«Ser português é também uma arte, e uma arte de grande alcance nacional, e, por isso, bem digna de cultura.O mestre que a ensinar aos seus alunos, trabalhará como se fora um escultor, modelando as almas juvenis para lhes imprimir os traços fisionómicos da Raça lusíada. São eles que a destacam e lhe dão personalidade própria, a qual se projecta em lembrança no passado, e em esperança e desejo no futuro. E, em si, realiza, deste modo, aquela unidade da morte e da vida, do espírito e da matéria, que caracteriza o Ser.O fim desta arte é a renascença de Portugal, tentada pela reintegração dos portugueses no carácter que por tradição e herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social, subordinada a um objectivo comum superior. Em duas palavras: colocar a nossa Pátria ressurgida em frente ao seu Destino.As Descobertas foram o início da sua obra. Desde então até hoje tem dormido. Desperta, saberá concluí-la... ou, melhor, continuá-la, porque o definitivo não existe.»
Teixeira de Pascoaes em Arte de Ser Português.
Lançado em 1915, escrito em apenas quinze dias e dedicado à mocidade, a Arte de Ser Português apresenta-se ainda hoje como a mais bela psico-biografia da Pátria Portuguesa. Nela, o escritor amarantino, príncipe espiritual do alto Marão, principal teorizador da saudade enquanto traço exclusivo da cultura e pensamento nacional, descreve de uma forma bastante clara e directa a essência e potência do Ser português enquanto colectivo espiritual que nos envolve e carinhosamente abraça, com o mesmo amor e fervor com que os braços dos bons pais envolvem os seus filhos.
O desígnio do autor, expresso no seu texto introdutório a esta obra, apontava para o desejo da sua adopção pelos estabelecimentos escolares a fim de preservar e promover a disciplina do amor à Pátria Portuguesa. Assim, tendo em conta o actual estado da Nação, nomeadamente em relação à Educação e à falta de amor próprio, cultivada por interesses externos desvirtuadores dos reais interesses portugueses, atendendo ao conteúdo programático do livro, resta-nos aqui oportunamente relembrá-lo pela sua actualidade e urgente divulgação.
Na edição mais recente de Arte de Ser Português, editada pela Assírio & Alvim e distribuída também em formato de bolso pela Biblioteca Editores Independentes, o seu tardio prefaciador, Miguel Esteves Cardoso, afirmou categoricamente nas primeiras linhas do seu texto que o Portugal e os portugueses de Pascoaes não passavam de meras ficções criadas pelo autor. Resta-nos a nós, portugueses de alma e coração, darmos provas do contrário. Estamos ainda a tempo de nos conciliarmos com a Pátria Mãe, voltando a dignificar e honrar o seu nome. Como diz o proverbio popular: «Bom filho a casa torna».
Auto-retrato de Teixeira de Pascoaes. |
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