terça-feira, 20 de setembro de 2011

735 anos da entronização de Pedro Hispano Portucalense como Papa João XXI

«A luz divina é a claridade do conhecimento divino. A noite divina é incompreensibilidade desse conhecimento, e quando ela se percebe, fica-se a conhecer Deus. Descobre-se essa incompreensibilidade pelo acaso das luzes, isto é, pela superação de todos os sentidos e forças mentais. Consumada essa superação, o próprio conhecimento fica obscurecido, porque progride para a superabundância de um maior conhecimento. A extensão do verbo vocal ou mental fica reduzida à simplicidade do Verbo eterno. Aí, realiza-se também a deificação, isto é, a transmutação do humano no divino. E aquilo que é desconhecido pela indagação da razão e da operação intelectual mais desconhecido se torna pela superabundância da união. De tal modo, porém, que semelhante desconhecimento é a ciência suprema para homem peregrinante.»
Pedro Hispano em Exposição sobre a Teologia Mística.

Pedro Hispano ou Pedro Julião, mais tarde Papa
João XXI.

Celebram-se hoje os 735 anos da entronização de Pedro Hispano como Papa, adoptando o nome de João XXI. Apesar do seu curto pontificado, de apenas oito meses, entre 20 de Setembro de 1276 e 16 de Maio de 1277, data da sua morte, Pedro Hispano deixou uma profunda marca na Igreja e no pensamento ocidental.
Nascido na cidade de Lisboa em meados de 1205, filho do médico Julião Rebelo e Teresa Gil, recebeu no baptismo o nome de Pedro Julião. O seu percurso foi iniciado na sua cidade natal, onde começou a desenvolver os seus estudos na Escola Episcopal da Catedral de Lisboa, antes de partir para França, onde conviveu com S. Tomás de Aquino e S. Boaventura, sendo também aluno de S. Alberto Magno. Aí, desenvolveu os seus conhecimentos em medicina e teologia, tendo tratado com bastante cuidado a questão dialéctica, lógica, física e metafísica, especializando-se no pensamento aristotélico.
A forma como se destacou entre alguns dos maiores mestres do seu tempo levou-o até Siena, em Itália, onde começou a leccionar medicina na universidade local. A sua profícua actividade intelectual materializou-se na importante bibliografia que legou à cultura ocidental e mundial. Entre algumas das suas principais obras podemos encontrar, numa perspectiva mais teológica e filosófica, os seus Comentários ao pseudo-DionísioSummulæ Logicales, ou Scientia libri de anima, bem como, na área da medicina, o Thesaurus Pauperum ou o famoso tratado de medicina oftalmológica De Oculo.
A sua importância nos domínios da medicina levou o Papa Gregório X, que havia já presidido ao Segundo Concílio de Lyon, no qual participou também Pedro Hispano, a requisitar os seus serviços nomeando-o seu médico pessoal, permitindo-lhe aproximar ainda mais do papado. A sua crescente influência acabou por o conduzir ao trono de S. Pedro, tornando-se no 188º Papa, sob o nome de João XXI, eleito em conclave na cidade italiana de Viterbo, durante um período particularmente conturbado e violento no seio da Igreja Católica.
O seu interesse pela mística, a alma e as suas paixões, reflectiu-se tanto na sua vivência espiritual, como a direcção tomada pelo seu pontificado, procurando reaproximar a Igreja Católica da Igreja Ortodoxa, unindo desta forma o Ocidente ao Oriente. Politicamente, esforçou-se para pacificar os reinos cristãos em guerra entre si, bem como libertar a Terra Santa, controlada por forças muçulmanas.
Infelizmente, o seu curto pontificado chegou ao fim, aproximadamente, seis meses após ter começado. Não obstante, para a História ficou a memória e a obra de um mestre pensador, filósofo, clérigo universal e médico de referência. Um homem de mística e metafísica que se tornou também um vulto das ciências e das humanidades.

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