Nas vésperas do ano em que se celebrarão os centenários dos livros Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes e O Valor da Raça do António Sardinha, vale a pena debruçarmo-nos sobre a seguinte reflexão acerca da ideia de Pátria - e o amor que lhe devemos -, concretizada por Guerra Junqueiro nas suas Prosas Dispersas:
«A Pátria mais perfeita será a mais local, pelo amor à gleba, e a mais universal, pelo amor ao mundo.
O Meu amor à Pátria começa nas amizades do meu corpo ao ar que respiro, à água que bebo, ao pão que me alimenta, ao fruto que desejo, à flor que me embalsama, à luz que me deslumbra. Depois, vem o amor à minha casa, desde os avós aos netos, dos berços aos sepulcros. Depois, o amor à minha aldeia, - choupanas e cavadores, a igreja de Deus ao centro e o cemitério ao lado. Depois do amor à província, à região, à Pátria toda, - aos mortos, aos vivos e aos vindouros.»
Guerra Junqueiro (1859-1923). |
De Guerra Junqueiro gosto deste seu pensamento particularmente sobre a realidade de nosso país que não é diferente de há 116 anos, porquanto continuamos a ser ainda ...
ResponderEliminar"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e
sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"
Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896.
Em ambos os textos do Guerra Junqueiro encontramos bem patente uma mensagem que hoje, mais do que nunca, se reveste de toda pertinência: Urge despertar Portugal!
EliminarUm abraço bem Português,
N.C.P.