influência da língua portuguesa. Hoje, ela será, seguramente, o nosso maior património no mundo e a pedra de toque para o desenvolvimento de uma geopolítica própria que tarda em aparecer. Este incremento do português deveu-se ao continuado esforço de enraizamento da língua dentro das fronteiras dos territórios que outrora constituíram parte de Portugal, bem como à chamada “diáspora” ou movimentos migratórios que, ao longo dos últimos 45 anos, permitiram a fundação de novas comunidades lusófonas espalhadas um pouco por todo o mundo.
As Literaturas em Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias), obra recém-publicada pela Gradiva, permite-nos levar a cabo uma leitura sistematizada e actualizada de toda a literatura lusófona, penetrando não só na cultura literária portuguesa e brasileira, como naquela das diferentes Áfricas e Ásias de expressão portuguesa, sem esquecer essas outras comunidades que se foram constituindo mais recentemente, dilatando a zona de influência da língua portuguesa. De resto, este completíssimo trabalho de José Carlos Seabra Pereira vai ainda mais longe, conseguindo cobrir mais do que a mera dimensão geográfica do objecto de estudo, sublinhando as diferentes culturas análogas às literaturas de língua portuguesa, analisando, seminalmente, novos contextos, identidades e sensibilidades tratadas de forma literária ao longo dos últimos anos. Contrariando a tradicional tendência destes estudos para o minucioso tratamento de períodos cronologicamente mais longínquos em detrimento de épocas mais hodiernas, este livro dá um claro destaque à produção literária mais recente, desbravando, em muitos casos, caminhos pioneiros que permitem aproximar as novas gerações de leitores de língua portuguesa, sobretudo junto dos que não receberam o português como língua materna.
Contrariamente ao que poderia ser esperado, este livro não nasce de uma compilação de artigos previamente existentes, mas antes de um esforço de dimensões homéricas perpetrado pelo autor que, em boa hora, aceitou o repto que lhe fora lançado pelo Instituto Politécnico de Macau, uma das instituições mais influentes no capítulo da divulgação da língua portuguesa no continente asiático. Ao escopo da rápida divulgação e internacionalização deste trabalho, juntou-se a colaboração institucional do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos sendo que agora, após a publicação da edição portuguesa, urge uma tradução desta obra para outras línguas, em particular, para o inglês.
Este monumental trabalho de José Carlos Seabra Pereira representa muito mais do que um mero livro. Trata-se sobretudo de uma ferramenta, absolutamente, indispensável a todos os que trabalham com a língua portuguesa do ponto de vista literário. Uma obra de rigor que marca uma época e que, por certo, fará escola durante os próximos anos de estudo e investigação da História da Literatura Portuguesa e de Expressão Portuguesa. As Literaturas em Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias) foi, indubitavelmente, publicada para se tornar numa obra de referência, obrigatória em qualquer biblioteca votada a Portugal, à tradição lusíada e à grande herança literária que constitui uma importante parte da nossa universal portugalidade.
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