segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Filosofia Oriental estudada a partir de Lisboa

«O Oriente, na diversidade das suas culturas, civilizações e religiões, sempre surgiu para os ocidentais como uma ideia e imagem ambivalentes, ora como objecto de temor, desconfiança e repulsa, sinónimo de um arcaísmo a ultrapassar pelo progresso racional, científico, histórico e social, ora exercendo um fascínio extremo, como sinónimo de uma fonte de sabedoria perdida ou esquecida, que importaria reencontrar para uma reorientação espiritual da própria consciência e para um verdadeiro renascimento da civilização ocidental, assombrada com a perspectiva da sua decadência. 
Associado ao símbolo do sol nascente e da Origem, a demanda do Oriente geográfico e cultural, tão presente na história e na cultura portuguesas, converteu-se também na de um Oriente interior, como essas “Índias espirituais”, “que não vêm nos mapas”, que no dizer de Fernando Pessoa seriam a descoberta que restaria por fazer, após o desvendamento do mundo físico.»
Excerto retirado do texto introdutório do curso Filosofia no Oriente.

Sendo Portugal uma nação que desde há séculos se constituiu herdeira de uma vasta e profunda tradição universalista, fruto não apenas de uma expansão imperialista, mas também de uma missão espiritual superior e transcendente, destinada a preparar o regresso da humanidade à sua idade de ouro e ao paraíso perdido, parece-nos pertinente questionar o porquê de vivermos constantemente de costas voltadas para o que nos é mais estranho e exotérico. Este factor, de certo modo condicionador da nossa missão civilizadora, impede-nos de alcançar um desejável grau de alteridade, capaz de nos permitir agilizar o intelecto, potencializando a nossa percepção de um todo universal constituído pelo que nele encerra de mais distinto e particular. Não deixa por isso de ser curioso que as elites intelectuais portuguesas tenham descurado tanto, ao longo dos tempos, o fomento de centros de estudos orientais, vocacionados para o aprofundamento do conhecimento relativo às culturas autóctones, em detrimento de um pensamento culturalmente centralista e circunscrito, típico das sociedades colonialistas. Até países como a Inglaterra, França ou Holanda, geralmente apontados como terríveis potências colonizadoras, das quais sempre nos procuramos demarcar historicamente, souberam perceber a importância de compreender e estudar as culturas orientais, fundando inúmeros centros de estudo e investigação. Mesmo países com menos tradição no que toca aos contactos permanentes com o Oriente, como é o caso de Itália ou Alemanha, souberam investir nesse sentido, ficando Portugal algo arredado desse investimento cultural, salvo algumas raras e nobres excepções, responsáveis pela manutenção de uma certa chama que nos ilumina o caminho para as Indías Espirituais.
Assim, surge com a maior das pertinências, no âmbito das actividades de formação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) previstas para o ano lectivo de 2011-2012, um Curso de Especialização dedicado ao tema Filosofia no Oriente, com a coordenação científica de Paulo Borges, Carlos João Correia, Carlos H. do C. e Bruno Béu. Direccionado a todos os que pretendam compreender o fenómeno de ressurgimento e popularização do interesse pela cultura oriental, de uma forma séria e coesa, este curso demonstra um esforço revelador de uma vontade de recuperar o tempo perdido.

(Clicar na imagem para mais informações sobre este curso.)

Programa geral do curso

1º Semestre

- Introdução ao Budismo.
Paulo Borges
5ª feira, 17h-19h

- Filosofia Clássica Indiana.
Carlos João Correia
6ª feira 17h-19h

2º Semestre

- Mística Cristã e Gnose Oriental
Paulo Borges (org.), Carlos H. do C. Silva e Bruno Béu
5ª feira, 17h-19h

- Oriente/Ocidente: diálogos e cruzamentos.
Paulo Borges (org.)
6ª feira, 17h-19h

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