segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A voz do ódio que transforma

Teixeira de Pascoaes.

Uma voz


O ódio é tétrica nuvem que goteja 
Por sobre as almas lágrimas d'amor! 
É tempestade que fulmina e que troveja, 
Para ficar o céu limpo de toda a dor!... 

Eu sou o Ódio que vai transformar corações 
Em chamas que libertam... 
Os meus rugidos são, às vezes, orações 
Que acordam a Justiça e a Verdade despertam! 

De mim, às vezes, nasce a cólera sagrada 
Que os cérebros exalta e os homens transfigura... 
Na minha grande voz que prega e brada, 
Há murmúrios de linfa entre a espessura!

Quando vou converter um palácio em ruínas 
Perto da margem verde dum caminho, 
É pra que nele cresçam flores divinas 
E pra que uma ave tenha onde fazer o ninho! 

Sou o Ódio tremendo, horrível, o colérico 
Esforço incendiário: 
E qualquer cousa eu sou de santo e de quimérico, 
De triste e solitário... 

Quem através de mim, num sonho, caminhar 
Encontrará o Amor. 
Das almas sou oriundo assim como o luar 
E sou filho da Dor!

Teixeira de Pascoaes em Jesus e Pã.

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