domingo, 9 de janeiro de 2011

Terrorismo ortográfico

Por mais que tentemos combater as trevas que nos abraçam, há que reconhecer a sabedoria de Fernando Pessoa que, na sua obra Mensagem, utilizou a palavra nevoeiro para descrever a nossa época. Efectivamente, vive-se hoje num tempo de desnorte e confusão, onde até as mais belas e puras almas se perdem do seu caminho. Esta neblina permanente permite aos tratantes bandidos e salteadores tomarem as rédeas do caos e desgoverno, precipitando toda uma civilização para um abismo, infinitamente, profundo.
Numa sociedade em que até as Instituições mais primárias falham, de duas coisas todos podemos ter certeza. Muito há que mudar. Muito há para fazer.
Assim, foi com um profundo horror que tomamos conhecimento de mais uma campanha institucional em prol da mutilação e descaracterização da Língua Portuguesa. Em causa estão um conjunto de cartazes, utilizados para promover o programa Escola Electrão, que procura sensibilizar para a necessidade da reciclagem e preservação da natureza e ecossistema. Na sua mensagem, nada de errado, pelo contrário. Aliás, somos os primeiros a defender a necessidade de promover a responsabilidade cívica de todos os cidadãos, nomeadamente, no respeito pelo próximo, pela manutenção do espaço público, da natureza e meio ambiente. Contudo, é a forma como aparecem os títulos nesses cartazes que nos preocupa. 
Numa altura em que os verdadeiros Educadores, paladinos de uma nobre, mas quase utópica e hercúlea causa,  combatem exasperadamente contra o analfabetismo funcional ou iliteracia, trabalhando com os mais variados grupos etários da nossa sociedade, parece-nos completamente contraproducente a utilização de slogans como: Televisaurus Reex, Aquecedoris Loucus, Radius Caladus, Maquinum Arcaicus ou Computadoris Obsoletus. A tentativa de de aproximação destas frases ao latim, dando uma ideia de algo velho e antiquado, parece-nos, à primeira vista, ficar de lado. Lembrando antes a linguagem estapafúrdia  e desmiolada, utilizada na generalidade das comunicações escritas via SMS, chat, entre outras.
É lamentável que o Ministério da Educação pactue com situações desta natureza, particularmente, quando a frase de ordem é salvar a Língua Portuguesa. É caso para questionar, a quem serve esta confusão?

Exemplos de alguns dos cartazes espalhados pelas escolas portuguesas,
promovendo a campanha de reciclagem de electrodomésticos do programa
Escola Electrão, patrocinada pelo Ministério da Educação.

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