sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Aljubarrota

Batalha de Aljubarrota representada numa iluminura do séc. XV.

Aljubarrota

I

Vivo perfil da Pátria, na beleza
Da tua austera e cândida expressão,
Vinca-te um jeito amargo de tristeza,
Perturba-te uma estéril comoção…

D'antes, uma alegria andava presa
Ao resplendor da tua perfeição,
E até na hora longa da incerteza
Tinhas a luz do sonho e da ambição!

Via-te o mundo ― sobr'o mundo inteiro...
E a bruma do horizonte se alongava
A inquieta limpidez do teu olhar.

Perfil d`águia num píncaro altaneiro!
― Um rumor de asas fortes perpassava,
De polo a polo, irmão da voz do Mar…

II

Amanheceu a tua eternidade
Na batalha que a história não olvida ―
― Como do fogo surge a majestade
Dum bronze eterno em que se esculpe a vida!

Lágrimas, sangue, dor, gritos, saudade,
― A terra ainda as relembro, comovida!...
Mas rompia mais clara a claridade
Da tua graça heróica ou insofrida!...

― Viessem horas como aquelas horas
Em que o ingénuo sangue nas auroras
de perdida no sangue das acções!

E em que, no beijo que de ti baixava,
O desejo da Pátria exasperava
O puro ardor de nobres corações…

João de Barros

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