Teixeira de Pascoaes. |
Uma voz
O ódio é tétrica nuvem que goteja
Por sobre as almas lágrimas d'amor!
É tempestade que fulmina e que troveja,
Para ficar o céu limpo de toda a dor!...
Eu sou o Ódio que vai transformar corações
Em chamas que libertam...
Os meus rugidos são, às vezes, orações
Que acordam a Justiça e a Verdade despertam!
De mim, às vezes, nasce a cólera sagrada
Que os cérebros exalta e os homens transfigura...
Na minha grande voz que prega e brada,
Há murmúrios de linfa entre a espessura!
Quando vou converter um palácio em ruínas
Perto da margem verde dum caminho,
É pra que nele cresçam flores divinas
E pra que uma ave tenha onde fazer o ninho!
Sou o Ódio tremendo, horrível, o colérico
Esforço incendiário:
E qualquer cousa eu sou de santo e de quimérico,
De triste e solitário...
Quem através de mim, num sonho, caminhar
Encontrará o Amor.
Das almas sou oriundo assim como o luar
E sou filho da Dor!
Teixeira de Pascoaes em Jesus e Pã.
Excelente poema!
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